Pages Menu
Categories Menu

Posted | 0 comments

Confutação de algumas heresias da Igreja Católica Romana: a igreja

A doutrina dos teólogos papistas
 

É a sociedade dos verdadeiros Cristãos os quais professam a fé em Cristo, têm os sete sacramentos, submetem-se ao papa, que sendo o sucessor de Pedro é o chefe vísivel dela, e aos bispos que são os sucessores dos apóstolos. A igreja católica romana é a única e verdadeira igreja porque só ela é una, santa, católica e apostólica. As outras igrejas, ainda que tenham nome de igreja, não são verdadeiras igrejas. Fora da igreja católica romana não há salvação. Quem abandona a igreja católica é um herético e apóstata. Eis o que ensina o catecismo de Perardi a respeito da Igreja:

‘A Igreja é a sociedade dos verdadeiros cristãos, isto é, dos batizados que professam a fé e doutrina de Jesus Cristo, participam dos seus Sacramentos e obedecem aos Pastores estabelecidos por Ele’ (Giuseppe Perardi,op. cit., pag. 181).

Vejamos agora qual é o significado destas palavras que encontramos ainda no mesmo catecismo:

‘São cristãos todos os que receberam validamente o Batismo’ (ibid., pag. 181) e que além de serem batizados crêem ‘explicitamente as verdades que se devem crer de necessidade de meio ou por preceito, e ao menos implicitamente todas as verdades reveladas que Jesus Cristo nos propõe por meio da Igreja’ (ibid., pag. 181); confessam ‘explicitamente a fé mesmo pagando com a vida quando é necessário’ (ibid., pag. 181) e vivem ‘em conformidade com os ditames da Fé, praticando as suas obras e observando os Mandamentos de Deus e da Igreja’ (ibid., pag. 181); que ‘participam dos seus Sacramentos, isto é, crêem (e usam) todos os sete Sacramentos que Jesus Cristo instituiu para santificar as nossas almas’ (ibid., pag. 181), e obedecem aos Pastores estabelecidos por Cristo ‘dos quais é chefe o Sumo Pontífice’ (ibid., pag. 182) e os outros ‘são os Bispos, que em comunhão com o Papa regem e governam a Diocese a eles atribuída’ (ibid., pag. 182).

No catecismo se lê:

‘A Igreja de Jesus Cristo é a Igreja Católica Romana, porque só ela é una, santa,católica e apostólica, como Ele a quer’ (ibid., pag. 188).

Ÿ ‘A Igreja é una porque todos os seus membros tiveram, têm e sempre terão única a fé, o sacrifício, os Sacramentos e o chefe visível, o Romano Pontífice, sucessor de são Pedro (…) A nossa Igreja responde a todas estas condições de unidade. Ela tem: 1) Única a fé, a de Jesus Cristo pregada pelos Apóstolos.Nós cremos as mesmas verdades que foram cridas pelos cristãos de todos os lugares e tempos passados (…) 2) Único o sacrifício, a santa Missa, incruenta renovação e representação do sacrifício da Cruz (..) 3) Os sete Sacramentos que Jesus Cristo instituiu para nos santificar, nem um a mais, nem um a menos; 4) O Chefe visível, o Romano Pontífice, sucessor de São Pedro; a nossa Igreja é regida e governada pelo Romano Pontífice..’ (ibid., pag. 189-190).

Ÿ A igreja católica romana é santa porque ‘foi fundada por Jesus Cristo que é santo’ e ‘porque nela é santo a doutrina, o sacrifício e os Sacramentos, e todos são chamados a santificarem-se; e porque muitos realmente foram santos, e são e serão’ (ibid., pag. 192).

Ÿ A igreja romana é católica, isto é, universal, ‘porque está instituída e apta para todos os homens eespalhada sobre toda a terra’ (ibid., pag. 195).

Ÿ A igreja romana é apostólica ‘porque está fundada sobre os Apóstolos e sobre a sua pregação, e governada pelos seus sucessores, os Pastores legítimos, os quais, sem interrupção e sem alteração, continuam a transmitir a doutrina e o poder deles’ (ibid., pag. 196).

Ÿ ‘A Igreja de Jesus Cristo, dita por excelência Católica, chama-se também Romana, ou Romana Católica, exactamente porque o seu chefe visível, aquele que a rege e governa em nome de Jesus Cristo, é o Bispo de Roma, o sucessor de são Pedro na sede romana’ (ibid., pag. 199).

Todos os que não foram batizados em meninos (ou em adultos) no seio da igreja romana, ou que recusam crer tudo ou em parte o que ela ensina, ou que negam algum dos seus sacramentos, ou recusam obedecer ao papa e aos seus bispos, não são verdadeiros cristãos porque não pertencem à Igreja de Jesus Cristo que é a igreja católica romana. Lê-se, com efeito, no catecismo:

‘Qual é a Igreja de Jesus Cristo? A Igreja de Jesus Cristo é a Igreja Católica-Romana’ (ibid., pag. 188); ‘quem não é batizado não é cristão’ (ibid., pag. 450), ‘os heréticos, que negam ou tudo ou em parte o que Jesus Cristo revelou, não pertencem mais à Igreja ainda que tenham sido batizados’ (ibid., pag. 181), ‘os que dizem professar a fé de Jesus Cristo, e depois negam um ou outro Sacramento, não pertencem também eles à Igreja’ (ibid., pag. 181), ‘os que recusam reconhecer e obedecer ao papa e ao respectivo Bispo não são verdadeiros cristãos’ (ibid., pag. 182). ‘Os heréticos são os batizados que se obstinam a não crer alguma verdade revelada por Deus e ensinada pela Igreja, por exemplo, os protestantes (…) Sãoapóstatas os batizados que, com algum acto externo, renegam, repudiam a fé católica já professada. Não é por isso apóstata (ainda que réu de gravíssima culpa) o cristão que descura os deveres dele, mas aquele que com um acto externo (como sacrificar aos ídolos, abjurar a fé católica, praticar um culto anticristão, passar ao protestantismo, etc.) renega a fé antes professada’ (ibid., pag. 221,222) [1].

Bonifácio VIII (1294-1303) afirmou:

‘Há uma só Santa Igreja Católica e Apostólica, fora da qual não existe salvação nem remissão dos pecados’ (Bula Unam Sanctam de 18 de Novembro de 1302).

Segundo este papa, todos os que se encontravam fora da igreja romana iam em perdição porque ela era a arca da salvação e quem estava fora dela seria afogado. O ‘sacrosanto’ concílio de Florença (1439-1443) confirmou isso dizendo que a sacrosanta igreja romana ‘firmemente crê, professa e prega que nenhum daqueles que estão fora da Igreja Católica, não apenas pagãos, mas também judeus ou heréticos e cismáticos, podem adquirir a vida eterna, mas que eles vão para o fogo eterno, preparado para o demónio e seus anjos a menos que antes da morte tenham se unido a ela; e que é tão importante a unidade do corpo da igreja, que apenas para aqueles que permanecem nela aproveitam para a salvação os sacramentos eclesiásticos, os jejuns e as outras obras de piedade, e os exercícios da milícia cristã proporcionam os prémios eternos. Ninguém – por quantas esmolas tenha podido fazer, e até mesmo se tivesse derramado o seu sangue pelo Nome de Cristo – se pode salvar, no caso de não permanecer no seio e na unidade da Igreja católica’ (Concílio de Florença, Sess. XI). Ainda hoje esta asserção é dogma na igreja romana. O seu concílio Vaticano II disse de facto: ‘O santo Concílio (…) apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação: ora, ele torna-se-nos presente no seu corpo que é a Igreja; e, ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do batismo, ao mesmo tempo corroborou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pela porta do batismo. Por conseguinte, não poderão salvar-se aqueles homens que se recusam a entrar ou, a perseverar na Igreja católica, sabendo que Deus a fundou por Jesus Cristo como necessária à salvação’ (Concílio Vaticano II (1962-1965), Lumen gentium, 14: citado no Catecismo da Igreja católica por Rino Fisichella, pag. 173). Em outras palavras fora da igreja católica romana ‘não se têm nem os meios estabelecidos nem a guia segura para a saúde eterna. Os meios estabelecidos por Jesus Cristo são a verdadeira fé, o sacrifício, os Sacramentos etc.; a guia segura é a Igreja docente’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 224), e por isso há a perdição. Ainda o concílio ecuménico Vaticano II confirmou isto dizendo: ‘Só por meio da Igreja católica de Cristo, que é o instrumento geral da salvação, pode-se obter toda a plenitude dos meios de salvação’ (Concílio Vaticano II, Sess. V, cap. I).
Para sustentar que a igreja católica romana é a única Igreja verdadeira os teólogos papistas citam também o facto de os Católicos romanos serem centenas de milhões no mundo, e de entre eles acontecerem milagres.
 

Confutação
 

Quando se passa a ser membro da Igreja de Deus segundo a Escritura
 

Não se passa a ser membro da Igreja de Jesus Cristo quando se é batizado em menino no seio da igreja romana mas quando se nasce de novo, ou seja, quando se nasce da água e do Espírito. E o novo nascimento o pecador o experimenta quando se arrepende dos seus pecados e crê no Senhor Jesus Cristo; é então, e só então, que ele pode considerar-se membro do corpo de Cristo. Portanto são membros da Igreja de Deus todos os que são nascidos de novo conforme o ensinamento do Senhor.
Mas esta Igreja não se pode identificar com uma particular denominação excluindo assim todas as outras porque a Igreja de Deus é composta por todos os que em todo o lugar prescindindo da denominação de que fazem parte experimentaram o novo nascimento. Com isto não queremos dizer que ficando fora da Igreja de Cristo pode-se ser na mesma salvo; de maneira nenhuma, porque nós sabemos que só os nascidos de novo herdarão o reino de Deus, ou seja, os que são membros de Cristo, mas somente que não se pode identificar a Igreja com uma particular denominação cristã (e muito menos com a igreja católica romana que pretende possuir os únicos meios, os sacramentos, através dos quais as pessoas podem ser salvas) excluindo dela os que não fazem parte dessa denominação, porque a sua Igreja é formada por todos os que o conhecem e foram por ele conhecidos e não por pessoas que têm o nome de Cristãos mas que não são regeneradas [2].

Alguém dirá: ‘E o batismo?’. Ele é um acto que representa a nossa entrada na Igreja de Deus após termos fugido da corrupção que está no mundo por via da concupiscência (pode-se também dizer que é um sinal exterior com o qual quem creu testemunha a sua entrada na assembleia dos resgatados depois de ter vivido uma vida ao serviço da iniquidade e do pecado), que é ministrado a pessoas que já passaram da morte para a vida, que já foram arrancadas do poder das trevas e transportadas para o reino de Deus [3].

Tenhamos presente, quando falamos do batismo, que ele antigamente era ministrado no próprio dia em que as pessoas criam, e não após semanas ou meses; e depois que não era uma cerimónia pomposa, como infelizmente tornou-se hoje em muitos casos, de tal modo a parecer um rito mágico ou algo de semelhante, como se possuísse a virtude de transformar em Cristão e membro da Igreja de Deus. Não é assim porque se o batismo tivesse o poder de tornar alguém filho de Deus e por isso membro da Igreja de Deus a fé seria anulada.

 
A Igreja de Deus segundo a Escritura
 

Vejamos agora como é chamada e representada a Igreja de Deus pela Escritura, a fim de compreender e demonstrar porque não se pode identificá-la com a igreja católica romana.

Ÿ Jesus Cristo comparou a Igreja a uma videira; ele disse aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas” (João 15:1-5). Ora, nós nos unimos ao Senhor e nos tornámos um só espírito com ele quando nos arrependemos dos nossos pecados e cremos no seu nome; por isso dizemos de ter entrado a fazer parte da videira, isto é, da casa de Deus. Portanto os que ainda não se arrependeram e não creram no Filho de Deus não são um com nós em Cristo Jesus, não importa de que Igreja eles digam fazer parte, porque não são varas da vinha de Deus. Como se faz então para reconhecer se uma pessoa é uma vara desta videira? Antes de tudo, pelo facto de possuir a certeza de ter obtido a remissão dos pecados (porque se arrependeu e creu em Cristo); e depois pelos frutos dignos de arrependimento que ela dá observando os mandamentos de Cristo. Em outras palavras pelo facto de ela estar em Cristo e de Cristo estar nela. Como se podem pois definir varas da videira os Católicos romanos que dizem de não ter a certeza do perdão dos pecados e que são dados à idolatria e a toda a forma de superstição? A resposta é: não se pode.

Ÿ A Igreja de Jesus Cristo é a assembleia dos que o Senhor resgatou do presente século mau, isto é, dos que ele tirou fora do presente sistema de coisas (o termo português igreja deriva da palavra gregaekklesia que significa ‘assembleia’). E nós, tendo sido tirados fora do presente século, entrámos a fazer parte desta santa assembleia: enquanto todos aqueles que são ainda deste mundo não fazem parte dela, não importa se foram batizados em meninos, crismados ou se comungam regularmente. Eles estão no número daqueles que a Escritura chama “os de fora” (Col. 4:5) e não entre aqueles que a Escritura define “os de dentro” (1 Cor. 5:12). Mas por que podemos afirmar que os Católicos romanos estão fora da Igreja de Deus e não dentro, e portanto são do mundo e não de Cristo? Porque eles mesmos, com a sua própria boca, afirmam não terem sido salvos. Não se pode de facto definir uma pessoa perdida um membro da ekklesia de Deus; porque as ovelhas perdidas estão fora do aprisco e não dentro.Reiteramos porém que também não se podem definir membros da Igreja de Deus todos os que se dizem Evangélicos ou Protestantes mas que ainda não nasceram de novo. Eles estão perdidos e fora da Igreja na mesma medida dos Católicos romanos.

Ÿ A Igreja é uma casa espiritual formada por pedras vivas, isto é, por homens e mulheres que estavam um dia mortos nos seus pecados e depois foram vivificados pelo Espírito Santo; e nós pela graça de Deus somos parte dessas pedras vivas. Isto é o que ensina Paulo quando diz aos Efésios: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados… Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef. 2:1,19-22). O apóstolo Pedro o confirma na sua primeira epístola, de facto, primeiro diz aos eleitos: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre…desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite espiritual, não falsificado…” (1 Ped. 1:23; 2:2), e depois afirma: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual…” (1 Ped. 2:5). Portanto a Igreja não pode ser identificada com uma organização de pessoas ainda mortas nos seus pecados que correm atrás de ídolos mudos, e que infelizmente, tendo sido enganadas pelos seus reitores, pensam ter renascido e ter entrado a fazer parte da Igreja de Jesus Cristo quando lhes foi derramada sobre a cabeça a água ‘benta’. Onde está a vida neles? Nós vemos apenas morte. A morte espiritual na qual também nós estávamos imersos no passado quando éramos escravos do pecado. Nós sabemos bem o que significa estar morto nas próprias ofensas; por isso nos exprimimos com segurança quando dizemos que os Católicos romanos estão ainda mortos nas suas ofensas. Não é um juízo injusto dado pela aparência, mas um juízo que se funda sobre factos.

Ÿ A Igreja de Deus é o corpo de Cristo porque Paulo, escrevendo à Igreja de Deus que estava em Corinto, diz-lhes: “Ora vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (1 Cor. 12:27). E como as pessoas entram a fazer parte dele por obra do Espírito Santo conforme está escrito: “Todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1 Cor. 12:13), porque é Ele que primeiro as convence quanto ao pecado, à justiça e ao juízo e depois as vivifica, não se podem chamar membros do corpo de Cristo pessoas que ainda não foram vivificadas pelo Espírito Santo. Por certo se os Católicos romanos tivessem sido vivificados e fossem por isso membros do corpo de Cristo, não necessitariam de nascer de novo e não perseguiriam e não insultariam todos os que no seu meio se arrependem e crêem no Evangelho e se separam deles e começam a reprovar as suas heresias e a sua idolatria, porque nós sabemos que Cristo não está dividido contra si mesmo. Antes, eles se ateriam à cabeça do corpo, ou seja, a Cristo, como nós; mas onde está tudo isto quando é manifesto que eles se atêm ao chamado papa em vez de a Cristo? Paulo diz também falando do corpo de Cristo que “se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Cor. 12:26); mas nós não verificamos que se algum de nós sofre eles sofrem com nós, e nem que se algum de nós é honrado por Deus ou pelos homens eles se regozijam com nós, o que confirma que não podem definir-se membros do corpo de Cristo. Estas são as provas que demonstram que eles não são membros do corpo de Cristo, mas ainda têm que o tornar-se.

Ÿ A Igreja, segundo as palavras de Pedro, é “uma geração eleita” (1 Ped. 2:9), ou seja, um conjunto de pessoas que foram eleitas para salvação pela fé na verdade. Portanto os que são membros dela estão seguros de estar salvos porque experimentaram a salvação de Deus. Não se podem por isso definir Igreja de Deus homens e mulheres que admitem abertamente de não terem sido salvos e de serem ainda pecadores, ou que é manifesto que são ainda pecadores escravos das concupiscências carnais e de toda a forma de idolatria e superstição. A não ser que se queira começar a chamar os que ainda estão perdidos, achados; os que ainda são escravos do pecado, salvos; ou os que são da noite, filhos do dia.

Ÿ A Igreja, ainda segundo as palavras de Pedro, é “um sacerdócio real” (1 Ped. 2:9), ou seja um reino de sacerdotes que oferecem a Deus sacrifícios espirituais aceitáveis por meio de Jesus Cristo. Por isso não se podem definir Igreja de Deus os Católicos romanos que oferecem o seu culto a Maria, aos anjos, ou aos santos (seja aos verdadeiros como aos falsos) que estão mortos, porque este seu sacrifício não é aceitável a Deus mas lhe é abominável. Dizemos que os sacrifícios espirituais que os Católicos oferecem às suas estátuas e às suas imagens são um fedor para as narinas de Deus, porque são oferecidos aos demónios que se escondem atrás destes seus ídolos. Lembrai-vos que Paulo diz que as coisas que os Gentios sacrificam aos ídolos eles “as sacrificam aos demónios, e não a Deus” (1 Cor. 10:20); a mesma coisa pode-se dizer de todos os Católicos romanos que oferecem os seus sacrifícios espirituais aos seus ídolos; eles os oferecem aos demónios e não a Deus.

Ÿ A Igreja, segundo as palavras de Pedro, é “uma nação santa” (1 Ped. 2:9), ou seja, uma nação que foi santificada pelo Espírito Santo e que segue a santificação. Portanto como os pecadores escravos das suas concupiscências e da idolatria não podem ser definidos santos, os Católicos romanos não são membros da Igreja, mesmo se receberam o batismo, o crisma e depois a comunhão e se confessam ao padre.

Ÿ Paulo chama a Igreja do Deus vivo “coluna e base da verdade” (1 Tim. 3:15), o que significa que ela serve de sustentação à verdade que está em Cristo, isto é, à Palavra de Deus conforme está escrito: “A tua palavra é a verdade” (João 17:17); e que ela se levanta em favor da verdade. Como se pode portanto chamar a igreja romana a Igreja de Deus quando em vez de sustentar a verdade, a Palavra de Deus, a espezinha e a sufoca com a injustiça? Ela não prega o Evangelho da graça de Deus mas um outro Evangelho porque anuncia que o homem é salvo pelas boas obras, ou seja pelos seus méritos, e não pela fé somente. Por isso não se pode definir esta igreja “coluna e base da verdade”, mas a se deve chamar inimiga acérrima da verdade.

 
As duas ordenanças instituídas por Cristo para a sua Igreja
 

Cristo não instituiu sete sacramentos mas apenas duas ordenanças ou ritos, que são o batismo por imersão e a ceia do Senhor; por isso não tem nenhum fundamento escritural a afirmação que atribui a Cristo a instituição de sete sacramentos. Por conseguinte os que negam os sacramentos da igreja romana porque não conformes a verdade e porque reconhecem apenas as duas ordenanças aqui supracitadas não podem ser definidos heréticos porque não são propagadores de nenhuma heresia. Fazemos notar que a razão pela qual preferimos chamar o batismo e a ceia do Senhor ordenanças ou ritos em vez de sacramentos é porque por sacramentos a igreja romana entende ‘sinais eficazes da graça, instituídos por Jesus Cristo para santificar-nos’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 430), são sinais eficazes porque ‘significando a graça realmente a conferem’ (ibid., pag. 430). E segundo a Escritura o batismo e a ceia do Senhor que Cristo instituiu não conferem a graça que eles representam, mas apenas a representam, de facto, o batismo simboliza a lavagem feita por Cristo em nós pela sua palavra, enquanto a ceia do Senhor anuncia a morte de Cristo acontecida uma vez para sempre.

Uma outra razão pela qual preferimos chamar o batismo e a ceia do Senhor ordenanças (ou também ritos) é porque a palavra sacramento no latim clássico significa juramento e no tempo do império romano era o juramento de fidelidade (sacramentum) que os soldados romanos faziam ao seu estandarte. E nós sabemos que o batismo e a ceia do Senhor não constituem de modo nenhum um juramento de fidelidade a Deus que nos salvou, mas simplesmente actos simbólicos. O primeiro é o sepultamento do crente morto para o mundo e renascido para nova vida, e o segundo é uma rememoração da morte do Senhor.

 
Quem está à cabeça da Igreja
 

O chefe do Estado do Vaticano não é o chefe visível da Igreja de Cristo na terra porque Cristo não constituiu na sua Igreja nenhum chefe antes de ser elevado ao céu. Ele, que é o Chefe, disse: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mat. 18:20), por isso o chefe da Igreja está sempre presente entre os seus discípulos onde eles estiverem, sem a necessidade de ser representado visivelmente por ninguém. O apóstolo Paulo explica claramente e de várias maneiras que a cabeça (o chefe) da Igreja, tanto no céu como na terra, é Cristo Jesus:

Ÿ Ele diz aos Efésios que Deus ressuscitou o seu Filho e o fez assentar à sua direita acima de todo o principado e autoridade e potestade e domínio, e de todo o nome que se nomeia não só neste mundo, mas também naquele que há de vir e que Ele “sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef. 1:22,23); e também: “Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef. 4:15), e: “Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo” (Ef. 5:23). Portanto, como a cabeça da mulher é uma só, o seu marido, assim também a cabeça da Igreja (que é a mulher do Cordeiro) é uma só, Cristo, o seu esposo, e nenhum outro. Ora, um dos nomes que leva o chefe do Estado do Vaticano é ‘esposo da igreja’, o que equivale a dizer que a mulher do Cordeiro tem dois maridos (um no céu e outro na terra) o que não é verdade porque Paulo diz à Igreja de Corinto: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2 Cor. 11:2). Portanto aquele que na terra é chamado esposo da Igreja é um impostor que procura com as suas lisonjas tornar-se o esposo da Igreja de Deus (mediante o ecumenismo) para conduzir a esposa de Cristo para longe do seu esposo, em perdição. Dito em outras palavras, o chamado papa procura induzir a Igreja de Deus a trair o seu esposo, Cristo Jesus, porque quer que ela se vá refugiar debaixo das suas asas.

Ÿ Aos Colossenses Paulo diz: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Col. 1:17,18). Por isso a Igreja de Deus não tem duas cabeças, das quais uma está no céu e outra está na terra; ou uma invisível e outra visível, mas uma só e Ela está no céu à direita de Deus, e pela fé no coração de todos aqueles que o receberam como seu pessoal Senhor e Salvador.

Por quanto respeita depois aos bispos da igreja papista importa dizer que eles não são bispos constituídos pelo Espírito Santo para apascentar a Igreja de Deus porque não têm os requesitos necessários que deve ter o bispo segundo as palavras de Paulo a Timóteo, e não podem ser definidos os sucessores dos apóstolos porque os apóstolos não deixaram sucessores. O ministério que os apóstolos tinham recebido de Cristo não era transmissível.

Portanto em conclusão nós filhos de Deus desconhecendo o ofício do papa e o dos seus bispos não demonstramos nenhuma desobediência ao Senhor, antes consideramos firmemente que rejeitando-os nos mostramos obedientes ao Evangelho. Mas não só, consideramos também que todos aqueles que querem agradar ao Senhor e obedecer-lhe devem mais cedo ou mais tarde rejeitar o papa e os seus bispos.

 
Por que a igreja católica romana não é una, santa, católica e apostólica
 

Ÿ Unidade. A Igreja de Deus antiga tinha a fé em Cristo Jesus pregada pelos apóstolos. Mas esta fé a igreja católica romana não a possui porque ela põe a sua confiança em Maria e em outros presumidos intercessores que não podem fazer absolutamente nada em seu favor, e nos próprios méritos em vez de nos méritos de Jesus Cristo. E de facto ela não anuncia a fé em Cristo como caminho de salvação porque está ocupada a pregar que a salvação se obtém pelas obras e não pela fé. Este é um outro Evangelho e não o Evangelho pregado pelos apóstolos. E não se pode dizer nem ainda que a igreja católica romana crê em todas as coisas em que cria a Igreja primitiva porque esta última não cria no purgatório, nas indulgências, na imaculada conceição de Maria, na transubstanciação, na repetição incruenta do sacrifício de Cristo, no culto das imagens, na intercessão dos santos no céu, nos sete sacramentos que ela possui, no primado de Pedro primeiro e depois no do bispo de Roma como seu sucessor, e em muitas outras doutrinas suas; portanto não é verdade que os Católicos romanos crêem as mesmas coisas que foram cridas pelos primeiros Cristãos. Com efeito, todas estas doutrinas eram estranhas ao ‘credo’ dos primeiros Cristãos. Basta ler os Actos dos apóstolos e as epístolas dos apóstolos para dar conta disto. E depois não se pode dizer também que a própria igreja católica romana tenha sempre crido as mesmas coisas porque como veremos a seguir os próprios papas se contradisseram entre eles no curso do tempo; houveram cismas durante os quais existiam dois ou por vezes três papas e cada um tinha a sua parte de seguidores; e os chamados pais e os concílios se contradisseram também eles no curso dos séculos. Aqui me limito a recordar aos leitores algumas controvérsias verificadas no âmbito na igreja católica romana. Os Dominicanos combatiam a imaculada conceição de Maria enquanto os Franciscanos a defendiam e por causa disto nasceram entre eles ásperas e longas guerras. Os Jesuítas (seguidores de Inácio de Loyola, 1491 ca. -1556) e os Jansenistas (seguidores de Cornélio Jansen, 1585-1638) se desencontraram sobre muitas questões de fé e de moral, como também os Tomistas (seguidores de Tomás de Aquino, 1225-1274) e os Scotistas (seguidores de Duns Scoto, 1263-66 ca. -1308) sobre o efeito dos sacramentos. Na verdade estudando a história da igreja católica romana dá-se conta de quão dividida tenha sido no passado. E não é que as coisas tenham mudado na substância, porque também hoje entre os Católicos romanos estão em curso controvérsias sobre a infalibilidade papal, sobre o celibato, sobre o controle dos nascimentos, sobre o limbo, sobre o batismo de crianças, e sobre outros pontos doutrinais; alguns dizem uma coisa outros uma outra. Por isso não é sequer verdade que também hoje todos os Católicos crêem as mesmas coisas. E depois nos vêm falar de unidade a nós! Que dizer então da unidade exterior de que faz alarde a igreja católica romana (na maioria dos seus membros)? Dizemos que ela é uma unidade que se pode encontrar também nas Testemunhas de Jeová, nos Mórmons, e em muitas outras pseudo-igrejas. Também eles se gloriam de ser unidos, de crer as mesmas coisas, de agir da mesma maneira. Mas que significa isso? que são a verdadeira Igreja de Deus só porque manifestam entre eles uma união aparente em perseguir os seus objectivos? De maneira nenhuma. Mesmo estando unido pode-se errar; mesmo estando unido em alguma crença ou prática pode-se ir em perdição. Ao ver esta unidade entre os Católicos é como se nós víssemos uma manada de bodes que todos unidos se encaminham para um precipício. E isto porque são unidos em crer as mesmas mentiras e em fazer as mesmas obras meritórias que não os podem salvar da ira vindoura. Portanto, para resumir, a igreja católica romana mente quando afirma ser só ela a Igreja de Cristo por causa desta chamada unidade passada e presente. E nós entristecemo-nos muito em ver os seus membros crer nesta mentira. A verdadeira unidade é a que brota da unidade com Cristo Jesus; em outras palavras a verdadeira Igreja está unida no seu interior porque os seus membros estão unidos a Cristo Jesus pela fé. Podem variar certas formas exteriores entre as diversas Igrejas, por vezes também variam certas doutrinas não fundamentais, mas isso não significa que não sejam um em Cristo Jesus; porque os verdadeiros crentes se sentem ligados uns aos outros pelo amor de Cristo prescindindo da denominação a que dizem pertencer.

Ÿ Santidade. Antes de tudo é falso que Jesus Cristo tenha fundado a igreja católica romana; com isto queremos dizer que Jesus Cristo fundou sim a sua Igreja universal, mas ela não é de modo algum a igreja católica romana porque Jesus fundou a sua Igreja sobre si mesmo e por isso sobre a verdade e não sobre a mentira como antes está fundada a igreja católica romana. Sim, a antiga Igreja de Roma, aquela a que Paulo escreveu a sua carta, tinha sido verdadeiramente fundada por Cristo, mas de mansinho aquela Igreja desapareceu e o seu lugar o tomou uma igreja apóstata que tirou o fundamento que era Cristo Jesus e pôs o seu bispo e desejosa de poder se pôs a senhorear com a sua arrogância as outras igrejas e quis estender o seu poder de jurisdição a todo o mundo; desta a igreja católica romana herdou a arrogância, a falsidade, as heresias; esta é uma igreja que não se assemelha em nada à antiga Igreja de Roma. Aquela era louvada pela sua fé, esta é louvada pelas suas riquezas materiais; aquela era rica em conhecimento esta perece por falta de conhecimento; aquela era repleta de bondade, esta é impiedosa. Prossigamos a nossa confutação: é falso que a igreja católica romana é santa porque não é santo nem a sua doutrina, nem a sua missa e nem tampouco os seus sacramentos, e depois porque os seus membros não são chamados a santificarem-se mas a corromperem-se após os ídolos mudos e após todo o tipo de superstição. Mas como se faz para definir santa a doutrina que encoraja a mentir? Ou a que diz que é lícito matar em legítima defesa? Ou a que afirma que fumar não é pecado? Ou a que afirma que o papa em alguns casos tem o poder de dissolver os matrimónios e fazer passar a novas núpcias um dos dois cônjuges enquanto o outro é vivo? Ou a que impõe o celibato aos padres? Ou a que permite o culto a Maria, aos anjos, aos santos que estão no céu? Ou a da missa? Ou a veneração das relíquias? E não é nem santificante como antes afirma o catecismo da igreja romana: ‘Todas as actividades da Igreja convergem, como seu fim, para a santificação dos homens..’ (Rino Fisichella, O Catecismo da Igreja Católica, pag. 169), porque os seus sacramentos, os meios de salvação de que ela diz estar em posse, não têm o poder de conferir nenhuma graça santificante a quem os recebe, e porque não é a Igreja que santifica mas Deus conforme está escrito: “E o próprio Deus da paz vos santifique completamente…” (1 Tess. 5:23). Por quanto respeita depois ao facto de a igreja católica romana afirmar ser santa porque ‘muitos realmente foram santos, e são e serão’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 192); importa dizer que esta é a santidade excepcional que eles atribuem aos que se distinguiram pelas obras meritórias particulares. Eles recordam entre estes, ‘João Bosco, José Cafasso, José Cottolengo’ [4] e muitos outros [5]. Mas entre os santos da igreja católica romana não há só pessoas que se distinguiram pelas suas obras de beneficência, mas também pelas suas iníquas obras, como por exemplo Dámaso, Pio V, e muitos outros. Portanto entre os santos declarados tais pelos Católicos estão homens cujas vestes estavam imundas; os que ignorando a justiça de Deus que se tem pela fé em Cristo procuraram estabelecer a sua justiça que aos olhos de Deus é um trapo imundo, e os que se abandonaram de maneira evidente a toda sorte de iniquidades, vestidos também eles de trajes sujos porque as iniquidades na Escritura são representadas por trajes sujos. A Escritura afirma que a Igreja de Cristo é santa conforme está escrito que Jesus a amou e “a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Ef. 5:25,26), e que todos os que fazem parte dela já são santos na terra (isto mesmo se nem todos se santificam na mesma medida) porque todos – sem distinção de tipo – “foram santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo” (Heb. 10:10), e por isso não existe uma categoria de santos normais e uma de santos excepcionais. Entre os santos há os que se santificam mais e os que se santificam menos.

Ÿ Catolicidade. A igreja romana não foi instituída para todos os homens e não está apta aos homens porque, ao contrário do que os teólogos dizem, ela não serve para fazer tornar-se santo ninguém. Como pode ser definida útil para fazer os homens tornarem-se santos uma igreja que desvia as pessoas de se voltarem para Cristo para obterem gratuitamente a salvação dele e serem por ele santificadas, e as induz a confiar nas suas obras para a sua salvação? Não é porventura antes verdade que a igreja católica romana com as suas perversas doutrinas ajuda os homens a permanecer pecadores? Um Muçulmano torna-se Católico? Permanece pecador. Um Budista torna-se Católico romano? Que muda? O nome da religião apenas, porque pecador era antes de se tornar Católico e pecador permanece também depois. Mudam as doutrinas, mas o ex-Muçulmano ou o ex-Budista continua a permanecer perdido, porque o Islão, o Budismo e o Catolicismo são religiões que se baseiam nos méritos humanos que não podem libertar o homem do pecado; mudam os actos de culto, mas não muda o coração porque o coração só Cristo Jesus o pode transformar pelo Evangelho da graça. Precisamente o que a igreja católica romana se recusa a anunciar aos homens. Por quanto respeita à sua pretensa catolicidade reconhecemos que a igreja romana está espalhada sobre a face da terra e que dela fazem parte pessoas de muitas nações, mas não a reconhecemos como a Igreja universal estabelecida por Deus porque não é a Igreja de Deus espalhada sobre a face da terra, mas apenas uma grande organização religiosa que embora diga ser cristã não prega o Evangelho da graça de Deus mas um seu próprio Evangelho fundado nos méritos do homem em vez de na graça de Deus, que de modo algum constitui uma boa notícia. Pode porventura ser chamada boa nova a que diz que quem quer ser salvo tem que receber os sacramentos; o batismo uma só vez, o crisma também, a comunhão o maior número de vezes possível, a penitência ao menos uma vez por ano; e além disso tem que fazer, fazer, fazer o maior número de boas obras possíveis para ganhar a salvação eterna. E ainda por cima depois de ter feito todas estas coisas ele não pode estar seguro de estar salvo e de ir logo para o céu à sua morte – porque se o dissesse pecaria de presunção – porque ele tem que ir para o purgatório expiar os seus pecados? Não, não pode ser definida boa mas má notícia esta da igreja católica romana, porque na substância anulou a graça de Deus fazendo vã a fé. A Igreja de Cristo é verdadeiramente católica, isto é, universal, porque dela fazem parte pessoas de toda a tribo, povo, língua e nação (cfr. Ap. 5:9); que no lugar da terra onde habitam rendem a Deus um culto em espírito e verdade mediante Cristo Jesus. No seu coração está Cristo, nos seus lábios abundam as acções de graças dirigidas a Deus por os ter feito idóneos para participar da herança dos santos na luz. Deus conhece o número deles; nós não. Certo é porém que eles são reconhecíveis pela certeza de estarem salvos que possuem e pelos seus frutos de justiça que dão. Esta é a Igreja que é útil aos homens porque anuncia ao mundo a palavra da fé que diz que se o homem confessar com a sua boca Jesus como Senhor e crer com o coração que Deus o ressuscitou será salvo (cfr. Rom. 10:8-13). Esta é a boa nova da graça de Deus; porque afirma que para ser salvo é preciso somente crer; esta mensagem é útil aos homens porque dá certeza de salvação eterna a quem a aceita com todo o coração.
Ÿ Apostolicidade. É falso que a igreja romana seja apostólica porque ela não se atém aos ensinamentos que os apóstolos deram pelo Espírito Santo. Ela se atém a muitos preceitos que viram literalmente as costas à verdade que está em Cristo Jesus; esses ensina, não os dos apóstolos. Os apóstolos ensinavam que se é salvo somente pela fé e eles dizem que a fé não basta; os apóstolos ensinavam que há só um mediador entre Deus e os homens, enquanto eles ensinam que além de Cristo há muitos outros mediadores dentre os quais ressalta Maria; os apóstolos ensinavam que depois desta vida há somente o inferno e o paraíso, enquanto eles lhe acrescentaram o purgatório; os apóstolos precaviam dos ídolos e eles, ao contrário, ensinam a servir as estátuas e as imagens; os apóstolos exortavam a não mentir e eles, ao contrário, dizem que em alguns casos se pode mentir; eis alguns pontos em que a doutrina católica romana é a oposta da apostólica. E além disso ela também não é governada pelos sucessores dos apóstolos, mas apenas por homens mortos nas suas ofensas que se fazem passar pelos legítimos sucessores dos apóstolos. Os apóstolos não puderam deixar sucessores porque o ofício que eles tinham recebido de Deus não era transmissível a outros. Eles transmitiram o seu ensinamento e não o seu ministério. Mas quando alguma vez na Escritura o ministério apostólico era transmitido por quem o possuia a um seu sucessor? O ministério apostólico, como também qualquer outro ministério, não se recebia por sucessão mas por decreto de Deus em virtude de uma vocação celestial. Por isso se deve excluir que os apóstolos tenham transmitido o seu ministério a seus sucessores. A verdadeira Igreja de Cristo é sim apostólica porque os seus membros foram “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra angular” (Ef. 2:20); onde por fundamento dos apóstolos deve-se entender o ensinamento dos apóstolos. Portanto toda a igreja que se atém firmemente à doutrina dos santos apóstolos é uma Igreja de Cristo, enquanto toda a igreja que rejeita o seu ensinamento não é apostólica.

Ÿ Romanidade. A Igreja de Jesus Cristo é sim una, é sim santa, é sim apostólica, e católica, mas não é de maneira nenhuma Romana porque o seu chefe e aquele que a governa não é o chefe do Estado do Vaticano que reside em Roma, mas Cristo Jesus que está à direita do Pai nas alturas. Ele antes de deixar este mundo e voltar ao Pai não deixou nenhum chefe visível à sua Igreja. Por quanto respeita a esta pseudo-igreja ela possui o título de romana porque aquele que a governa reside em Roma onde ela diz que o apóstolo Pedro exerceu o seu papado e o tenha transmitido aos seus sucessores em Roma; mas isto do papado de Pedro em Roma e da transmissão do relativo primado petrino é uma fábula artificiosamente composta; algo desmentido pelas Escrituras e pela história. Portanto se o título de Romana se pode aduzir para esta organização apenas porque aquele que a comanda está em Roma, certamente não se pode aplicar à Igreja de Jesus Cristo espalhada sobre a face da terra porque o seu Chefe está no céu e não em Roma.

Concluindo, esta organização não pode ser definida sequer cristã mas deve ser definida anticristã, porque em palavras diz ater-se ao cabeça que é Cristo, mas nos factos renega o seu ensinamento e o anula de muitíssimas maneiras, impedindo às pessoas de crer no Evangelho para obterem a remissão dos seus pecados.
Sabemos bem que o concílio Vaticano decretou: ‘Se alguém disser, que a verdadeira Igreja de Cristo, fora da qual ninguém pode salvar-se, não seja a de Roma, que é una, santa, católica e apostólica, seja anátema’ (Concílio Vaticano I, De Eccl. Christi, can. 13; citado por Luigi Desanctis em Compendio di controversie tra la parola di Dio e la teologia romana, ott. ediz. Firenze 1925, pag. 31); mas a nós não nos importa nada este seu enésimo anátema porque ele não é verdade mas mentira.

 
As acusações nos dirigidas confutadas
 

Demonstrámos que a igreja católica romana mente quando afirma ser a única Igreja de Cristo porque só ela é una, santa, católica e apostólica. Vejamos agora de que maneira o catecismo romano fala das igrejas que não estão sob a jurisdição do seu papa: ‘A única Igreja Católica-Romana é a Igreja de Jesus Cristo; as outras, ainda que se digam cristãs, não são e não podem ser a Igreja de Jesus Cristo. Efectivamente nenhuma delas tem nem pode ter as singulares qualidades distintivas da Igreja de Jesus Cristo; nenhuma delas é una, santa, católica e apostólica’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 209).
 
Nos detalhes as acusações são estas.

Ÿ Unidade. Nos é dito que nós não possuímos a unidade porque somos centenas de seitas e cada um crê o que bem lhe parece, porque não temos a missa e nem outro sacrifício, porque há quem entre nós admite dois sacramentos, quem três, quem cinco, quem nenhum, e porque não somos governados pelo sucessor de Pedro. Respondemos. Antes de tudo queremos dizer que embora as Igrejas evangélicas tenham nomes diferentes, e sejam em grande número, todos aqueles seus membros que são verdadeiramente nascidos de novo formam um único corpo, porque creram no mesmo Senhor, e têm o mesmo Pai. Foram batizados do mesmo batismo, e têm a mesma esperança. Temos a precisar porém que nós não reconhecemos nem o batismo dos infantes e nem o por infusão administrado por algumas igrejas porque não conforme à Escritura. É verdade que entre as Igrejas evangélicas nem todos aceitam todas as doutrinas bíblicas; porque as divergências doutrinais existem, nós isto não o desconhecemos, mas também reconhecemos que todos pregam a doutrina da justificação só pela fé, que é a doutrina que permite aos homens nascer de novo e entrar no reino de Deus e a maior parte ensina e pratica o batismo na água. Mas uma outra coisa totalmente diferente é quando se fala da igreja católica romana; ela de facto com a sua tradição anulou a doutrina cardinal do Evangelho. Por isso a nossa profunda dissensão com ela. Por quanto respeita aos sacramentos (que alguns chamam ordenanças como nós); há quem tenha dois, quem três, quem nenhum (como infelizmente o Exército da salvação); isso é verdade. Mas apesar disso nós com estes nossos irmãos que reconhecem três ordenanças porque acrescentam o lava pés, ou com os que infelizmente não têm o batismo e a ceia do Senhor nos sentimos igualmente ligados pela fé em Cristo. Reprovamos porém firmemente o facto de o Exército da salvação ter tirado o batismo e a ceia do Senhor; não estamos nada de acordo com isso, mas também sabemos que entre eles há muitos irmãos, nascidos verdadeiramente da água e do Espírito. Não temos a missa porque Cristo não a instituiu; ela é um acto profano. Oferecemos a Deus porém outros sacrifícios; o de louvor, as obras de beneficência, as acções de graças. Não somos governados pelo sucessor de Pedro e nem pelos sucessores dos apóstolos; eis uma outra acusação. Mas o apóstolo Pedro e os apóstolos com ele não deixaram sucessores. As igrejas locais são governadas por pastores que são assistidos pelos anciãos ou em alguns casos só por um colégio de anciãos. Há depois muitas igrejas que se uniram para formar uma denominação em que infelizmente encontramos uma forma hierárquica, que se assemelha à papal. Mas nós não estamos de acordo com este tipo de organização porque não tem fundamento na Escritura.

Ÿ Santidade. As acusações são estas. Não a possuímos porque fomos fundados por homens rebeldes, não temos os meios para santificar os homens porque renegamos a maior parte dos sacramentos e a missa, e os que conservamos não são senão cerimónias. A nossa doutrina não é santa porque se funda na negação do livre arbítrio, da necessidade das boas obras, e na suficiência da fé para salvar. Respondemos. Não é verdade que fomos fundados por Lutero e Calvino; eles foram homens de quem Deus se usou para operar uma reforma, apenas isso. Por quanto respeita à sua conduta dizemos que pelo que nos é dado a conhecer não foram irrepreensíveis; pelas suas culpas deverão prestar contas a Deus. Mas é também verdade que a cúria romana lançou toda a sorte de calúnias contra estes dois homens de tão ofendida que ficou pelo facto de eles terem despertado nos homens o amor pela Escritura. Nós consideramos ter sido edificados sobre o fundamento que é Cristo Jesus, e por ele mesmo. Não temos os meios para santificar os homens. Se por meios se entendem os sete sacramentos romanos, é verdade que nós não os temos, mas porque não são escriturais. Eles não santificam absolutamente ninguém. Mas temos connosco Cristo que é “o que santifica” (Heb. 2:11), ele é o meio por meio do qual os homens são santificados; por meio dele se obtém a graça, por meio da fé nele se é santificado. Que necessidade há pois dos sete sacramentos romanos? Nenhuma. Quanto às ordenanças que possuímos é verdade que elas não conferem a graça mas as celebramos com a máxima seriedade e devoção, assim como foram instituídas por Cristo. Não é verdade que negamos o livre arbítrio, porque ensinamos que o homem possui uma vontade pessoal, porém esta sua vontade permanece sempre sujeita a Deus. O homem nasce corrompido, totalmente corrompido, incapaz de escolher o caminho da salvação. Quando o homem decide invocar o Senhor para a sua salvação, o faz em virtude do decreto que Deus formou em si mesmo antes da fundação do mundo. O homem porém ignora isto quando toma esta decisão; o descobrirá porém depois. Falaremos da predestinação, Deus querendo, em outra ocasião. Negamos a necessidade das boas obras para a salvação; é verdade, porque se é salvo somente pela fé em Cristo; a Escritura ensina repetidamente isto. Não negamos porém a necessidade de produzir frutos do arrependimento (as boas obras) depois de ter sido salvos, para fazer firme a nossa eleição para salvação. As boas obras devem ser praticadas pelos resgatados.

Ÿ Catolicidade. Não a possuímos porque existimos só há cerca de quatrocentos e cinquenta anos.Respondemos. Não é de modo nenhum verdade, porque as nossas origens remontam a mais de mil e novecentos anos atrás. Mais precisamente remontam ao dia em que a primeira pessoa creu que Jesus era o Cristo; aquele foi o primeiro crente em Cristo, o nosso primeiro irmão.

Ÿ Apostolicidade. Nós não a possuímos porque não estamos fundados sobre os apóstolos nem sobre a sua pregação, mas sobre a doutrina de Lutero, Calvino e outros que eram rebeldes à doutrina dos apóstolos. Respondemos. Falso, nós somos apostólicos, porque a nossa pregação está em harmonia com a dos apóstolos. Lutero e Calvino se rebelaram antes à doutrina dos falsos apóstolos, isto é, da cúria romana; por isso foram rotulados rebeldes. Eles ensinaram a justificação só pela fé em oposição à doutrina da salvação pelas obras pregada pela cúria romana, e nisto proclamaram o que é justo.

 
A salvação não está numa igreja mas está em Cristo Jesus
 

A Escritura diz que a salvação está em Cristo Jesus, no seu nome, e não numa religião ou numa organização porque Pedro disse: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Actos 4:12). Certo, a Igreja de Deus (e aqui não nos referimos a nenhuma denominação ou organização particular, mas ao conjunto dos resgatados do Senhor) proclama aos homens a salvação que está em Cristo Jesus; no meio dela está o Salvador, mas isto não significa que seja ela a salvar os homens, porque a salvação pertence a Deus e ao seu Filho. Queremos dizer com isto que a Igreja de Deus possui o nome d`Aquele que é poderoso para salvar os homens e o anuncia mas não o poder de conferir a graça a ninguém, porque esta a confere somente Deus em Cristo Jesus a quem crê. A igreja católica romana, pelo contrário, afirma mais ou menos explicitamente que fora dela não há salvação, porque segundo a sua doutrina a graça justificante e santificante se obtém pelos seus sacramentos administrados por ela. Desta maneira é ela que faz os homens tornarem-se Cristãos com o batismo, é ela que os confirma, e é ainda ela que mediante os sacerdotes absolve os homens dos seus pecados, e os sustenta com o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, e por fim lhes dá a extrema unção para ajudá-los a passar desta vida para a outra. E uma vez mortos vem em auxílio deles com as indulgências para fazê-los passar do purgatório para o paraíso. Em suma ela com a sua doutrina sobre os sacramentos mantém acorrentadas a si as pessoas, fazendo depender a salvação eterna delas dos seus sacramentos. Esta é a razão pela qual ainda hoje os Católicos pensam que fora da sua igreja não haja salvação; porque lhes é dito que fora dela não há nenhuma igreja com o verdadeiro batismo que ela possui, com verdadeiros sacerdotes que têm o poder de perdoar os pecados como ela os possui, que transformam a hóstia no verdadeiro corpo de Cristo, e que depois de mortos mediante as missas poderão fazê-los passar do purgatório ao paraíso. Ah! quantas almas se confiam aos sacerdotes católicos romanos para a sua salvação crendo que eles sejam mediadores entre Deus e eles! Uma coisa é certa: quem está salvo é membro da Igreja de Deus e tem o seu nome escrito nos céus. Mas quem tem o seu nome escrito no registo da igreja romana e é definido membro dela, e não tem o seu nome escrito nos céus, está perdido; porque a salvação não se obtém entrando a fazer parte da igreja católica romana com o batismo e recebendo a seguir os outros seus sacramentos mas arrependendo-se e crendo em Cristo Jesus, portanto por graça, sem fazer boas obras. Certo é que a cúria romana afirmando que fora da igreja romana não há salvação faz pensar às pessoas que só no meio dela se está em segurança, mas esta é uma mentira porque todos os que conheceram o Senhor e saíram dela reconhecem terem sido libertados de uma casa de servidão onde por longo tempo obedeceram a preceitos humanos que se desviam da verdade. Eles se envergonham das coisas que um dia faziam em obediência aos preceitos desta organização e estão reconhecidos a Deus por lhes ter feito conhecer a verdade que os fez livres. Àqueles que buscam o Senhor no meio desta organização o Senhor diz ainda: “Sai dela” (Ap. 18:4).

A este ponto é bom também dizer que a cúria romana de algumas décadas a esta parte mitigou um pouco a afirmação que fora da igreja romana não há a possibilidade de salvação, ou melhor, podemos dizer que a contradisse abertamente mesmo se muitos Católicos porventura não se aperceberam disso. Estamos habituados a ouvir a cúria romana contradizer-se, por isso não nos admiramos disto. Mas qual é esta enésima contradição em que caiu a cúria romana? Esta. Ela diz: ‘…quem está fora da Igreja sem culpa própria (porque nasceu de pais não católicos, e não conhece que a verdadeira Igreja é a católica) e vive bem, isto é, ama e serve o Senhor do melhor modo que conhece, ele pode salvar-se…’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 224). Nos se perguntará o porquê desta aparente mudança; bom, a razão é porque a cúria romana para poder se pôr a falar de ecumenismo com os seus chamados ‘irmãos separados’ se encontrou obrigada a abandonar a sua rigidez, no falar se entende não nos factos, para não comprometer o seu diálogo com todas as igrejas que ela procura trazer aos seus pés. Portanto, em substância, estas palavras sobre a possibilidade de salvação também para os que não fazem parte da igreja católica romana servem à igreja romana para camuflar-se e poder atrair assim os chamados irmãos separados ao seu seio. Irmãos, não vos deixeis seduzir por aqueles seus discursos, fundados no decreto sobre o ecumenismo, em que falam de nós como de ‘igrejas’ porque na substância a igreja católica romana se considera ainda ‘o instrumento geral da salvação’ e afirma que ‘Só por meio da Igreja católica de Cristo (…) pode-se obter toda a plenitude dos meios de salvação’ (Concílio Vaticano II, Sess. V, cap. 1), o que equivale a dizer que nós não somos verdadeiramente igreja porque não possuímos esta plenitude dos meios de salvação. Tenho a reiterar isto porque sei que muitos crentes foram enganados por estes discursos papistas sobre a pertença à igreja que têm vindo a ser feitos depois do concílio Vaticano II. Eu pude verificar pessoalmente que este seu discurso que tende a reconhecer nos que não fazem parte da igreja católica romana Cristãos contradiz a sua tradição. Porquê? Porque afirmar que fora da sua organização as pessoas podem na mesma salvar-se significa ir contra as suas doutrinas assim como estão expostas por exemplo pelo concílio de Trento, em outras palavras significa anulá-las. Mas vejamos de perto esta sua enésima contradição. Ora, por um lado eles afirmam que somente eles possuem a plenitude dos meios de salvação e que nós esta plenitude não a possuímos, e por outro lado eles dizem que também nós podemos salvar-nos sem ‘a plenitude dos meios de salvação’. Mas então isto quer dizer que os homens podem salvar-se mesmo sem os seus sacramentos? Se sim, por que pois são tão apegados aos seus sacramentos como o eram os seus predecessores atribuindo-lhes o poder de justificar e santificar? Por que pois não retratam tudo o que eles afirmam sobre os seus sacramentos? Por que não afirmam que o concílio de Trento errou grandemente lançando o anátema contra os que não reconhecerem a sua tradição e os seus sete sacramentos? Por que não tiram do meio todas as suas doutrinas que não têm um fundamento escritural a começar por aquela que atribui aos seus sacramentos o poder de conferir a graça santificante para depois prosseguir com todas as outras? Mas tudo isto é impensável porque neste caso teriam que desmentir os seus pais, os seus doutores, os seus concílios, em suma toda a sua tradição. Então, o facto de eles afirmarem que há salvação fora da sua igreja não pode senão ser falso porque não se concilia de modo nenhum com toda a sua tradição. Mas parai um momento e reflecti irmãos: como pode a igreja papista afirmar que todos aqueles que rejeitam o papa e o caminho da salvação assim como ela o ensina (ou seja por meio dos seus sacramentos) são malditos (portanto nós estaremos debaixo da maldição) [6] e dizer ao mesmo tempo que também nós (aqui me refiro em particular aos que estão fora da igreja católica romana porque nasceram de pais que já não são ou nunca foram Católicos romanos) podemos nos salvar ou que somos com direito honrados com o nome de Cristãos e reconhecidos por ela como irmãos no Senhor?Mas dizei-me: mas desde quando os malditos são também eles filhos de Deus? Não é porventura verdade que segundo a Escritura os malditos serão lançados no fogo eterno? E ainda, como faz a igreja católica para afirmar que só a Bíblia não basta para a salvação (porque é preciso também a tradição) e ao mesmo tempo dizer que nós nos podemos salvar só com a Bíblia sem a sua tradição? E quero prosseguir: mas como se pode crer no papado quando os seus livros de dogmática e os seus catecismos passados e presentes não diferem em nada entre eles senão no modo de apresentar certas doutrinas (isto é, hoje são um pouco menos duros em relação a nós do quanto eram outrora)? Quando as afirmaçãos sobre os sacramentos, sobre o papado, sobre o purgatório, sobra a salvação, são as mesmas que faziam séculos atrás os seus eminentes teólogos? Por que crer que dizem a verdade quando dizem que também nós nos podemos salvar quando continuam a sustentar as mesmas heresias de séculos atrás? Como se pode afirmar que a igreja católica romana diz a verdade quando afirma que nós nos podemos igualmente salvar quando leio que o seu concílio de Florença disse que a sacrosanta igreja romana ‘firmemente crê, professa e prega que nenhum daqueles que estão fora da Igreja Católica, não apenas pagãos, mas também judeus ou heréticos e cismáticos, podem adquirir a vida eterna, mas que eles vão para o fogo eterno, preparado para o demónio e seus anjos a menos que antes da morte tenham se unido a ela; e que é tão importante a unidade do corpo da igreja, que apenas para aqueles que permanecem nela aproveitam para a salvação os sacramentos eclesiásticos, os jejuns e as outras obras de piedade, e os exercícios da milícia cristã proporcionam os prémios eternos. Ninguém – por quantas esmolas tenha podido fazer, e até mesmo se tivesse derramado o seu sangue pelo Nome de Cristo – se pode salvar, no caso de não permanecer no seio e na unidade da Igreja católica’ (Concílio de Florença, Sess. XI )? O expliquem os contenciosos!

Aos que antes eram Católicos romanos e que por causa do ecumenismo, consideram este meu falar demasiado duro ou injusto digo: ‘Se não acreditais em mim ide ler os seus livros de teologia dogmática, o seu catecismo, os cânones do concílio de Trento, o concílio Vaticano II. Mas eu digo: mas não é preciso irdes ler os seus aborrecidos e mentirosos livros para vos dardes conta do que vos digo; basta que vos ponhais a falar – se ainda não o fizestes – com padres, freiras, e simples zelosos Católicos romanos sobre a certeza da salvação que obtivestes somente pela fé em Cristo, ou que comeceis a reprovar o purgatório, o papado, o culto a Maria, as suas imagens, as suas procissões, os seus sacramentos, dizendo que elas são doutrinas de demónios que para nada vos aproveitaram quando as aceitáveis, e então vos dareis conta como sereis considerados perdidos, tudo menos que salvos; extraviados tudo menos que sobre o caminho direito; heréticos e apóstatas tudo menos que Cristãos. ‘Sois uma seita’, vos começarão a dizer; tudo menos que comunidade eclesial. ‘Voltastes as costas ao sucessor de Pedro e por isso a Cristo’ vos dirão; ‘Mudaste de bandeira, renegaste a verdade para ir atrás da mentira’, prosseguirão. ‘Volta para o aprisco, porque doutra forma irás para o inferno!’ te dirão os teus ex-companheiros na sua ignorância para te assustar e te fazer voltar para o seu meio. Também vós irmãos que nunca fizestes parte da igreja católica romana, porque nascestes numa família de chamados apóstatas, isto é, de ex-Católicos romanos ou numa família que nunca fez parte da igreja católica romana, reprovai a tradição católica romana e vereis também vós os insultos que recebereis dos seus sustentadores! Vos perguntareis então o porquê de vos responderem desta maneira apesar de falarem tanto de ecumenismo, de unidade das igrejas, de amor de Deus, de comunhão do Espírito Santo. A resposta é que este seu caminho a eles parece direito mas o fim dele conduz ao lago ardente de fogo e enxofre, enquanto o caminho sobre o qual vós estais a eles parece torto e tenebroso, um caminho de perdição, porque sobre ele não vêem o seu papa, o culto a Maria, o purgatório, as indulgências, os sacerdotes e tantas outras coisas, mas apenas a Bíblia, apenas Cristo. Em outras palavras porque eles ainda estão debaixo do poder de Satanás enquanto vós fostes libertados dele; eles ainda estão perdidos, enquanto vós estais salvos; eles ainda estão nas trevas enquanto vós pela graça de Deus estais na luz. Portanto quando se fala com eles é preciso insistir no facto de que a salvação se obtém directamente de Deus, pela fé somente, e por isso gratuitamente, sem o auxílio dos seus sacramentos, e sem a intercessão de Maria e nem de nenhum outro além de Cristo Jesus. E portanto persuadi-los que eles não se encontram na Igreja de Deus mas fora. Isto naturalmente vai nitidamente contra a sua doutrina sobre a Igreja e atrai muitos ultrajes; mas é a verdade e vale por isso proclamá-la.

 

 
A verdadeira Igreja não se reconhece pelo grande número dos seus aderentes
 

Os teólogos católicos romanos, fortes pelo facto de a sua igreja contar centenas de milhões de membros sobre a face de toda a terra (segundo algumas recentes estatísticas seriam quase mil milhões no mundo), afirmam que a igreja de Roma é a verdadeira Igreja. Mas é pelo número dos aderentes que se deduz se uma certa igreja é a verdadeira Igreja de Deus ou não? Podemos afirmar que todos os Católicos romanos em Itália são Cristãos só porque eles afirmam que nos seus registos estão mais de cinquenta milhões de inscritos? Quantas vezes ouvimos dizer os Católicos: ‘Nós somos muitos, vós pelo contrário sois poucos, portanto não podeis ser a verdadeira Igreja de Deus’! Mas vejamos segundo as Escrituras se as coisas são mesmo como dizem os teólogos católicos.

Ÿ Jesus disse: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mat. 7:13,14); daqui se compreende que os que encontram o caminho que leva à vida, isto é, Cristo Jesus, são poucos e não muitos em comparação à população mundial.

Ÿ Jesus disse aos seus: “Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino” (Lucas 12:32); também por estas palavras se entende que o rebanho de Deus é formado por poucas pessoas e não por multidões.

Ÿ Jesus disse: “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mat. 22:14); e um dia à pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” (Lucas 13:23), respondeu assim: “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão” (Lucas 13:24). Como se pode ver, ainda uma vez o Senhor explicou que os salvos são poucos e não muitos.

Se depois estas Escrituras não bastam para convencer que os salvos pelo Senhor são poucos então recordamos que está escrito que nos dias de Noé, na arca “poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água” (1 Ped. 3:20), e que da destruição de Sodoma e Gomorra e das cidades circunvizinhas Deus salvou apenas Ló, sua mulher (que depois tornou-se uma estátua de sal) e duas filhas suas. Portanto não é de modo nenhum verdade que a característica da verdadeira Igreja é a multidão dos inscritos.

Naquele dia diante do trono do juízo, não serão consultados nem os registos da igreja romana (e, bem entendido, nem os das Igrejas evangélicas), mas o livro da vida do Cordeiro. Só aqueles cujos nomes forem achados escritos naquele livro herdarão o reino de Deus, os outros, não importa de que igreja resultavam membros, serão lançados no lago ardente de fogo e enxofre.

Por isso ó Católicos, vós que vos apoiais na vossa chamada catolicidade é tempo de vos pordes esta pergunta: ‘Estou eu no caminho da perdição entre aqueles muitos de que falou Jesus ou no caminho que leva à vida, entre aqueles poucos que o encontraram?’ Examinando vós mesmos reconhecereis, pela ajuda do Espírito Santo, de estar entre os muitos que andam sobre o caminho da perdição e então não vos restará outra coisa senão invocar o Senhor Jesus Cristo para que vos salve da perdição eterna. Vos suplicamos em nome de Cristo: ‘Salvai-vos desta organização pseudocristã da qual fazeis parte!’

 
Aqueles que saiem da igreja católica romana porque aceitam o Evangelho não são heréticos e nem apóstatas
 

Como pudestes ver entre todos aqueles que os Católicos consideram tanto heréticos como apóstatas estais também vós irmãos que depois de terdes sido batizados em meninos vos arrependestes dos vossos pecados, crestes no Evangelho e vos separastes dos Católicos romanos para vos unirdes aos santos (que eles chamam Evangelistas, ou Evangélicos, ou Protestantes). Também vós, segundo eles, virastes as costas a Deus; também vós, segundo eles, mudastes de bandeira! Mas não é assim, irmãos, porque vós sabeis muito bem que as costas viradas para Deus as haveis tido precisamente quando professáveis a religião católica romana, enquanto desde que crestes no Senhor e vos unistes aos santos virastes o vosso olhar para Deus. Vos dizem que mudastes de bandeira, e isso é verdade porque agora a vossa bandeira não é mais nem Maria, nem o chamado papa e nem a religião católica mas o Senhor conforme está escrito: “O Senhor é minha bandeira” (Ex. 17:15). Vós dilectos crestes na verdade revelada por Deus mediante o seu Filho, mas rejeitastes todas as mentiras ensinadas e praticadas pela igreja romana porque elas não têm nada a ver com a verdade do Evangelho. E por isso estais sobre o caminho da salvação; não temais os seus insultos e as suas calúnias. E não vos envergonheis de modo nenhum de ser definidos por eles heréticos ou apóstatas, antes glorificai a Deus por serdes julgados dignos de ser vituperados pelo nome de Jesus como o foram os discípulos antigos. Suportai com paciência as suas injúrias irmãos, sabendo que vem o dia em que o Senhor fará conhecer a diferença que há entre o justo e o ímpio, entre aquele que serve a Deus e aquele que não o serve (cfr. Mal. 3:16-18).

 
Os seus ultrajes (passados e presentes) contra nós; nós nos comprazemos neles
 

A sagrada Escritura testifica de variadas maneiras que os profetas antigos foram ultrajados, que o Senhor Jesus foi ultrajado e também os apóstolos de Jesus Cristo foram ultrajados. Vejamos agora as Escrituras que testificam isso:

Ÿ Jeremias disse: “Nunca lhes emprestei com usura, nem eles me emprestaram com usura, todavia cada um deles me amaldiçoa” (Jer. 15:10).

Ÿ Jesus disse: “Veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” (Mat. 11:18,19).

Ÿ Mateus diz que os escribas e os Fariseus diziam de Jesus: “Este não expulsa os demónios senão por Belzebu, príncipe dos demónios” (Mat. 12:24); João diz que entre as multidões alguns diziam de Jesus: “Engana o povo” (João 7:12); Lucas diz que os principais sacerdotes o acusaram diante de Pilatos dizendo: “Achamos este homem pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César” (Lucas 23:2).

Ÿ Lucas diz que em Tessalónica as multidões na presença dos magistrados disseram estas palavras contra os apóstolos: “Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus” (Actos 17:6,7); em Éfeso Demétrio disse aos artífices: “E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos” (Actos 19:26); em Filipos, os senhores da serva que estava possuída e foi libertada pelo apóstolo Paulo disseram aos magistrados de Paulo e Silas: “Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade…” (Actos 16:20).

Como podeis ver tanto os profetas, como Jesus, como os apóstolos foram ultrajados. Ora, segundo o ensinamento de Cristo também nós que ainda estamos em vida seremos ultrajados por causa do Filho do homem de facto ele disse: “Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” (Mat. 10:25), mas Ele nos disse também para nos alegrarmos quando formos ultrajados por causa do seu nome conforme está escrito: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mat. 5:11,12).

Após ter dito isto proponho à vossa atenção algumas passagens de uma obra literária de Giovanni Perrone (Jesuíta que por volta de 1852 era considerado o maior teólogo romano) a qual se intitulaCatecismo acerca do Protestantismo para uso do povo. ‘Este nome de protestante, e de protestantismoé usado para significar a rebelião de todas as modernas seitas contra a igreja Católica fundada por Jesus Cristo, ou, o que resulta no mesmo, a rebelião dos homens orgulhosos contra Jesus Cristo fundador da mesma Igreja’ (Giovanni Perrone, Catechismo intorno al Protestantesimo ad uso del popolo, Roma 1854, pag. 10. Este livro de Perrone em seu tempo foi espalhado com abundância pelos padres por todas as terras de Itália). [O protestantismo] ‘contém uma doutrina horrível na teoria, e imoral na prática, isto é, uma doutrina ultrajosa para Deus, ultrajosa para o homem, danosa para a sociedade, e contrária ao bom senso e ao pudor (…) nem os pagãos, nem os turcos chegaram alguma vez a tanta impiedade de doutrina’ (Giovanni Perrone, op. cit., pag. 22,23); [os Protestantes] ‘estes podem considerar-se como revoltosos natos, os quais estão sempre prontos para toda a novidade; e a cada motim que se excita acorrem de olhos fechados, sem calcular nem os seus perigos nem os prejuízos alheios (…) Este puro Evangelho, como o chamam, ou seja o protestantismo, não é mais que a irreligião, e a perversão de costumes coberta de belas palavras, é o mais terrível flagelo que pesa sobre a humanidade; ele conduz a sociedade surdamente à anarquia, à dissolução…’ (ibid., pag. 44,45); ‘São a escória da rebaldaria e da imoralidade em cada país. Estão em primeira fila alguns poucos padres e frades apóstatas sacos de podridão e de vícios (…) é o refugo da Itália, é a sujidade mais vil dos Italianos que estão nas fileiras dos barbetti. Todos os malfeitores, que não observam nenhuma prática religiosa, todos os sectários vendidos ao diabo alma e corpo, todos os ateus e incrédulos que vivem como animais, são os recrutas mais preciosos do protestantismo em Itália (…) (Se estes prevalecessem) ‘a Itália tornar-se-ia um campo de guerras civis das mais encarniçadas; o sangue citadino escorreria pelas cidades e pelos campos; desapareceriam todas as instituições de caridade e de beneficência cristã; se massacrariam todos os bons; se destruiriam os mais soberbos edifícios dos quais agora está orgulhosa a nossa península’ (ibid., pag. 70, 73, 75); ‘É certo de certeza de fé que quantos católicos se fazem protestantes, todos são danados, tirando o caso de um sincero arrependimento antes de morrer com a abjuração dos erros professados. Fora deste caso, é de fé que todos os católicos que se fazem protestantes, todos se danam irremissivelmente por toda a eternidade (..) Basta não ser ateu para estar convencido disso’ (ibid., pag. 102,103); ‘..os deveis ter em horror e em abominação (…) Quero dizer que só ao ouvir falar de protestantismo vós deveis ficar assustadíssimos, mais do que se ouvísseis falar de uma tentativa de assassínio contra a vossa vida (…) O protestantismo e os partidários do protestantismo são na ordem religiosa e moral aquilo que a peste e os empestados são na ordem física’ (ibid., pag. 109); ‘Estes temos que evitá-los com todo o nosso poder, não ter conversas com eles, tratá-los enfim do ódio em diante, como se tratam os ladrões e os assassinos (…) Este é antes o acto mais exímio da caridade’ (ibid., pag. 112,113); ‘Fugi deles como do demónio. Orai sempre a Deus para que vos mantenha longe destes desgraçados apóstatas corrompedores da fé e da moral’ (ibid., pag. 115). Eis, como muitos nossos irmãos foram considerados pelos Católicos romanos há cerca de cento e cinquenta anos nesta nação.

Agora vos proponho alguns extractos de artigos publicados no L`Osservatore Romano há cerca de sessenta anos. Num se lê: ‘Existe um verdadeiro perigo protestante ou melhor anticatólico na Sicília? A resposta ao leitor (…) O seu lema poderia bem ser: não almejo outra coisa. Destruir a fé dos Pais. Passemos em revista punhados destes ‘saqueadores’. Depois o articulista enumera entre outros os Valdenses, os Metodistas, os Batistas e os Pentecostais. Destes últimos exprime-se assim: ‘Os pentecostais. Estes também conhecemos. Pretendem reviver a vida da igreja primitiva. Reunem-se em salas públicas, onde se lê a bíblia e se cantam hinos. A certa altura começam a invocar o Espírito Santo com altos gritos, a contorcer-se, a tremer, a cair de joelhos, a rolar pelo chão, a fazer milagres. Seguro. O único e máximo – dado os tempos – a fazer rir os que ali se encontram por acaso. Quanto contribui este culto para as doenças nervosas, especialmente nas mulheres e nas crianças, se imagina’. Falando depois da evangelização feita pelos Protestantes ele afirma: ‘E não é raro o caso de encontrar gregários do proselitismo acatólico em quase todos os lugares públicos, em frente dos quartéis à saída ou à retirada dos soldados, nos comboios, nas ruas e pelas praças onde insistentemente querem impor, especialmente a senhoras e senhoritas (…) a sua mercadoria avariada, na qual escrevem frequentemente o endereço das suas reuniões para atrair os incautos e arrastá-los assim a abraçar os seus erros’ (L’Osservatore Romano, 25 de Abril de 1934, pag. 2) Num outro artigo se lê: ‘De uma praxe intolerável pela qual a chamada e seja também por um momento, suposta liberdade de proselitismo – de modo nenhum incluída na liberdade de culto enquanto culto significar o que em italiano não se chamar proselitismo nem por sinónimo – não se limita à propaganda exercida mediante sermões na igreja, ou livros religiosos, ou estudos e discussões… dignos deste nome, mas se lança à desenfreada, solapada, iníqua actividade de apóstatas, de golpistas, de mercadores de livros de títulos enganosos, feita em qualquer sítio nas casas, nas ruas, nas praças, como se estivesse em terra de missão, entre bárbaros, sim que se pôde publicar e dizer que de para lá dos Alpes e dos Oceanos, se vem a Itália para redimi-la da superstição e revelar-lhe o verdadeiro Evangelho. E é a este obsceno carnaval de palhaços, a este belo conceito que eles têm, a esta bela fama que eles vão difundindo, da Pátria, que um alto funcionário da Direcção Geral dos Cultos daria a sua obra sob veste jurídica como a serviço da ciência e da vida religiosa feridas desde aqui por uma lacuna…’ (L’Osservatore Romano, 7 de Abril de 1934, pag. 2).

Mas hoje como estão as coisas? Também hoje nós somos vituperados pelos Católicos romanos – sempre pelos habituais motivos – porque segundo eles as igrejas de que nós todos fazemos parte não têm como fundador Cristo Jesus mas apenas homens, porque recusamos reconhecer o chamado papa como chefe da Igreja de Deus na terra, porque não prestamos culto a Maria como fazem eles, e por muitas outras razões. Em poucas palavras porque rejeitamos a sua tradição [7]. Para confirmação disso proponho à vossa atenção algumas palavras de Amatulli Flaviano, Fundador e Director Geral do Movimento Eclesial ‘Apóstolos da Palavra’. ‘Aqueles que saem da Igreja, que Cristo pessoalmente fundou e ensinam outras doutrinas, a Bíblia os chama ANTICRISTOS, isto é, inimigos de Cristo e perturbadores. Portanto, são MALDITOS’ (Amatulli Flaviano, La Chiesa Cattolica e le sette protestanti [A Igreja Católica e as seitas protestantes] , Putignano 1991, pag. 19. O livro tem oImprimatur); ‘é necessário evitá-los para não nos deixarmos contaminar pelos seus erros’ (Amatulli Flaviano, op. cit., pag. 20); ‘Não é conveniente ler ou ouvir propaganda protestante, para não nos deixarmos seduzir pelos seus erros (…) geralmente aqueles que saem da verdadeira Igreja que Cristo fundou, para entrar nas seitas, o fazem por ignorância’ (ibid., pag. 21); ‘Os pastores protestantes não têm os mesmos poderes que têm os pastores da Igreja Católica, porque as suas organizações religiosas foram fundadas por homens, separados da Igreja fundada por Cristo e à qual deu os seus poderes’ (ibid., pag. 31); ‘Também os irmãos separados têm o direito de pregar a Palavra de Deus? Não. Os irmãos separados não têm nenhum direito de pregar a Palavra de Deus (…) Se o fazem, é por conta própria, sem nenhuma garantia da parte de Deus’ (ibid., pag. 43); ‘Segundo a Bíblia, são anticristos todos os que saem da Igreja de Cristo e a atacam (…) Neste sentido, seriam anticristos os irmãos separados, que saíram da Igreja de Cristo e estão procurando todos os modos para prejudicá-la’ (ibid.,pag. 152). E isto em pleno diálogo ecuménico! Assim mentindo, os Católicos romanos ainda hoje dizem toda a espécie de mal contra nós por causa do Evangelho: mas nós estamos felizes de ser julgados dignos de ser vituperados por causa de Cristo como o foram nesta nação e em muitas outras muitos nossos irmãos pelos seus predecessores, ainda antes que nós nascêssemos. Irmãos no Senhor, como diz Pedro: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus” (1 Ped. 4:14).

 
Alguns preceitos da igreja romana confutados
 

A igreja romana pretende ser a verdadeira e única Igreja de Deus que existe sobre a face de toda a terra. Além disso importa dizer que ela se arroga um outro direito que não possui, de facto, lê-se no Novo Manual do catequista: ‘A Igreja tem autoridade de fazer leis e preceitos porque a recebeu na pessoa dos Apóstolos, por Jesus Cristo, o Homem-Deus; e por isso quem desobedece à Igreja, desobedece ao próprio Deus’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 347). Mas vejamos quais são alguns destes preceitos que esta pseudo-igreja emanou e diz que se se infringem se desobedece a Deus. Eis como os encontramos escritos no Catecismo da igreja católica e como nós nos opomos a eles.

Ÿ Primeiro preceito: ‘Participarás da Missa nos domingos e outras festas de guarda’ (Catecismo da Igreja Católica, Cidade do Vaticano 1992, pag. 506). Ora, segundo a igreja romana quem não vai à missa nestes dias comete um pecado grave porque não cumpre aquele outro seu mandamento que diz de santificar as festas; mas não é de modo nenhum assim porque como o pecado é a violação da lei e não existe na lei a ordem para lembrar das festas católicas para santificá-las, e Cristo de modo algum ordenou assistir a uma função religiosa que pretende repetir o seu sacrifício, quem não vai assistir a este rito inventado por eles (nem nesses dias e nem nos outros) de modo algum comete pecado. Nós antes exortamos os Católicos a não ir mais à missa, mas a ir antes a um local de culto onde os santos adoram Deus em espírito e em verdade e onde é pregada a Palavra de Deus não adulterada.

Ÿ Segundo preceito: ‘Confesserás todos os teus pecados ao menos uma vez por ano’ (ibid., pag. 506). A Escritura ensina pelo contrário que a confissão dos próprios pecados deve ser feita a Deus e não a um padre. Portanto, ó Católicos romanos, ide ao Senhor directamente confessar as vossas iniquidades e obtereis aquele perdão que o padre jamais vos poderá dar. Uma vez obtido este perdão continuai a confessar as vossas iniquidades ao Senhor, recordando-vos que esta confissão deve ser feita não ao menos uma vez por ano, mas todas as vezes que se ora a Deus; Jesus de facto disse que quando nós oramos devemos dizer ao Pai nosso: “Perdoa-nos as nossas dívidas” (Mat. 6:12).

Ÿ Terceiro preceito: ‘Receberás humildemente o teu Criador ao menos na Páscoa’ (ibid., pag. 506). Aqui faz-se referência à hóstia que, como segundo eles, na consagração torna-se Jesus Cristo, é chamada Criador; blasfémia! Ó Católicos aquele pedaço de massa não é o vosso Criador; porque Ele está no céu. Em vez de ir receber a hóstia, que vos é apresentada como o próprio Deus e que nenhum bem vos pode fazer, recebei Cristo por fé nos vossos corações; agora; não demoreis a fazê-lo, e sereis reconciliados com Deus. E depois retirai-vos da igreja católica romana.

Ÿ Quarto preceito: ‘Santificarás as festas que te são ordenadas’ (ibid., pag. 506). A Escritura não ordena guardar dias, meses ou anos. Se alguém estima o dia de domingo ou o de Páscoa mais do que outros dias, ele é livre de fazê-lo para a glória de Deus, mas esta sua estima pessoal daquele dia não pode transformar-se em preceito porque isso constitui um preceito humano. Entre as festas católicas a guardar estão também as suas festas em honra de Maria, e de outros; vaidades, imposturas que não têm nada a ver com a verdade.

Ÿ Quinto preceito: ‘Observarás o jejum prescrito e igualmente a abstinência’ (ibid., pag. 506), o que na prática significa que não se deve comer carne à sexta-feira e nos outros dias proibidos e deve-se jejuar nos dias prescritos’. Com este outro preceito é imposto aos Católicos não comer carne às sextas-feiras (em memória da paixão de Jesus Cristo e porque com esta mortificação pensam participar nos sofrimentos de Cristo), e nestes dias de jejum: nos sábados da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas, na quarta-feira e sábado das quatro têmporas, nas vigílias de Natal, Pentecostes, Assunção e Todos os Santos. Por quanto respeita ao jejuar nos dias prescritos é necessário dizer que o jejum consiste nisto; 1) abster-se de determinados alimentos como carnes nos dias acima mencionados e dos ovos e dos lacticínios na segunda refeição; 2) abster-se de outras refeições além do almoço; isto é, fazer uma só verdadeira refeição ou ao meio-dia ou à noite com o consentimento de fazer uma outra refeição ligeira à noite ou ao meio-dia (conforme a verdadeira refeição se faz ao meio-dia ou à noite) na qual são proibidos os ovos e os lacticínios. Entre os motivos pelos quais é imposto este preceito está o da penitência dos pecados de facto o catecismo diz: ‘Com jejum e com a abstinência que a Igreja nos impõe fazemos penitência em expiação dos nossos pecados’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 355).Naturalmente também neste caso quem infringe este preceito faz-se culpado diante de Deus segundo eles. Mas que diz a Palavra? A Palavra nos ensina estas coisas.

Deus quer que nós jejuemos porque Jesus disse: “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mat. 6:16-18), mas o verdadeiro jejum não é para se entender como uma abstenção só da carne ou algum outro alimento mas como uma abstenção tanto de toda a comida como de toda a bebida porque de Jesus, quando jejuou por quarenta dias, está escrito que “naqueles dias não comeu coisa alguma” (Lucas 4:2); de Paulo está dito que naqueles três dias “não comeu nem bebeu” (Actos 9:9), e de Moisés, quando subiu ao monte Sinai, está escrito: “E Moisés esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água” (Ex. 34:28). Certamente, um é livre de abster-se de comer algo de particular durante um certo período de tempo, ou de abster-se só de comer e não de beber, isto não é que nós o neguemos porém permanece o facto de que o jejum completo é o aqui acima descrito.

O Senhor não impôs não comer carne à sexta-feira em memória da sua morte mas ordenou celebrar a santa ceia com o pão e o vinho para recordá-la e anunciá-la porque Jesus tanto quando deu o pão como quando deu o cálice a beber aos seus discípulos disse-lhes: “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor. 11:24,25), e porque Paulo diz aos Coríntios: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Cor. 11:26).

Aqueles que ordenam a outros não comer um certo alimento em particulares dias não falam da parte de Deus porque Paulo disse que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rom. 14:17). Comer carne não contamina o justo nem às sextas-feiras e nem noutro dia.

O jejum como o entende a Escritura não o se faz para expiar os próprios pecados porque em si mesmo o jejum não tem o poder de expiar algum pecado, mas o se faz para nos humilharmos diante de Deus e para fazer ouvir a nossa voz no alto. Certamente, o jejum é uma boa obra e por ele se mortificam as obras do corpo porque quando se jejua nos sentimos mais fortes espiritualmente e se sentem muito menos fortes certas paixões da carne, mas permanece o facto de que não é por ele que se expiam os próprios pecados. Jesus Cristo “é a propiciação pelos nossos pecados” (1 João 2:2), como diz João, e não o jejum ou alguma outra chamada obra de penitência.

Estes aqui supracitados são preceitos que a igreja romana estabeleceu para os seus seguidores, preceitos de homens que nos fazem lembrar as palavras que Deus disse ao povo mediante Isaías: “A palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito, preceito sobre preceito; regra sobre regra, regra sobre regra…” (Is. 28:13). Esta é a Palavra de Deus para os Católicos, um conjunto de regras estabelecidas pelo homem e o temor que têm de Deus não é mais que um conjunto de mandamentos aprendidos dos homens. E tudo isto porque lhes é inculcado desde pequeninos a observar todos estes preceitos para agradar a Deus e para não desobedecer-lhe.

 
O que está na raiz dos seus ensinamentos
 

Está escrito que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males” (1 Tim. 6:10), e um destes males que brota dele é precisamente a heresia. O apóstolo Paulo falando a Tito de alguns da circuncisão que ele definiu rebeldes, faladores vãos e enganadores escreveu assim: “Transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tito 1:11). Uma coisa semelhante podemos dizê-la daqueles que têm nas suas mãos as rédeas da igreja romana, porque eles transtornam o mundo inteiro ensinando o que não convém por torpe ganância. A igreja romana no curso do tempo introdoziu toda a espécie de heresias por torpe ganância, de facto, se se vai a ver de perto o ensinamento relativo ao primado do papa, à canonização dos santos, às missas pelos mortos, ao purgatório, às relíquias, às indulgências, ao poder de desligar e ligar, e a outras coisas se percebe que elas serviram e servem ao papado para enriquecer-se sobremodo.

Comecemos com o ensinamento da supremacia do bispo de Roma sobre a Igreja universal. Proclamando-se chefe universal da Igreja o chamado papa centralizou sobre si todo o poder, estabelece pelo mundo os bispos que a ele agradam os quais juram ‘manter, defender, aumentar e favorecer os direitos, as honras, os privilégios e a autoridade do seu senhor, o papa’. E este juramento compreende também o dever de ajudar ‘a fornecer os recursos de que a Sé Apostólica necessita, de acordo com as condições dos tempos, para que ela possa prestar o devido serviço à Igreja universal’ (Código de direito canónico, can. 1271). E de facto os bispos (e os arcebispos) pagam ao papa taxas em ocasião da visitaad limina (cfr. Fausto Salvoni, Da Pietro al Papato, Genova 1970, pag. 365).

Vejamos agora o ensinamento sobre a canonização dos santos (que se funda sobre o errado significado que eles dão ao termo santo e sobre um inexistente poder do papa de fazer santos alguns depois de mortos). Basta que os Católicos paguem grandes somas de dinheiro ao papa para obter a canonização de alguém morto em odor de santidade [8] (a canonização é precedida da beatificação que custa também ela bastante dinheiro). Aliás a sabedoria diz que “por tudo o dinheiro responde” (Ecl. 10:19) e que “com presentes o homem alarga o seu caminho e o eleva diante dos grandes” (Prov. 18:16). Não é de admirar portanto se aqueles que têm grandes disponibilidades financeiras conseguem obter certos ‘privilégios’ (o de ter um ‘santo’ na sua família, ou na sua diocese ou paróquia) do papa? Certo, para fazer santo alguém é preciso também que ele tenha sido uma espécie de herói espiritual durante a sua vida, e que os seus ensinamentos tenham sido íntegros do ponto de vista católico, e que ele faça pelo menos quatro milagres depois de morto (dois para ser beatificado, e outros dois após a beatificação para ser feito santo). Mas sobre estas coisas não há grandes problemas porque a cúria romana sabe como fazer quadrar tudo quando há grandes somas de dinheiro a embolsar.

Vejamos agora o ensinamento sobre a missa e sobre o sufrágio. Se um Católico quer aliviar as almas dos seus defuntos das penas que eles sofrem no chamado purgatório ou quer libertar as almas dos seus defuntos do purgatório deve mandar dizer a missa pelos mortos que tem um preço (mesmo se o seu preço é apresentado como livre oferta [9]). Portanto, basta que pague e obterá estas graças para os seus mortos. A missa portanto é uma fonte de ganho desonesto para a cúria romana. O que é necessário observar a respeito da missa pelos mortos é isto: que Cristo para se oferecer a si mesmo sobre a cruz do Calvário não pediu nenhuma oferta da parte de ninguém, enquanto o padre, que se faz passar por sacerdote de Deus, para oferecer o presumido corpo e o sangue de Cristo (a hóstia) em sacrifício propiciatório pelos Católicos que estão no chamado purgatório faz-se pagar. Eles pois profanam duplamente o sacrifício de Cristo; primeiro pensando repeti-lo e depois fazendo-se pagar por ele. Ó Católicos mas não vos dais conta que aos padres só importa o vosso dinheiro?

Pelo que concerne ao ensinamento sobre a veneração das relíquias ele é uma fonte de grandes riquezas para o papado porque aos Católicos é dito que naquele santuário ou naqueloutro está ou o corpo ou as partes do corpo deste ou daqueloutro ‘santo’ ou objectos que eram deste ou daqueloutro santo e que lá indo visitá-las podem obter benefícios de Deus, e eles, enganados, para ali se dirigem com a esperança de obter alguma graça por meio das relíquias. E assim os superintendentes destes santuários enriquecem-se sobremodo vendendo às pessoas todo o tipo de objectos que lembra o santuário ou a relíquia do ‘santo’ e recebendo as ofertas votivas que elas fazem ao ‘santo’. E onde vão acabar por fim todos estes intróitos? Nas caixas papais [10].

E dizemos também algo sobre a doutrina que diz que o papa tem o poder de desligar (ou dissolver) o que quer em virtude das chaves recebidas de Cristo. Em virtude desta doutrina, o papa, embora diga considerar o matrimónio indissolúvel, considera ter o poder de dissolver o matrimónio (vede o matrimónio.). Mas o dissolve fazendo-se pagar, de facto se alguém se quiser divorciar e voltar a casar tem de ir à ‘Sacra Rota’ (ou melhor a um dos Tribunais eclesiásticos regionais) e pagar. E considerando que todos os anos pelo mundo ele dissolve milhares de matrimónios o papado encaixa muito dinheiro. Mas o papa não dá apenas a permissão de se divorciar e recasar mas também a permissão (naturalmente também isto a pagamento) que permite não observar certos preceitos da igreja a qual é chamada dispensa. Segundo o Código de direito canónico de facto a dispensa é ‘a relaxação de uma lei meramente eclesiástica num caso particular’ (Código de direito canónico, can. 85). Por exemplo há a dispensa que autoriza a abster-se do jejum, a que autoriza a trabalhar em certas festas de preceito e as matrimoniais que permitem contrair matrimónio ainda que hajam impedimentos impedientes [11]. A propósito do lado financeiro destas dispensas eis o que diz a Enciclopédia Católica: ‘Para as dispensas matrimoniais segue-se um sistema de taxação tradicional. Faz-se assim distinção entre ricos e pobres, distinguem-se os que possuem ou ganham até um determinado limite, daqueles que o superam. Para os pobres é estabelecida uma taxa mínima variável com o impedimento (os miseráveis pagam só as despesas) para os ricos tem lugar a componenda. Esta é uma cifra estabelecida caso a caso pela Santa Sé a seguir à indicação das posses pessoais dos esposos e dos seus intróitos. A percentagem varia também aqui com a diversidade e a gravidade dos impedimentos’ (Enciclopédia Católica, vol. 7, 1050). Quem pode negar perante estas coisas que a doutrina sobre desligar e sobre ligar é fonte de ganho desonesto para o papado? Faço notar a propósito das dispensas que são verdadeiramente um engano para os Católicos, porque por um lado a cúria romana lhes faz crer que a Igreja tem a autoridade da parte de Deus de formular preceitos e de os fazer observar aos seus fiéis e depois lhes dá também a oportunidade de infringi-los. Daqui se deduz que se esses preceitos se podem infringir com o seu beneplácito eles não valem nada aos seus olhos, mas são apenas restrições que introduziram somente com o objectivo de tirar dinheiro às pessoas.

Analizemos agora o ensinamento sobre as indulgências porque também elas foram e são fonte de grande ganho para o papado. A indulgência plenária – segundo o ensinamento papal – é a remissão de toda a pena temporal devida pelos pecados, o que significa que aqueles que a tomam (se morrerem logo depois) vão logo para o paraíso sem passar pelo Purgatório porque não lhes restam mais penas por pagar pelos pecados no além! O que é necessário fazer para adquiri-la? É preciso fazer a obra indulgenciada, a confissão, a comunhão e recitar a oração conforme as intenções do papa dos Católicos romanos. A obra indulgenciada por vezes é a visita a determinadas basílicas ou lugares de peregrinação, o que equivale a dizer levar ofertas lá aonde se vai. E assim as caixas papais se enchem de dinheiro. As indulgências são adquiridas pelos Católicos romanos também em prol dos seus mortos, porque as indulgências são parte daqueles sufrágios que os Católicos são convidados a fazer em prol das almas que se encontram no Purgatório. Para que servem as indulgências em prol dos mortos? Para aliviar as suas penas e apressar a sua saída do purgatório! No passado as indulgências plenárias foram (mas reiteramos que ainda o são; basta pensar nas ingentes somas de dinheiro que entram nas caixas papais durante cada Jubileu) um grande negócio financeiro para o papado porque delas se serviram papas cobiçosos de torpe ganância para se enriquecerem sobremodo. Deixamos a palavra a um historiador católico de nome Ludovico Von Pastor a respeito: ‘Para a aquisição da indulgência, que os vivos queriam ganhar para si, foi sempre exigido, além da visita da igreja e do contributo em dinheiro a confissão (…) feita a confissão, natural pressuposto para a aquisição da indulgência, os fiéis tinham que meter no cepo das esmolas uma soma de dinheiro correspondente às suas condições financeiras. Esta oblação com objectivos piedosos, que era acessória (…) tornou-se agora o verdadeiro motivo pelo qual se pediam e eram concedidas indulgências. Como quase todos os inconvenientes de que sofreu a Igreja no fim da idade média, também o abuso da indulgência remonta em grande parte ao tempo do cisma do Ocidente. A fim de poder-se sustentar contra o papado francês, Bonifácio IX, também aliás não exigente nos meios para encher a caixa da Câmera apostólica, em número extraordinariamente alto concedeu indulgências com o objectivo confessado de obter por tal via dinheiro (…) A indulgência foi cada vez mais tomando a forma de um negócio financeiro’ (Ludovico Von Pastor, Storia dei Papi[História dos Papas] , vol. IV, Roma 1908, pag. 216, 218, 219). Por quanto respeita à pregação sobre as indulgências pelos mortos feita por Tetzel aos dias de Leão X na Alemanha Pastor diz que ‘Tetzel realmente pregou ser dogma cristão, que para adquirir a indulgência em favor dos mortos era preciso somente a oblação em dinheiro, sem dor e confissão (..) não pode subjazer alguma dúvida que, pelo menos quanto à substância, ele, partindo deste pressuposto, tenha pregado a máxima drástica: ‘A alma sai do purgatório no preciso momento que a moeda ressoa na caixa’ (Ludovico Von Pastor, op. cit.,pag. 225). A propósito do facto de Leão X (1513-1521) ter aprovado a venda das indulgências para recolher o dinheiro necessário para a construção da actual ‘basílica de são Pedro’, Pastor refere que ‘não obstante o seu apegamento à Santa Sé o rígido cardeal Ximenes expressou o seu descontentamento pela indulgência concedida por Leão X a favor da basílica de S. Pedro’ (ibid., pag. 221) [12].

Portanto, como se pode bem ver, tanto o papado como todos os que estão debaixo da sua esteira tiveram sempre grandes interesses financeiros em anunciar estas doutrinas maléficas ao povo (canonização, purgatório, indulgências, missa, etc.). Por que pois ficar admirado deste seu apegamento a estes seus dogmas de fé que não têm nada a ver com a verdade, quando se sabe que eles são fonte de riqueza tanto para a sede central de Roma como para todas as suas sucursais espalhadas pelo mundo? Se tivessem que renunciar a estas suas doutrinas consequentemente teriam que renunciar a muito e muito dinheiro porque desapareceriam as suas minas das quais sacam as suas riquezas; mas o facto é que eles não têm nenhuma intenção de renunciar a elas porque são cobiçosos de torpe ganância. Estão dispostos a fazer de tudo para saciar a sua cobiça; o demonstraram abundantemente durante os séculos.Não necessitamos de mais provas, como se as que há fossem insuficientes. Mas eles, além de se enriquecerem a si mesmos, fazem enriquecer muitos porque proporcionam um grande ganho a muitos e muitos artífices espalhados um pouco por todo o mundo; muitos ourives se enriquecem fazendo para os Católicos medalhas e medalhões de todos os géneros, muitos escultores se enriquecem construindo para o Vaticano estátuas; muitos pintores se enriquecem pintando para eles; muitos negociantes se enriquecem vendendo toda a espécie de mercadoria que tem a ver com relíquias, santuários, Maria, com o rosário, com os crucifixos, com as chamadas imagens sagradas, e com míriades de outras coisas. A tal propósito uma comparação apropriada deve ser feita: como aquele Demétrio ourives, que fazia miniaturas do templo de Diana em prata, proporcionava não pequeno lucro aos artífices, assim agora o papado proporciona não pequeno lucro a todos os que trabalham para ele de uma maneira ou de outra. Esta é uma das razões pela qual nós filhos de Deus somos objecto de aversão e abomináveis para o papado e para os que têm relações económicas com ele, porque reprovando as suas heresias sobre Maria, a heresia do purgatório e a das indulgências e a sua doutrina sobre as estátuas e sobre as imagens e todas as suas seculares invenções doutrinais nós nos opomos automaticamente também aos seus enormes interesses financeiros e aos de muitas indústrias e artífices e editores e tipógrafos e muitos outros. O que emerge de facto, estudando as doutrinas católicas e as práticas devocionais que estão a elas ligadas, é que por detrás delas se aninham enormes interesses financeiros dos quais nós temos apenas uma pálida ideia. Em outras palavras nos encontramos perante um gigantesco império financeiro e económico, camuflado de Igreja de Deus, que saca os seus capitais do enorme número de heresias e de superstições que constituem a tradição católica romana.

Os milagres: sinais que a igreja católica romana está na verdade?
 

Segundo os teólogos romanos os milagres que acontecem entre eles demonstram que eles estão na verdade. Assim se expressa o cardeal Bellarmino (1542-1621): ‘A glória dos milagres é um sinal (da verdadeira Igreja). É de se tomar como premissa duas coisas fundamentais: A primeira, que os milagres são necessários à nova fé, e para persuadir a missão extraordinária. A segunda, que os milagres são eficazes e suficientes. Da primeira deduzimos, que a Igreja dos adversários não pode ser a verdadeira Igreja; e da segunda, que a nossa é a verdadeira Igreja’ (Bellarmino, De Conc. et Eccl. lib. IV, cap. 14 de not. Eccl; citado por Luigi Desanctis em Compendio di controversie, pag. 24).
Ora, nós não cremos de modo nenhum que os milagres cessaram com a morte dos apóstolos, porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Heb. 13:8). Eles acontecem no meio do seu povo pelas mãos de ministros que receberam o dom de poder de operar milagres e são necessários porque são a manifestação do Espírito conforme está escrito: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil” (1 Cor. 12:7). Eles servem, com efeito, para confirmar na fé os crentes e para trazer à obediência da fé os homens que vivem longe de Deus. É necessário dizer porém, que os milagres não acontecem só no meio do povo de Deus, pelo Espírito Santo, por meio de homens santos revestidos de poder, mas também entre os pagãos, isto é, entre os que não conhecem a Deus e vão após os ídolos mudos, mas neste caso acontecem por meio de ministros de Satanás como magos ou homens aparentemente muito religiosos. No caso dos sinais e prodígios que no seio da igreja romana é dito se verificam por meio de pretensos santos eles devem ser atribuídos ao adversário e não a Deus, porque estas pessoas, que depois quiçá são pontualmente beatificadas e santificadas pelo papa, são idólatras que não conhecem Deus. O seu olhar é maléfico, as suas palavras doces e lisonjeiras, as suas obras de iniquidade. Eles devem ser incluídos entre aqueles falsos profetas de que falou Jesus que “farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mat. 24:24). Sim, porque o seu objectivo é o de nos enganar e de nos fazer apostatar da fé. Está fora de dúvida, estes seus prodígios suscitam admiração entre as pessoas, como suscitava os que operava Simão em Samaria antes de crer no Evangelho. Mas eles servem para fazer permanecer os Católicos romanos ainda mais apegados ao culto de Maria, ao culto dos anjos e dos seus santos e para convencê-los que a sua igreja é a verdadeira Igreja. Como disse antes, estes falsos profetas operam estes prodígios sob o influxo de poderes diabólicos para nos enganar, mas cuidai que tudo isto entra no querer de Deus porque Deus por meio destes impostores nos prova para ver se nós o amamos com todo o nosso coração; isto é o que aprendemos por estas palavras escritas na lei: “Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova, para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma” (Deut. 13:1-3). Portanto os prodígios não podem ser tomados como sinais demonstradores que quem os faz está na verdade ou que a organização de que ele é membro é a verdadeira Igreja, porque se fosse assim teríamos que chamar Igreja de Deus também às associações de magos e feiticeiros que também há nesta nação. O facto é que enquanto os magos não mostram ser religiosos mas irreligiosos, os chamados santos ou santões da igreja romana são pessoas muito religiosas que recitam o rosário, o Pai nosso, que vão à missa feita pelo padre e fazem muitas outras coisas da sua religião. Não podemos defini-los nem santos e nem crentes precisamente porque demonstram ser um bando de sedutores professantes das artes sedutoras do erro por meio de sinais e prodígios. Contrastam a palavra da verdade, estão apegados morbidamente à tradição católica romana; nós recusamos dar-lhes ouvidos mesmo se fazem as coisas que fazem; mesmo que fizessem descer fogo do céu usando-se do nome de Maria, mesmo que se pusessem a andar sobre a água em nome de António ou de Francisco ou de quem quer que seja, nós não lhes daremos ouvidos precisamente porque eles são idólatras que nos incitam à apostasia. Jesus Cristo diz: “Vinde após mim” (Mat. 4:19), portanto nós temos que seguir ele e nenhum outro, para não nos desgarrarmos pelos caminhos solitários desta religião anticristã que se faz também passar por meio de prodígios que acontecem no seu meio como a verdadeira Igreja.

 
Algumas palavras a propósito da imposição das mãos feita em nome de Jesus sobre os doentes no seio da igreja católica romana
 

Quero dizer agora algumas coisas a propósito das curas. No seio da igreja romana, no âmbito do movimento carismático, há bispos e padres que impõem as mãos sobre os enfermos em nome de Jesus. Ora, nós de modo nenhum somos contra o facto de eles imporem as mãos sobre os enfermos em nome de Jesus para a sua cura, porém como eles continuam a permanecer no seio da igreja romana e apegados à sua tradição eles de modo nenhum nos convencem. Mas quero também dizer que mesmo que o Senhor na sua misericórdia cure um Católico romano de uma doença a seguir à imposição das mãos de um destes bispos ou padres, ou a seguir a uma sua invocação feita com fé (do doente) ao Senhor para que o cure, isto não nos leva a definir a igreja romana a verdadeira Igreja que possui a sã doutrina. Nós consideramos que estas curas ocorridas ou que podem ocorrer mediante o nome de Jesus também no âmbito da igreja romana são não só uma prova da fidelidade e da bondade de Deus para com aqueles que na necessidade o invocam sem conhecê-lo, mas também meios com os quais Deus nos prova, a nós seus filhos, para ver se o amamos com todo o coração e se permanecemos apegados à fiel Palavra que nos foi ensinada. Com este discurso queremos dizer-vos de desconfiar de todo aquele que diz crer que Jesus cura e que ora sobre os doentes em nome de Jesus, mas ao mesmo tempo se atém à tradição da igreja romana. Estai atentos irmãos.

 
CONCLUSÃO
 

Como pudestes constatar por vós mesmos a doutrina sobre a Igreja ensinada pela igreja católica romana está estritamente ligada ao primado de Pedro e à chamada sucessão apostólica, isto é, sobre o ensinamento que Pedro foi constituído por Cristo chefe visível da Igreja e que deixou este seu primado ao bispo de Roma e aos seus sucessores; e que além do sucessor de Pedro à cabeça da Igreja estão os sucessores dos apóstolos, isto é, os bispos que por sua vez consagram os padres nas suas dioceses. Mas além destes ensinamentos, ela está ligada à doutrina sacramentária porque na igreja reveste uma importância notável o padre com todos os seus presumidos poderes (o poder de fazer cristão com o batismo, o de perdoar os pecados, o de transformar o pão e o vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo, etc.). De maneira que quem tem o papa ou melhor quem está submetido ao papa e aos bispos católicos, e quem possui todos os sete sacramentos é um membro de verdadeira Igreja, quem, ao contrário, recusa submeter-se ao papa e aos seus bispos e reconhecer os seus sete sacramentos, mesmo se se diz cristão na realidade não é um verdadeiro cristão. Poderia um verdadeiro cristão opor-se ao vigário de Cristo? Poderia um verdadeiro cristão desprezar os sete sacramentos instituídos por Cristo para a sua Igreja? eles dizem. É evidente portanto que assim sendo ‘as outras igrejas’ não podem ter a plenitude dos meios de salvação. E assim com justa razão declaramos que, tendo os Católicos uma tal cognição da Igreja, é impossível andar de acordo com os Católicos romanos. Irmãos, ninguém vos engane.

Mas também neste caso me encontro obrigado a fazer algumas perguntas aos amantes do ecumenismo: Dizei-me, como podeis pensar andar de acordo com os Católicos quando eles consideram que vós não possuís todos os meios para vos salvardes? Ou como podeis pensar que eles vos chamam sinceramente Cristãos, quando sabem que vós não credes que o papa é o vigário de Cristo e os seus bispos os sucessores dos apóstolos? Em nossa opinião, estando assim também a sua doutrina sobre a Igreja, se eles permanecem apegados a ela; e vós não a reconheceis, é impossível que vós andeis de acordo com eles. Que espécie pois de união seguis com esta gente se não estais dispostos a reconhecer o primado do bispo de Roma, e todos os seus sacramentos (talvez além do batismo pois este o aceitais!)? Deveras estranho este vosso modo de agir! Falais tanto de unidade com os Católicos, mas não quereis reconhecer o chamado sucessor de Pedro e todos os seus sacramentos. Não sois pois coerentes.

 
 
NOTAS
 
[1] Se portanto vós sois heréticos e apóstatas pois abandonastes a igreja católica romana, como é que sois chamados também vós irmãos separados? Como podeis ser heréticos e apóstatas e ao mesmo tempo irmãos? Como podeis ser com direito por eles honrados com o nome de Cristãos?
 
[2] Tenho a dizer desde já que nós não excluímos que no meio da igreja católica romana possam haver verdadeiros nascidos de novo que apesar de terem sido salvos pela graça de Deus, porque Deus se fez por eles achar, se encontram temporariamente ainda por variadas circunstâncias entre os Católicos romanos contudo não partilhando muitas doutrinas e práticas deles. E tenho também a dizer que estamos seguros, que dentre todos os que no mundo se dizem Pentecostais, Valdenses, Batistas, Anglicanos, Reformados, Metodistas, ou outro, há muitos que não sendo ainda nascidos de novo estão sobre o caminho da perdição apesar de frequentarem porventura há anos o local de culto e ouvirem a pregação da Palavra de Deus ou porventura depois de terem um dia conhecido a graça de Deus tornaram-se mornos e o Senhor portanto os vomitará da sua boca. Estes se morrerem neste estado vão para o inferno pelo que mesmo se são membros de uma particular Igreja evangélica esta sua pertença de nada lhes aproveitará.
 
[3] Se considerarmos um outro rito de iniciação prescrito por Deus, a saber, a circuncisão judaica notaremos uma certa semelhança com o batismo instituído por Cristo. Deus prescreveu que todo o filho macho nascido de pais Judeus devia ser circunciso na carne ao oitavo dia. Isto seria o sinal do pacto entre Deus e o seu povo debaixo do Antigo Pacto. Com aquele sinal exterior prescrito por Deus os seus pais portanto faziam idóneo o bebé para entrar oficialmente a fazer parte do povo eleito. Tinha nascido um outro macho hebreu que se agregava ao seu povo; e se note que quem recebia a circuncisão já tinha nascido. Assim também através do batismo na água quem é recém-nascido da água e do Espírito, isto é, quem nasceu segunda vez por virtude da Palavra de Deus e pelo Espírito Santo (é aos olhos dos outros crentes um bebé do ponto de vista espiritual) é feito idóneo para entrar a fazer parte da assembleia dos resgatados, é em suma agregado ao número dos crentes já existentes. De facto, no dia do Pentecostes se diz que aqueles que aceitaram a Palavra foram batizados e depois se diz que “agregaram-se quase três mil almas” (Actos 2:41). A diferença está que enquanto a circuncisão era dolorosa para o bebé, o batismo não é um acto doloroso em si mesmo porque quem o recebe é simplesmente imerso na água: e depois enquanto a circuncisão o bebé a recebia sem estar consciente daquilo que lhe faziam e sem saber o significado daquele sinal e sem ter exprimido o desejo de se fazer circuncidar, o batismo é recebido só por pessoas que creram com o coração no Senhor, portanto que estão conscientes daquilo que lhes é feito e entendem o significado do sinal que recebem. Se portanto se tomar a circuncisão do Antigo Pacto para falar do batismo debaixo do Novo Pacto, deve-se sempre ter presente que são só sinais testemunhadores da entrada no povo de Deus, mas também que como a circuncisão do Antigo Pacto era recebida por um bebé físico assim o batismo é e deve ser recebido por um bebé espiritual e portanto por quem já nasceu de novo o que implica que seja capaz de discernir pois se arrependeu dos seus pecados e creu em Cristo. No caso de antes se considerar a circuncisão de Abraão por ele recebida aos noventa e nove anos, é necessário ter presente que ela foi por ele recebida conscientemente, isto é, com o desejo de recebê-la em obediência ao mandamento de Deus. Mas também que não foi a circuncisão a justificá-lo mas a sua fé posta na promessa de Deus quando ainda era incircunciso (cfr. Rom. 4:9-12).
 
[4] João Bosco (1815-1888) abriu oratórios, hospícios e colégios tanto em Itália como no exterior. José Cafasso (1811-1860) se distinguiu entre outras coisas na assistência aos moribundos; em particular modo os presos e os condenados ao patíbulo. José Cottolengo (1786-1842) se prodigou com os desamparados, os vagabundos, os sem abrigo e em particular os doentes privados de assistência.
 
[5] Como veremos a seguir, os santos da igreja católica romana são declarados tais pelos homens, depois da sua morte após uma longa e custosa praxe, e depois que se verificaram pelo menos quatro milagres feitos pelo morto.
 
[6] Creio que alguns fariam bem em ir ler todos os anátemas que o concílio de Trento (cito só este) lançou contra os Protestantes.
 
[7] Aliás não se percebe por que motivo as coisas deveriam ser diferentes quando a igreja católica romana é a mesma de séculos atrás e nós continuamos a reprovar todas as suas heresias e imposturas como faziam exactamente os nossos irmãos que nos precederam. Sabei pois que é de ficar preocupado quando se ouve dizer que alguns Evangélicos são bem vistos e estimados por zelantes padres católicos ou por outros zeladores da hierarquia católica porque isso significa que eles deixaram de reprovar e confutar publicamente as heresias papistas para cativar a sua amizade e respeito, e para não ter aborrecimentos.
 
[8] Francisco Di Silvestri-Falconieri (membro de uma Igreja evangélica do seu tempo) conta a propósito da canonização da sua parente afastada Juliana Falconieri (1270-1341), mulher que durante a sua vida trazia cadeias aos lombos (que estavam tão apertadas que acabaram por penetrar-lhe na carne e não as se puderam mais tirar), cordas nas pernas e nos braços, dormia sobre chão nu e recitava o avé Maria mil vezes ao dia, conta digo que no início do século XVIII Juliana começou a fazer milagres e Bento XIII a beatificou em 1729. A santificação aconteceu poucos anos depois. Conta Di Silvestri: ‘A santificação não se fez esperar muito: Alexandre Falconieri, cardeal diácono do título de santa Maria della Scala, personagem influentíssimo no Conclave, fez reunir os votos da maior parte dos cardeais no seu velho primo Lorenzo Corsini, que tornou-se papa com o nome de Clemente XII, na condição de que ele canonizasse santa Juliana; e de facto, a 16 de Junho de 1737, se celebrou pelo pontífice a solene cerimónia em são Pedro, na presença de Horácio II Falconieri, filho de Mário e novo chefe da família e do cardeal Alexandre’ (Francesco Di Silvestri-Falconieri, I due santi di casa Falconieri, Roma 1914, pag. 15). Eis um claro exemplo pois de quais intrigas e interesses se escondem por detrás das canonizações.
 
[9] O Código de direito canónico afirma que ‘a qualquer sacerdote que celebra ou concelebra a missa é permitido receber a espórtula oferecida para que ele aplique a missa segundo determinada intenção’ (can. 945 §1.) e que ‘recomenda-se vivamente aos sacerdotes que, mesmo sem receber nenhuma espórtula, celebrem a missa segundo a intenção dos fiéis, especialmente dos pobres’ (can. 945 §2.). É evidente que os legisladores deste novo código procuraram com estas palavras fazer parecer que a missa não está à venda. Na realidade porém a missa está à venda, e aqueles que as mandam dizer o sabem muito bem porque sem dinheiro não há missa. Há um verdadeiro e próprio negócio em torno da missa.
 
[10] O abade Muratori, na sua 67 Dissertação intitulada Das maneiras com as quais antigamente as igrejas, os cónegos, os mosteiros e outras universidades religiosas adquiriram, ou se conseguiram obter grande exemplar de riquezas e comodidades terrenas, enumera treze maneiras. A décima diz: ‘Sobreveio em algumas partes de Itália, e talvez mesmo em todas, uma opinião, que cada um reconhecerá por um grande veículo para cada vez mais enriquecer as igrejas e os mosteiros. Isto é, foi pregada e inculcada como extremamente eficaz via de ganhar a graça de Deus na terra, e o seu beatíssimo reino na outra vida, a piedosa munificência dos Fiéis para com os lugares sagrados. Por isso assim frequentemente se encontra nas velhas cartas a seguinte fórmula habitualmente usada pelos notários: Todo aquele que dos seus bens doar coisa aos santos e veneráveis lugares, justa a palavra do Salvador, receberá o cêntuplo neste século; depois, e que maior coisa é, possuirá a vida eterna… Imbuídos então de tal opinião nos velhos tempos os Fiéis, não é de admirar se competiam para carregar de novos dons os sagrados templos e os mosteiros: e se ao ouvir tantos louvores da esmola para ossanctis et venerabilibus locis, cada vez mais crescesse a sua liberalidade para com eles. Mas já não se quer dissimular que os eclesiásticos de então fazendo soar esta opinião para puxar para si as coisas alheias, abusavam não pouco da Religião, sendo falsíssimo, como disse, que o divino nosso Mestre tenha aplicado tanto de mérito às doações feitas aos lugares sagrados. Era este mérito somente fundado na cobiça de quem exortava e aconselhava a ser liberal para com as igrejas, sem se lembrar dos pobrezinhos, dos quais unicamente fala o Salvador’. À distância portanto de séculos as coisas não mudaram substancialmente no seio da igreja católica romana pois aos Católicos são ainda hoje prometidos toda a sorte de benefícios materiais e espirituais se derem dinheiro a esta ou àquela instituição católica, que pouco importa se é um santuário, um instituto religioso, um mosteiro, ou uma basílica.
 
[11] Segundo a igreja católica estes impedimentos são os que não permitem contrair matrimónio, ou seja, que o fazem ilícito. Entre eles está o do voto simples de castidade, da disparidade de culto, e da consanguinidade em terceiro grau de linha colateral. Estes são impedimentos de direito eclesiástico, mas o papa em virtude do seu poder de ligar e desligar pode até dispensar dos de direito divino. Eis o que se lê no Curso de Direito Canónico II: ‘Isto resolve o outro problema se o Romano Pontífice pode dispensar dos impedimentos de Direito divino positivo. Todos os autores são absolutamente da opinião que o Papa o pode fazer em virtude da sua potestade vicária. (…) O princípio em que se baseia tal faculdade é o poder de ‘ligar e desligar’, que importa reconhecer a máxima amplitude e eficácia até que não se prove que foi limitado’ (op. cit., pag. 40), e ainda: ‘A dispensa, pelo contrário, do impedimento de consanguinidade em segundo grau misturado com o primeiro, ou seja, entre tios e sobrinhos, está reservada à Santa Sé; para que seja concedida, são exigidas razões mais graves’ (ibid., pag. 60). Faço presente a respeito do permitir um matrimónio entre tios e sobrinhos que isso significa ir contra a Palavra de Deus que afirma: “Não descobrirás a nudez da irmã de tua mãe, ou da irmã de teu pai, porquanto isso será descobrir a sua parenta chegada; ambos levarão a pena da sua iniqüidade” (Lev. 20:19). Portanto, esta chamada santa sé permitindo semelhantes uniões permite a alguns transgredir a lei de Deus fazendo-lhes crer que o papa pode dispensá-los também da lei de Deus. Também ela pois levará a pena da sua iniquidade; estai certos disso.
[12] E dado que estamos no tema queremos recordar também estas outras coisas do passado para fazer compreender como a igreja romana se enriqueceu de maneira desonesta fazendo alavanca sobre ensinamentos falsos. Houve um período da história da igreja romana no qual padres adoptaram O cânone penitencial de Teodoro no qual eram contados todos os pecados que este arcebispo tinha podido imaginar; eles estavam postos ali em modo de índice e para cada um deles era aplicada uma penitência um tanto grave (recordamos que as obras penitenciais para os Católicos consistem em jejuns e em penas corporais). Assim quando os ‘leigos’ iam confessar os seus pecados aos padres (ainda a confissão obrigatória não tinha sido instituída) para saber quanta penitência eles deviam fazer, o padre pegava o seu penitencial, calculava o número dos pecados e tirava a soma das penitências que para um pecador comum ascendiam a muitos anos. O ‘leigo’ se assustava, mas o padre o tranquilizava porque lhe fazia saber que existia maneira de resgatar as penitências com dinheiro tanto para os pobres como para os ricos. Por exemplo, um dia de penitência, um rico o resgatava com três denários enquanto um pobre com um. Naquele período foi avaliado que um denário equivalia ao sustento de um dia de três homens. E assim aconteceu que surgiu a concorrência dos mosteiros e das igrejas que começaram a oferecer a remissão da penitência a menor preço para ter mais clientes (estas coisas as relata o abade Ludovico Muratori na sexagésima oitava dissertação das Antichità Italiane, de título: ‘Da redenção dos pecados, pela qual muitos bens baixaram uma vez nos sagrados lugares’). Ainda mais descarada foi a venda do perdão dos pecados que inventou João XXII (1316 – 1334). Este papa, que a dizer dos historiadores católicos era muito ávido de dinheiro, publicou a Taxa da Chancelaria Apostólica, um livro em que os pecados, que eram em número de 610, eram remetidos pelos confessores após o pagamento de uma precisa soma de dinheiro estabelecida para cada pecado. Assim o incestuoso, o adúltero, o fornicador, o ladrão, o homicida, o sodomita, o mentiroso podiam obter a absolvição das suas transgressões somente pagando a relativa soma prescrita! E esta taxação foi muito rentável porque quando João XXII morreu, as caixas papais estavam abarrotar de dinheiro; o tesouro deixado por este papa amontava de facto a 25 milhões de florins de ouro.

 

Fonte: http://portoghese.lanuovavia.org/portoghese_conf_1_ccr_03_chiesa.htm

Post a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Read more:
A santificação: sobre o fumo

  A Palavra de Deus, se bem que não diga explicitamente que fumar é pecado, todavia faz compreender que fumar...

A santificação: sobre o murmurar

  A história do povo de Israel durante a viagem do Egipto para a terra prometida está constelada de murmúrios...

Close