Confutação da Igreja Católica Romana: a libertação da escravidão do pecado
A doutrina dos teólogos papistas
A redenção do pecado obtém-se pelo batismo e a penitência. Os méritos de Cristo não bastam para recebê-la, é necessário por isso fazer boas obras para obtê-la. Os teólogos papistas – como já assinalei – sustentam que o batismo liberta do pecado quem o recebe (portanto não apenas os infantes mas também os adultos que por exemplo se convertam do budismo ao catolicismo); e afirmam também que uma vez batizado se se cometerem pecados ‘mortais’ perde-se a graça e portanto é necessário ir fazer a confissão ao padre para obter a libertação deles e recuperar a graça perdida. Deve ser dito porém que embora o padre tenha recebido de Cristo a autoridade de perdoar os pecados, ao penitente após a confissão permanece por expiar uma parte da pena merecida. Porquê isto? Porque os méritos de Cristo (que o padre pretende aplicar ao penitente com a fórmula absolutória) são insuficientes para salvá-lo pelo que não é suficiente a fé para salvá-lo, ou seja, para ele não é suficiente arrepender-se e crer que Jesus Cristo morreu também pelos seus pecados sobre a cruz e ressuscitou para sua justificação, mas é preciso também boas obras (chamadas obras de satisfação). E como sustentam isto com as sagradas Escrituras? Tomam as seguintes palavras de Paulo aos Colossenses: “E cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja” (Col. 1:24), e dão-lhe este significado: ‘Nós devemos cooperar com Cristo para a nossa salvação mediante as nossas obras meritórias, portanto com os nossos sofrimentos; isto porque nós devemos cumprir o que resta das aflições de Cristo’. Portanto quando se ouve falar de redenção aos Católicos é necessário ter presente as seguintes coisas; que o batismo e a penitência são considerados indispensáveis para ser salvo (isto o veremos melhor mais à frente), e que no caso do adulto que se vai confessar após ter pecado ‘mortalmente’ contra Deus, a fé em Cristo somente não o pode de algum modo redimir porque ele é chamado a fazer obras de satisfação. Eis porque os teólogos papistas repetem continuamente que a fé somente não salva, que não basta somente crer para ser salvo: porque segundo eles para ser salvo é preciso a fé e as boas obras [3]. Mas as coisas não são de modo nenhum assim, porque se para ser salvo por Cristo além da fé são necessárias obras justas então a salvação cessa automaticamente de ser por graça ou seja gratuita.
Confutação
Se é libertado da lei do pecado e da morte crendo em Jesus e portanto por graça
A sagrada Escritura afirma que todos pecaram, por isso todos são escravos do pecado que cometem conforme está escrito: “Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (João 8:34); e ela afirma que para alguém ser libertado da escravidão do pecado é necessário somente arrepender-se dos pecados e crer em nosso Senhor Jesus Cristo [4]. Portanto é de excluir-se que o batismo (seja por infusão ou por imersão) salva do pecado, porque a fé (que é a que salva) deve preceder e precede o batismo; como também que a confissão ao padre redima do pecado porque, segundo a Escritura, há necessidade apenas de arrependimento e de crer com o coração em Cristo Jesus para obter a redenção do pecado, sem necessidade alguma de um mediador terreno. As seguintes Escrituras testificam de maneira inequívoca que se é salvo somente pela fé, e portanto não pelo batismo que segue a fé e nem através das boas obras.
• Paulo e Silas, quando o carcereiro de Filipos perguntou-lhes: “Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” (Actos 16:30), lhe responderam: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu a a tua casa” (Actos 16:31).
Eles não lhe disseram: ‘Batiza-te e serás salvo’ e nem: ‘Faz boas obras e serás salvo’, porque sabiam que o homem é salvo pela fé no Senhor Jesus e não pelo batismo ou pelas boas obras. Mas ponhamos o caso desta pergunta ser feita a um padre, que responderá ele? Ele responderá assim: deves antes de tudo batizar-te, deves crer todas as coisas que Deus revelou à sua Igreja e que estão na Bíblia e na tradição e depois deves fazer obras justas. Depois de teres feito tudo isto porém não podes estar certo de estar salvo porque poderás cair em algum pecado mortal e perder assim a graça recebida; neste caso, de qualquer modo, há a confissão que te salva. Mas para fazer uma boa confissão são precisas diversas coisas e depois que tu faças as obras prescritas pelo confessor. Procura receber os sacramentos da igreja e fazer o teu melhor e espera ser salvo mas nunca digas que estás salvo: isso é descarada presunção. Mas dizei-me: Não é tudo isto um caminho muito complicado e completamente inseguro?
• Cornélio era um homem piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus, mas apesar disso não tinha ainda sido salvo dos seus pecados quando o anjo de Deus lhe apareceu em visão dizendo-lhe para mandar chamar Simão Pedro. Isto é confirmado pelo facto de o anjo lhe ter dito: “Envia a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras pelas quais serás salvo, tu e toda a tua casa” (Actos 11:13,14). Cornélio foi salvo quando aceitou por fé as palavras que Pedro disse em sua casa. Portanto, este homem não foi salvo nem pelo batismo (que lhe foi ministrado depois que creu) e nem pelas suas esmolas mas foi salvo pela sua fé no Evangelho que Pedro lhe pregou. Certamente se as orações e as esmolas que Cornélio fazia tivessem sido suficientes para a sua salvação não teria havido necessidade que ele ouvisse o Evangelho e cresse nele. O facto porém é que Cornélio embora temesse a Deus, orasse a Deus e fizesse muitas esmolas ainda era perdido e escravo do pecado. Foi indispensável também para ele ouvir o Evangelho e crer nele para ser salvo porque a salvação não a confere o batismo e nem é o fruto de boas obras mas dom de Deus que se recebe crendo e não operando.
• Paulo disse aos Romanos: “Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rom. 6:17,18). Os crentes de Roma foram salvos dos seus pecados obedecendo ao Evangelho, isto é, crendo no Evangelho, e não pelo batismo ou por terem feito boas obras.
• Paulo disse aos Romanos: “Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rom. 1:16). Isto significa que é a mensagem da Boa Nova que liberta dos pecados todos os que crêem nela. E nós somos testemunhas da salvação operada pelo Evangelho naqueles que eram escravos de toda a sorte de iniquidades: homens que no passado eram fornicadores, sodomitas, ladrões, bêbados, avarentos, feiticeiros, mentirosos, foram libertados do pecado a quem eles obedeciam somente pela sua fé no Evangelho. Eles nunca teriam podido ser libertos da escravidão das suas paixões pecaminosas pelo batismo, ou mortificando o seu corpo, ou fazendo esmolas, visitando os doentes, as viúvas e os orfãos, ou dando de comer aos famintos e de beber aos sedentos, e isto sempre porque se é libertado da escravidão do pecado crendo, somente crendo, o que precede sempre o batismo e o bom operar ordenado por Deus aos crentes.
• Paulo diz aos Efésios: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2:8,9). Nós que cremos no Evangelho da nossa salvação fomos libertados dos nossos pecados somente por meio da fé no Evangelho; nenhum de nós pode dizer de ter sido salvo dos seus pecados por meio do batismo ou por ter feito esmolas, visitas aos doentes, às viúvas e aos orfãos, ou por ter dado de comer, de beber e de vestir aos que disso tinham necessidade, justamente porque não foi em virtude do batismo na água ou de boas obras que obtivemos esta grande salvação, mas somente, e o repito somente, por ter crido no Evangelho da graça de Deus. Se se pudesse ser salvo por meio de boas obras, Cristo teria morrido inutilmente, e seria portanto inútil pregar o Evangelho a todos aqueles homens que pensam alcançar a salvação fazendo o bem a si mesmos e aos outros. Mas além disso, importa dizer que se se pudesse ser salvo por meio das boas obras, os homens teriam do que se gloriar perante Deus, porque poderiam dizer serem merecedores da salvação, em outras palavras poderiam dizer que ela foi o fruto dos seus trabalhos, e nunca diriam que ela é o fruto do tormento da alma de Cristo Jesus. Eles poderiam dizer que foram eles a sofrer para se salvarem, e não mais que Cristo, o Justo, sofreu por nós injustos para nos libertar da escravidão do pecado. Mas, como dizia Paulo aos Romanos, “Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé” (Rom. 3:27), porque nós cremos que o homem é salvo por meio da sua fé em Jesus Cristo. Eis, por que nós não temos nada de que nos gloriar, porque fomos salvos pela lei da fé, e portanto por graça. Sim, pela graça de Deus; porque nós tivemos apenas que crer no Senhor Jesus para ser salvos.
• Paulo diz aos Tessalonicenses: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito, e fé na verdade” (2 Tess. 2:13). O apóstolo dava graças a Deus porque aprouve a Deus, com base no seu propósito eterno, salvar os crentes de Tessalónica. Mas como tinha salvo Deus os Tessalonicenses? pelo batismo ou pelas boas obras porventura? Não, mas pela santificação do Espírito e a fé na verdade. Ainda uma vez a Escritura confirma que a salvação se obtém não pelo batismo e nem através das boas obras, mas pela fé na verdade. Onde estão portanto os méritos do homem? Estão excluídos pela lei da fé.
• Paulo diz aos Coríntios: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos…” (1 Cor. 15:1), depois diz-lhes o Evangelho que lhes tinha anunciado, e por fim diz: “Assim pregamos e assim haveis crido” (1 Cor. 15:11). Por este discurso de Paulo se deduz que os Coríntios tinham sido salvos mediante a sua fé no Evangelho e não mediante o batismo (que também eles tinham recebido logo depois de terem crido) ou por terem feito boas obras. Alguns deles tinham sido adúlteros, fornicadores, idólatras, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, roubadores, bêbados e maldizentes; mas tinham sido salvos dos seus pecados somente pela fé no Evangelho, que tinham posto nele antes de se batizarem, sem as obras da lei. Por isso a mensagem de Cristo é chamada a Boa Nova da paz; porque para obter paz com Deus, isto é, para ser reconciliado com Deus, os pecadores não têm que fazer obras meritórias, mas têm só que arrepender-se e crer no nome de Jesus Cristo. Aliás que boa nova seria a mensagem de Cristo se ela dissesse que para ser salvo do pecado é necessário fazer boas obras? Não estaria tudo isso em nítida contradição com a essência do Evangelho? Certamente que estaria; seria como dizer que Jesus veio para nos salvar gratuitamente, sem nos exigir nada mais senão o arrependimento e a fé nele, mas nós temos que cooperar com ele (fazer obras justas) para sermos salvos dos pecados!
• Paulo diz na epístola a Tito: “Também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e a caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo…” (Tito 3:3-5). Destas palavras de Paulo aprendem-se claramente duas coisas: a primeira é que nós fomos salvos e por isso podemos afirmar que estamos salvos, sem o perigo de pecar por presunção; a segunda é que esta salvação a obtivemos não pelo batismo e nem por ter feito obras meritórias mas exclusivamente pela misericórdia de Deus o qual nos fez renascer para uma nova vida pela Palavra de Deus plantada em nós (a lavagem da regeneração) e pela renovação operada em nós pelo Espírito Santo.
• Paulo diz a Timóteo que Deus “nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos; e que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo…” (2 Tim. 1:9,10). O apóstolo diz pela enésima vez que Deus nos salvou por graça sem que nós tenhamos feito algo de bom; mas ele diz também que Deus nos deu graça antes dos tempos dos séculos, isto é, antes da fundação do mundo. E se isto não bastasse para fazer compreender que a nossa salvação não foi dispensada em razão de boas obras por nós feitas, mas exclusivamente por Deus ao qual agradou salvar-nos sem que merecêssemos, citamos também as seguintes palavras de Paulo aos Romanos sobre Esaú e Jacó: “Não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor” (Rom. 9:11,12), e estas outras: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que usa de misericórdia” (Rom. 9:16). Perante tais palavras caem pela enésima vez todos aqueles raciocínios dos teólogos papistas que atribuem a salvação às obras meritórias.
• Pedro disse em Jerusalém, diante dos outros apóstolos e dos anciãos: “Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também” (Actos 15:11). Ora, aqui Pedro disse que eles que eram Judeus de nascença eram salvos pela graça da mesma maneira em que o eram os Gentios; e isto apesar deles serem circuncisos na carne e terem a lei de Moisés com os mandamentos de Deus. Mas por que motivo Pedro não pôde dizer que eles que eram Judeus tinham sido salvos pelas obras da lei, enquanto os Gentios, que não tinham a lei, tinham sido salvos pela graça? Porque também eles Judeus para serem salvos tiveram somente que crer (e portanto não eram merecedores da salvação pela lei), da mesma maneira que os Gentios. As palavras de Pedro fazem claramente compreender que para ser salvo tem-se apenas que crer e não operar, porque a salvação de Deus é oferecida gratuitamente tanto aos Judeus como aos Gentios.
• Jesus nos dias da sua carne disse estas palavras a duas mulheres: “A tua fé te salvou” (Lucas 8:48; 7:50): as disse à mulher que foi curada do seu fluxo de sangue, e àquela mulher pecadora que lhe regou de lágrimas os seus pés, lhe os enxugou com os seus cabelos e lhe os ungiu com óleo. A um daqueles dez leprosos que ele curou, e a Bartimeu disse as mesmas palavras, ou seja: “A tua fé te salvou” (Lucas 17:19; 18:42). Também estas Escrituras confirmam que é somente pela fé que se é salvo e não pelo batismo ou por boas obras. Porque se Jesus tivesse crido que era o batismo a salvar não poderia dizer “a tua fé te salvou” mas teria que dizer: ‘Vem batizar-te e serás salvo’; e se cria que era a fé mais as boas obras deveria ter dito: ‘Vai primeiro fazer obras dignas de arrependimento e então conseguirás a salvação dos teus pecados porque só a fé não basta para salvar-te’.
• Paulo diz aos Romanos: “Esta é a palavra de fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rom. 10:8-13).
Como podeis ver para ser salvo não é preciso o batismo e não é necessário fazer boas obras, mas é necessário confessar com a boca Jesus como Senhor, e crer com o coração que Deus o ressuscitou dos mortos. Não é simples e claro o caminho da salvação que propõe a Escritura? Certamente que o é. Mas experimentai pegar com as vossas mãos um qualquer livro de teologia dogmática e procurai lá a forma como se obtém a salvação para a igreja papista e vos apercebereis logo pelas primeiras palavras do quanto ela é extremamente complicada e também incerta, de tal maneira a fazer-vos perder logo a vontade de continuar a ler. Para vos fazer compreender como nós das muitas águas não fomos tirados porque nos submetemos ao rito do batismo ou por méritos nossos, mas somente porque invocamos o nome do Senhor, vos recordo um episódio que aconteceu no mar de Tiberíades nos dias de Jesus. Jesus, uma noite, enquanto os seus discípulos estavam no barco no meio do mar, foi ter com eles andando sobre o mar. Os seus discípulos quando o viram começaram a gritar de medo pensando que estavam a ver um fantasma, mas Jesus os sossegou dizendo-lhes para não temer porque era ele. Quando Pedro o ouviu dizer isso, lhe disse para mandar-lhe andar sobre as águas se era ele. Jesus lhe disse: “Vem! E Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mat. 14:29-31). Recordando a nossa vida passada, vivida ao serviço da iniquidade e da impureza, temos que dizer que nós nos encontrávamos numa cova de perdição, num charco de lodo, onde os nossos pés não tinham onde se apoiar, mas na angústia do nosso coração invocámos o nome do Senhor dizendo-lhe: ‘Senhor, salva-me’, e ele, na sua fidelidade, tendo ouvido o nosso clamor, nos tirou do lamaçal em que nos debatíamos. Mas que fizemos para sair dele? Tivemos que nos fazer imergir na água ou fizemos alguma boa obra porventura? Não, mas somente clamámos ao Senhor, como fez Pedro naquela noite no mar Tiberíades . Tudo isto para confirmação que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rom. 10:13).
Por fim queremos dizer algumas palavras sobre a interpretação papista dada às palavras de Paulo aos Colossenses para sustento da salvação por obras. Esta sua interpretação lhe dada é completamente arbitrária, porque se fosse assim como dizem eles então teríamos que afirmar que Cristo não sofreu o suficiente para nos libertar dos nossos pecados, e que há sofrimentos que o homem deve padecer para merecer a salvação. Mas o que vão tagarelando os teólogos papistas? Os sofrimentos de Cristo foram completos; não restam mortificações corporais a cumprir pelo homem pecador porque as de Cristo são suficientes para a sua salvação. Aquele “o que resta das aflições de Cristo” (Col. 1:24) de que fala Paulo não são as aflições de Cristo que faltam que é preciso cumprir para merecer a salvação; porque destas aflições não faltam nenhumas. Mas elas são as aflições que os crentes, que já estão salvos, são chamados a padecer por Cristo conforme está escrito: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele” (Fil. 1:29); e mediante as quais os crentes são julgados dignos do reino de Deus conforme está escrito: “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rom. 8:17).
Os resgatados devem fazer boas obras para fazer segura e firme a sua vocação e eleição
A Escritura diz claramente que nós não fomos salvos mediante obras justas, mas mediante a fé em Cristo e portanto pela graça de Deus. Mas a mesma Escritura também diz claramente que nós agora que estamos salvos devemos fazer boas obras. Paulo disse de facto aos Efésios que nós somos “feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef. 2:10); e a Tito que Jesus Cristo “se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14). Mas ainda antes de Paulo este conceito o tinha explicado o Senhor Jesus Cristo o qual tinha dito aos seus discípulos tê-los escolhido para que praticassem as boas obras. Eis as suas palavras: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15:16). Mas por que é que devemos ser zelosos nas boas obras? Porque Jesus disse: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto, e assim sereis meus discípulos” (João 15:8), e também: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mat 5:16) querendo significar que nós fazendo boas obras faremos glorificar o nome de Deus. Além disso deve-se ter presente que nós fazendo boas obras ajuntamos um tesuro no céu que constitui o galardão que o Senhor nos dará naquele dia (o que para nós é um estímulo). Jesus de facto quando disse ao jovem rico para vender tudo o que tinha e dá-lo aos pobres lhe disse: “e terás um tesouro no céu” (Mat 19:21), e Paulo disse a Timóteo para ordenar aos ricos “que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis, que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro” (1 Tim. 6:18,19).
Vos recordo por fim irmãos que as boas obras só podem estar presentes na nossa vida se observarmos os mandamentos de Deus conforme está escrito: “Quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto..” (João 15:5); mas estarão ausentes se nós não observarmos os mandamentos de Deus porque está escrito: “Como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim” (João 15:4). Para concluir dizemos isto: nós crentes sabemos que pela nossa fé fomos salvos do pecado e do presente século mau, e que pelos nossos trabalhos de amor (as nossas boas obras) seremos premiados, isto é, receberemos de Deus o fruto das obras que fizemos na terra por amor do Senhor e dos eleitos.