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Confutação da Igreja Católica Romana: a justificação

A doutrina dos teólogos papistas

 

A justificação se obtém pela fé mais as obras. A teologia papista diz que para obter a justificação não é suficiente crer, ou seja, que para ser declarado justo por Deus não basta só crer em Jesus Cristo. Eis na realidade como se exprime Bartmann: ‘Para obter a justificação são exigidos ao adulto, além da fé, também outros actos de virtude; só a fé não justifica – É de fé’ (Bartmann Bernardo, Manual de Teologia dogmática, Alba 1949, vol. II, pag. 315). Isto equivale a dizer que a justificação não se obtém pela graça de Deus mas por méritos próprios, de facto, se além da fé é preciso algum acto de virtude da parte do homem isso quer dizer que a justificação não é completamente gratuita, porque Deus quer que o homem faça alguma coisa de bom para consegui-la. Mas o que tem que fazer o homem para conseguir a justificação segundo a teologia papista? Antes de tudo tem que batizar-se porque o concílio de Trento afirmou que a justificação é concedida por Deus pelo batismo: ‘Causa instrumental é o sacramento do Batismo, que é o sacramento da fé, sem o qual jamais a alguém é concedida a justificação’ (Concílio de Trento, Sess. VI, cap. VII) [5], e depois tem que confessar-se ao padre para obter a remissão dos chamados pecados mortais cometidos depois do batismo e fazer boas obras porque estas últimas são justificantes e expiatórias. Para sustento desta justificação por obras tomam as seguintes palavras de Tiago: “Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tiago 2:21-24), e dizem que elas confirmam plenamente a sua doutrina segundo a qual para obter a justificação não basta só a fé porque Deus exige outros actos de virtude, e que portanto elas abatem um dos princípios fundamentais do ‘protestantismo’! Em defesa desta doutrina sobre a justificação o concílio de Trento emitiu os seguintes anátemas: ‘Se alguém disser que os sacramentos da Nova Lei não são necessários para a salvação, mas supérfluos; e que sem eles ou sem o desejo deles, só pela fé os homens alcançam de Deus a graça da justificação, ainda que nem todos sejam necessários para cada um; seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. VII, can. 4. O termo anátema deriva do grego anathema que significa ‘maldito’): ‘Se alguém disser que o ímpio é justificado somente pela fé, entendendo que nada mais se exige como cooperação para conseguir a graça da justificação, e que de nenhum modo é necessário que ele se prepare e disponha pela acção da sua vontade; seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. VI, can. 9).

 

Confutação

 

Se é justificado dos pecados pela fé em Jesus

 

Mas as coisas não são de modo nenhum assim como dizem os teólogos papistas porque a Escritura ensina que se é justificado por Deus somente pela fé. Ora, neste caso nós não falaremos do porquê do batismo não justificar (mesmo se já haveis compreendido que dado que se é justificado somente pela fé que precede o batismo, este último não pode de nenhum modo justificar), e nem do porquê da confissão ao padre não poder justificar (destes seus sacramentos falaremos mais difusamente a seguir), mas demonstraremos com as Escrituras que o homem é justificado só pela fé porque as obras justas não podem de nenhum modo justificá-lo [6].

Nós todos éramos inimigos de Deus nas nossas obras más e na nossa mente porque nós todos caminhávamos segundo as concupiscências da carne; mas quando Deus manifestou o seu amor por nós, Ele nos justificou, isto é, nos fez justos aos seus olhos, cancelando-nos todos os nossos pecados. E pela justificação nós fomos reconciliados com Deus e nos tornámos seus amigos conforme está escrito: “A sua amizade está com os sinceros” (Prov. 3:32). E esta justificação que nós obtivemos a recebemos por fé, e portanto por graça e não por obras. As seguintes Escrituras o testificam de forma clara.

• Paulo diz aos Romanos: “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo…” (Rom. 5:1), e: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus ” (Rom. 3:23,24), e ainda: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rom. 5:8,9); as palavras “justificados pelo seu sangue” significam que nós somos justificados mediante a fé no sangue de Cristo. E ainda aos Romanos Paulo diz: “Se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só – Jesus Cristo” (Rom. 5:17). Notai as palavras “o dom da justiça”; elas mostram que a justiça de Deus (a justificação) se obtém gratuitamente por Deus sendo um dom de Deus. Ela se pode obter precisamente crendo no Filho de Deus: todo o mérito pessoal é portanto excluído. Um outro versículo da carta aos Romanos que testifica que para ser justificado é necessário só crer em Cristo é aquele que diz que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rom. 10:4).

• Paulo diz aos Gálatas: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei” (Gal. 2:16); e: “A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gal. 3:24); e ainda: “Tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os Gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti” (Gal. 3:8) (isto aconteceu porque nós fomos benditos por Deus pela fé em Cristo que é descendência d`Abraão). E ainda aos Gálatas estão estas palavras: “Se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes” (Gal. 3:21,22). E na “promessa” estava também a justiça de Deus (portanto a justificação); a quem é dada? A quem crê ou a quem faz obras? A quem crê porque ela foi prometida pela fé em Jesus.

• “O justo viverá pela sua fé” (Hab. 2:4): estas palavras Deus as dirigiu ao profeta Habacuque, anunciando desta maneira que Ele justificaria os homens pela fé, “pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão” (Rom. 3:30).

Estas outras Escrituras ao invés testificam que os que se baseiam nas obras da lei não são justificados e não serão justificados diante de Deus:

• “Pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gal. 2:16);

Ÿ “O homem não é justificado pelas obras da lei” (Gal. 2:16);

Ÿ “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gal. 3:10,11);

Ÿ “Nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rom. 3:20).

Para demonstrar-vos como não se é justificado pelas obras mas somente pela fé vos recordo o exemplo de Abraão nosso pai. Ora, Abraão, segundo o que diz a Escritura, foi justificado por Deus pela sua fé na promessa feita a ele por Deus (cfr. Gen. 15:6), e esta justificação a obteve depois que ele saiu de Ur dos Caldeus (cfr. Gen. 12:4) e depois que ele deu o dízimo do melhor dos despojos a Melquisedeque, sacerdote do Deus altíssimo (cfr. Gen. 14:20).

Portanto, reiteramos com força as seguintes coisas:

Abraão não foi justificado por Deus porque ou quando obedeceu à ordem de Deus: “Sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei…” (Gen. 12:1). Certo, na epístola aos Hebreus está escrito que “pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança..” (Heb. 11:8), mas permanece o facto de que não foi este acto de obediência de Abraão que lhe imputou a justiça;

Abraão não foi justificado por Deus porque ou quando deu o dízimo a Melquisedeque; certo, ele fez algo de bom que Deus se agradou (aquele seu dízimo o recebeu no céu um de quem se testifica que vive), mas apesar disso, não foi em virtude dessa boa obra que Abraão foi justificado por Deus;

Abraão foi justificado por Deus porque creu na promessa de Deus conforme está escrito “Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rom. 4:3; Gen. 15:6); por isso também Abraão não tinha nada de que se gloriar diante de Deus.

Mas há um outro exemplo de um homem justificado por Deus pela graça mediante a sua fé, sem as obras da lei; é o daquele publicano que Jesus disse que tinha subido ao templo para orar juntamente com um Fariseu. Ele “nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador” (Lucas 18:13), e por se ter humilhado diante a Deus, pela a sua fé foi justificado conforme está escrito: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa…” (Lucas 18:14). Ao contrário, o Fariseu que dava graças a Deus por não ser roubador, injusto e adúltero como os outros homens, e fazia notar a Deus que ele pagava os dízimos de tudo o que possuia, que jejuava duas vezes na semana e que não era como aquele publicano, não foi justificado. Não é esta mais uma confirmação que a justificação se obtém somente mediante a fé pela graça de Deus sem as obras? Certamente que o é. Erram grandemente portanto os teólogos papistas quando afirmam que para ser justificado por Deus não é suficiente a fé em Deus.

Mas por que é que a justificação não se pode obter pelas obras justas da lei? O motivo pelo qual a justiça não se pode obter por meio das obras da lei é porque a lei foi dada para dar aos homens o conhecimento do pecado (cfr. Rom. 3:20) e para fazer abundar o pecado (cfr. Rom. 5:20), e não para fazer justos os homens. Deus, para fazer justos os homens, deu o seu Unigénito Filho, de facto, é através do Filho que veio a graça e que nós fomos justificados.

Ora, vimos que a Escritura diz que pelas obras da lei o homem não pode ser justificado dos seus pecados, porque a lei não tem o poder de justificar o pecador; vejamos portanto de perto algumas destas obras da lei que não justificam quem as cumpre. Na lei está dito: “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do Senhor, teu Deus” (Ex. 23:19); “Vendo extraviado o boi ou ovelha de teu irmão, não te esconderás deles; restituí-los-ás sem falta a teu irmão” (Deut. 22:1); “Todo o credor remitirá o que emprestou ao seu próximo; não o exigirá do seu próximo ou do seu irmão, pois a remissão do Senhor é apregoada” (Deut. 15:2); “Quando no teu campo segares a tua sega, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será, para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não tornarás atrás de ti a sacudir os ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não tornarás atrás de ti a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.” (Deut. 24:19-21). Estas são algumas das boas obras que Deus prescreveu na lei de Moisés porque há muitas mais. Elas são todas obras justas; no entanto por elas não se pode ser justificado dos próprios pecados! Não é bastante clara a Escritura a tal respeito? Certamente que o é para nós. Mas não para a cúria romana que não entende rectamente a Palavra de Deus; e se ilude e faz iludir as pessoas dizendo que se é justificado por Deus pelos sacramentos e fazendo boas obras: porque os sacramentos (batismo e penitência) tornam justos os homens e as boas obras são justificantes! Falando desta maneira os teólogos papistas anulam a graça e reduzem a morte expiatória feita por Cristo meramente a um gesto de amor com o qual Deus quis ajudar os homens a auto-justificarem-se! A mesma coisa se deve dizer da ressurreição de Cristo; ela ajuda a conseguir a justificação mas não é suficiente para justificar o homem, segundo eles! Ó guias cegos, mas quando caireis em vós mesmos, e reconhecereis que para ser justificado é suficiente somente a fé no Senhor Jesus Cristo?

Vimos antes que os vértices da igreja romana além de afirmar que é mediante os seus sacramentos que se obtém a justificação, nos declaram malditos porque nós afirmamos que o homem é justificado somente mediante a fé sem os seus sacramentos e sem obras justas! Mas estes perecem por falta de conhecimento das Escrituras porque se as conhecessem e as manejassem bem não diriam tais coisas. Está escrito claramente em Isaías que toda a justiça do homem é “como trapo da imundícia” (Is. 64:6), portanto não importa quantas obras justas fazem os homens para serem justificados diante de Deus, se eles não se arrependem e não crêem no evangelho continuam a ser considerados pecadores diante de Deus porque não é com as mãos que se faz alguma coisa para obter a justiça mas “com o coração se crê para a justiça” (Rom. 10:10), como diz Paulo aos Romanos. ‘É demasiado simples para ser verdade!’, exclamam os católicos romanos a respeito da maneira em que se é justificado. Certamente que aos olhos deles é demasiado simples e não crêem que seja verdade; lhes é continuamente dito que se é justificado fazendo sacrifícios e lhes é mantida escondida a palavra que diz: “Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rom. 4:5); (notai que “àquele que não pratica” significa ‘àquele que não se apoia nas obras justas para a sua salvação’). O que se pode esperar portanto que digam?

A vós homens que considerais poder ser justificados pelas obras e rejeitais ser justificados gratuitamente por Cristo Jesus digo isto: ‘Sabei que tendo uma semelhante conduta vós não fazeis mais que conservar em cima de vós os vossos trajes sujos (os pecados) e renunciar à veste branca (a justiça de Deus) de que são revestidos todos os que cessam de se apoiar nas suas próprias obras e crêem no Senhor Jesus para serem justificados. Por conseguinte vós continuais a ter sobre vós a ira de Deus porque estais ainda debaixo da maldição. Reflecti ó homens e mulheres; não compreendeis que, como diz Paulo, “se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gal. 2:21), e que procurando ser justificados pelas obras da lei não fazeis mais que anular a graça de Deus e fazer vã a fé para vós mesmos? Fazei pois isto; não vos apoieis mais nas vossas obras para serdes justificados mas somente crede que Jesus é o Cristo que morreu pelos vossos pecados e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia’.

 

Se é por graça já não é por obras, e se é por obras já não é por graça

 

A este ponto quero dizer algo mais que considero importante: os teólogos papistas quando falam da justificação fazem discursos nos quais por um lado afirmam que a justificação é gratuita (e para fazer isso se usam das passagens da Escritura que testificam claramente que o homem é justificado por Deus por graça), e por outro afirmam que a justificação depende também das obras que o homem faz. Parecerá estranho para muitos mas é assim mesmo; e disto nos apercebemos lendo os seus livros. É claro que as suas afirmações são contraditórias, (notai por exemplo como são contraditórias as palavras do concílio tridentino segundo as quais a graça da justificação não se pode obter somente pela fé porque são exigidas outras coisas além da fé para obtê-la; mas se é uma graça por que não basta a fé para consegui-la? Mas que tipo de graça é então? Uma graça que se merece? Mas então já não é graça porque a graça se obtém sem fazer nada mas só crendo em Deus!) mas não obstante isso eles procuram conciliá-las de toda a maneira, não sendo bem sucedidos porque é impossível conciliar a doutrina que diz que o homem é justificado por Deus somente pela fé sem as boas obras, e a que diz que o homem tem que cooperar com Deus fazendo boas obras para ser justificado. Se se aceita a justificação só pela fé tem que se descartar a justificação pelas obras, e se se aceita a justificação pelos méritos tem que se descartar a justificação só pela fé. A razão pela qual eles fazem estes discursos ambíguos e contraditórios entre si é para defender e sustentar a todo o custo toda aquela bagagem de doutrinas que acumularam no curso dos séculos; refiro-me à doutrina que diz que a graça se obtém pelos sacramentos, portanto praticando [operando] e não crendo; e à doutrina do purgatório, àquela sobre as obras de satisfação, àquela sobre as indulgências, e tantas e tantas outras doutrinas fundadas sobre o dogma da justificação por obras. Eles se dão conta que reconhecer a doutrina da justificação só pela fé significaria ter que rejeitar todas estas doutrinas aqui supracitadas, porque não haveria mais necessidade de crer nelas e de professá-las; por isso procuram de todas as maneiras fazer crer que o homem é justificado pelas obras. Quis fazer este discurso para vos fazer compreender que se os teólogos papistas atacam com tanto vigor a doutrina da justificação só pela fé e procuram anulá-la com toda a sorte de vãos raciocínios, é porque têm que a todo o custo manter credíveis as falsas doutrinas papistas fundadas sobre os méritos, em outras palavras porque têm que manter credível a igreja católica romana. Esta é a razão pela qual falando com os Católicos romanos é preciso insistir na doutrina da justificação só pela fé assim como está escrita na Palavra de Deus, para lhes fazer perceber que como se é justificado pela graça mediante a fé assim todas as doutrinas sobre méritos humanos da igreja romana são falsas e não podem ser aceites. Certamente, ao fazer isto se é perseguido pela cúria romana e pelos seus seguidores; porquê? Porque pregando que Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Cor. 1:30, e que portanto para ser justificado e santificado é preciso somente crer no Senhor Jesus, nós reputamos um nada todos os preceitos da igreja católica romana que afirmam que para ser justificado e santificado é preciso cumprir os seus ritos. Ritos cerimoniais, que importa dizer, em certos aspectos assemelham-se exteriormente aos da lei de Moisés, e que como os da lei de Moisés (que porém tinham sido ordenados por Deus) não podem de nenhum modo justificar e santificar as pessoas que os cumprem. Mas porque é que os ritos cerimoniais e não cerimoniais que fazem parte da lei de Moisés, como a circuncisão da carne, a observância de dias, meses, anos, luas novas, a abstenção de certos alimentos, as várias abluções, as várias aspersões de sangue e de água e muitas outras coisas não podiam e não podem justificar o homem pecador e não podem santificá-lo quanto à consciência? A razão é porque, a lei tendo a sombra dos bens futuros e não a realidade exacta das coisas, não podia e não pode cancelar os pecados da consciência do homem e santificá-lo (cfr. Heb. 9:9,10; 10:1-4; Col. 2:16,17). Mas agora que veio Cristo Jesus o Sumo Sacerdote dos bens futuros prometidos na lei e nos profetas, e que ele derramou o seu sangue para a propiciação dos nossos pecados, todos aqueles ritos foram cumpridos porque agora há a realidade dessas coisas. As sombras desapareceram e no seu lugar está a realidade. Mas o que fez ao invés a cúria romana? Tirou a realidade das coisas da frente do povo e a substituiu com espécies de sombras, se assim se podem chamar, que ela habilmente construiu apoiando-se nas sombras do Antigo Pacto e fazendo-as crer verdadeiras. E assim as pessoas pensam que para serem justificadas precisam receber na sua cabeça a água benzida do batismo e fazer muitas mortificações corporais e oferecer a Deus o sacrifício da missa e por aí fora, ou seja, observar os sacramentos da igreja romana; não é isto subverter o Evangelho de Cristo? Sim, certamente, estes subverteram o Evangelho de Cristo; ai deles; sofrerão a condenação. Nós dizemos portanto aos Católicos romanos que procuram ser justificados pelos seus sacramentos e pelas obras meritórias; ‘Sabei que esta doutrina que vos ensinam segundo a qual não podeis ser justificados se não cumprirdes os ritos prescritos pelas leis papais não vem d`Aquele que vos chama ao arrependimento mas do diabo que seduziu os papas e toda a cúria romana’.

 

Explicação das palavras de Tiago sobre o valor das boas obras

 

Tiago, o irmão do Senhor, disse: “Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tiago 2:21-24).

Vamos agora explicar estas suas palavras. Antes de tudo dizemos que Tiago escreveu estas palavras para crentes e não para incrédulos, de facto pouco antes diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas….” (Tiago 2:1); digo isto para vos fazer compreender que aqueles a quem estas palavras foram dirigidas tinham a fé e por isso já estavam justificados conforme o que está escrito: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo” (Gal. 2:16). Mas por que motivo Tiago lhes falou desta maneira? Porque alguns crentes embora tendo a fé recusavam fazer boas obras pensando que mesmo sem as obras a sua fé seria suficiente para salvá-los da ira de Deus, iludindo-se assim a si mesmos. [7].

E então ele primeiro os reprovou dizendo: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? ” (Tiago 2:14), e ainda: “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?” (Tiago 2:20) fazendo-lhes perceber que só a fé nada lhes valeria, e depois dando-lhes o exemplo de Abraão e de Raabe para confirmar que as obras têm que acompanhar a fé para que esta tenha valor. O discurso de Tiago versa sobre o facto que se alguém diz ter fé, isto é, de ter crido em Cristo Jesus, mas não tem as obras a sua fé é sem valor, ou, como diz num outro lugar é morta. São palavras duras as de Tiago, mas elas nos fazem compreender quanto são importantes as boas obras para nós crentes; cuidai que Tiago não disse de maneira nenhuma que a justiça se obtém pelas obras da lei ou que o homem pecador é perdoado ou recebe a vida eterna em virtude das suas boas obras; atribuir este significado às suas palavras significaria dizer que Tiago tinha subvertido o Evangelho porque obrigava os Gentios a viverem como Judeus dizendo-lhes que se é justificado pelas obras da lei. O seu discurso tem antes como finalidade desencorajar qualquer crente de pensar que depois de ter crido mesmo se recusa fazer boas obras será agradável na mesma aos olhos de Deus e será salvo. Portanto, se a fé em Deus sem as obras não tem valor como não tem valor o facto de também os demónios crerem que há um só Deus, é necessário concluir que a fé que tem valor é aquela que tem as boas obras, e de facto isto é confirmado pelo apóstolo Paulo que diz aos Gálatas: “Aquilo que tem valor é a fé que opera pelo amor” (cfr.Gal. 5:6), e aos Coríntios: “A observância dos mandamentos de Deus é tudo” (1 Cor. 7:19). A comparação feita por Tiago é verdadeiramente apropriada; porque se alguém reflectir bem também os demónios crêem que há um só Deus como o cremos nós; e se é por isto eles, quando Jesus estava sobre a terra, demonstraram também saber que Jesus era o Filho de Deus, o Santo de Deus e o Cristo de facto disseram a Jesus: “Tu és o Filho de Deus!” (Mar. 3:11), e ainda: “Bem sei quem és: o Santo de Deus” (Mar. 1:24), e Lucas diz que eles “sabiam que ele era o Cristo” (Lucas 4:41). Mas não é por os demónios crerem que há um só Deus, ou porque sabem que Jesus é o Cristo e o Filho de Deus, que isso significa que eles serão salvos do fogo eterno; de maneira nenhuma, porque nós sabemos também que eles sabem que um dia serão lançados no fogo eterno para serem atormentados pela eternidade porque disseram a Jesus: “Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?” (Mat. 8:29); esta é a sorte que lhes está reservada. Assim não é porque alguém creu em Cristo que se pode permitir a recusar fazer boas obras, porque em tal caso nada lhe aproveitaria um dia ter crido.

Voltemos às boas obras; elas servem para fazer e manter viva a nossa fé no Senhor, de facto se um crente cessa ou se recusa a fazer boas obras por certo a sua fé morrerá e será como uma lâmpada fundida que não pode dar luz. Tiago o disse claramente: “Como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26); para que serve um corpo sem o espírito nele? Para nada, porque não pode falar, não pode mover-se, não pode ajudar ninguém. Para que serve a fé sem as obras? Para nada, porque não opera nada em prol daqueles que são necessitados; ela é morta. Também Paulo falou de uma maneira semelhante a Tiago quando disse aos Romanos: “Se viverdes segundo a carne, morrereis” (Rom. 8:13); portanto as referidas palavras de Tiago encontram uma confirmação também nos escritos de Paulo. Se um crente de facto começa a andar segundo a carne (rejeitando assim fazer boas obras) morre espiritualmente, embora diga de ter fé, de crer em Deus, de crer que Jesus é o Filho de Deus, etc.

Tiago deu o exemplo de Abraão para explicar como o patriarca foi justificado pelas suas obras e não pela sua fé somente. Ora, para evitar mal entendidos começamos por dizer que Abraão, segundo o que diz a Escritura, quando creu na promessa lhe feita por Deus a sua fé lhe foi imputada como justiça conforme está escrito: “E creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gen. 15:6), portanto ele recebeu o perdão dos seus pecados pela sua fé, por graça. Não fez nenhuma obra meritória ou boa obra para obter a justiça, porque também ele foi justificado por Deus pela fé. De facto Paulo diz que “se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus” (Rom. 4:2) porque a Escritura diz que ele creu em Deus e esta sua fé lhe foi imputada como justiça. Portanto, Abraão teve fé em Deus, mas o patriarca demonstrou de ter fé em Deus tanto quando creu com o seu coração na promessa que Deus lhe havia feito como também quando ofereceu o seu filho Isaque sobre o altar como lhe tinha ordenado para fazer Deus. Vós sabeis de facto que diversos anos depois de Abraão ter crido, Deus colocou à prova Abraão ordenando-lhe de ir sobre um monte e oferecer em holocausto o seu filho Isaque. E Abraão obedeceu a Deus, considerando que Deus o ressuscitaria dos mortos para cumprir a seu respeito a promessa que tinha feito (cfr. Heb. 11:17-19). Portanto ele creu que recuperaria o seu filho mediante uma ressurreição, e que não o perderia porque Deus lhe tinha que manter as promessas feitas. E por esta sua fé ele agradou a Deus de facto quando ele estava para degolar Isaque o anjo de Deus lhe disse: “Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus” (Gen. 22:12) e lhe jurou também por si mesmo que o abençoaria e lhe multiplicaria a sua descendência como as estrelas do céu. Tiago diz que Abraão foi justificado pelas obras quando ofereceu o seu filho e isso é verdade porque Abraão mediante aquela obra que fez demonstrou temer a Deus e de crer firmemente na sua promessa. Portanto podemos dizer que Abraão demonstrou com os factos a fé que ele tinha em Deus; e por isso foi chamado amigo de Deus. Como Abraão também nós que cremos seremos chamados amigos de Cristo se fizermos o que ele nos manda fazer conforme está escrito: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14); mas se nós dizemos crer em Cristo Jesus e depois recusamos observar as suas palavras como poderemos demonstrar que cremos nele e pretender ser chamados amigos de Cristo e de Deus? Nos meteremos ao mesmo nível de muitas pessoas do mundo que se dizem Cristãs, dizem crer em Jesus, mas sendo incapazes de realizar alguma boa obra demonstram que não crêem nele. Como a fé de Abraão foi aperfeiçoada pelas suas obras, assim também a nossa fé será aperfeiçoada pelas nossas boas obras. O apóstolo Pedro explica isto na sua segunda epístola desta maneira: “Fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Ped. 1:10,11). Fazendo o quê? Aquilo que ele falou pouco antes: isto é acrescentando à fé a virtude, a ciência, a temperança, a paciência, a piedade, o amor fraterno e a caridade (cfr. 2 Ped. 1:5-7). Portanto também Pedro cria que acrescentando à nossa fé as boas obras (de facto a piedade, o amor fraterno e a caridade como se manifestam na prática senão fazendo boas obras no relacionamento com aqueles de dentro primeiro, e depois com os de fora?) nos será concedida a entrada no reino de Deus, ou dito de uma outra forma, fazemos segura a nossa vocação e eleição. Reflictamos: porque é que depois de ter crido se sente a necessidade de fazer boas obras? Sim, está-se seguro de ter sido perdoado pelo Senhor, sim, está-se seguro de ser um filho de Deus, de ter a vida eterna; mas apesar disso em nós surge o grande desejo de nos pormos a fazê-las para fazer segura a nossa eleição, porque sentimos que dizendo somente que cremos sem fazer nada em benefício dos santos para a glória de Deus, não fazemos firme a nossa eleição. E depois, deve-se ainda ter presente que as boas obras levam o próximo, que as vê fazer, a glorificar a Deus, de facto Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mat. 5:16); e portanto constituem uma maneira de honrar Deus e a sua doutrina. Ao contrário o recusar fazer boas obras leva o nosso próximo a blasfemar o nome de Deus e a sua doutrina conforme está escrito: “O nome de Deus é blasfemado entre os Gentios por causa de vós” (Rom. 2:24).

Para concluir dizemos isto: a fé necessita das boas obras para ser aperfeiçoada, mas isso não significa que a fé não é suficiente para ser justificado porque a Escritura afirma que “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo” (Gal. 2:16). Longe de nós por isso de nos pormos a fazer como fizeram os crentes da Galácia que depois de ter começado com o Espírito queriam alcançar a perfeição com a carne, depois de ter aceitado Cristo o tinham renunciado porque queriam ser justificados pela lei (cfr. Gal. 5:4), o que fez indignar e preocupar Paulo que os admoestou severamente e disse-lhes que estava de novo em dores de parto por eles até que Cristo fosse formado neles (cfr. Gal. 4:19). Irmãos, cuidai de vós mesmos, e tende sempre presente que procurar querer ser justificado pelas obras é uma ofensa a Cristo porque se anula a sua obra expiatória. Sede zelosos nas boas obras mas não penseis que elas possam acrescentar algo mais aos méritos de Cristo como infelizmente fazem os Católicos romanos.

 

As palavras de Tiago não confirmam a doutrina papista da justificação

 

Se Abraão tivesse sido justificado, ou seja, se ao patriarca Deus tivesse imputado a justiça, mediante a fé e as obras que seguiram, ele teria tido de que se gloriar diante de Deus porque poderia dizer que a justiça lhe tinha sido imputada por Deus não só pela fé mas também pelas suas obras (e portanto não inteiramente pela graça mas também pelos seus méritos pessoais), mas Abraão não podia dizer nada disto porque Paulo diz que “Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rom. 4:3); aquele “isso” refere-se exclusivamente ao seu acto de fé e não ao acto de fé mais obras. Abraão creu na promessa que Deus lhe tinha feito, isto é, que Ele faria a sua descendência semelhante às estrelas do céu que não se podem contar, e em virtude disso foi justificado no instante em que creu com o seu coração nessas palavras de Deus. Não está porventura escrito que “com o coração se crê para a justiça” (Rom. 10:10)? Que há pois de estranho se Abraão por ter somente crido com o seu coração naquela promessa de Deus foi por ele justificado?

Mas há uma coisa mais a dizer: Paulo aos Romanos afirma que “a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé” (Rom. 4:13); isto significa que a herança foi por Deus dada a Abraão pela justiça da fé e não pela justiça das obras. Em outras palavras Abraão tornou-se herdeiro do mundo por meio da fé e não por meio de obras justas feitas. Isso porque ele creu na promessa que Deus lhe daria tantos filhos (a herança que vem de Deus) como as estrelas do céu. Se na realidade ele não tivesse crido como poderia ver o cumprimento daquela promessa divina de se tornar pai de uma multidão? Não está porventura escrito que pela fé os profetas “alcançaram promessas” (Heb. 11:33)? Que dizer então a propósito da promessa que Deus fez a Abraão depois que viu que o patriarca não lhe tinha recusado o seu único filho? Diremos que quando Abraão obedeceu a Deus e foi sobre o monte Moriá oferecer o seu filho Isaque, depois que Deus o deteve confirmou-lhe a promessa que anos antes lhe tinha feito, de facto lhe jurou: “Porquanto fizeste isto, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, que deveras te abençoarei, e grandemente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus” (Gen. 22:16,17). A confirmou-lhe significa que Abraão já tinha a promessa de Deus, de facto, ela foi feita quando ainda Isaque não era sequer nascido, e portanto não foi por méritos que ele tornou-se pai de muitas nações, mas só pela sua fé tida por ele em Deus antes de ser circunciso e antes de oferecer Isaque sobre o monte Moriá. Por isso Paulo diz aos Gálatas que “se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão” (Gal. 3:18), e aos Romanos que “se os que são da lei são herdeiros, logo a fé é vã e a promessa é anulada” (Rom. 4:14), para testificar que como Abraão foi constituído herdeiro do mundo pela sua fé, assim também nós fomos constituídos herdeiros do Reino de Deus pela fé sem as obras; porque se a herança fosse pela fé mais as obras então a promessa seria anulada.

Agora vejamos as consequências práticas a que levariam as palavras de Tiago se quisessem dizer o que lhes fazem dizer os teólogos papistas. Se é a fé mais as obras que justifica, e não só a fé, seria necessário estabelecer quantas obras e de que género são precisas depois de ter crido para ser justificado (Abraão ofereceu em sacrifício o seu filho, Raabe praticou a hospitalidade com os estrangeiros, mas o que teria que fazer o homem para obter esta justificação depois de ter crido?), e então surgiriam as seguintes perguntas: Como se faria para estabelecer a quantidade de obras a fazer para conseguir esta justificação, qual critério importaria adoptar? Como poderia quem creu estar seguro de estar justificado em qualquer momento da sua vida vivendo com a dúvida de não ter feito porventura o suficiente? Não é porventura verdade que um homem nunca poderia estar seguro de ter sido justificado inteiramente por Deus se seguisse a teologia papista? Certamente que seria assim; mas isto é mesmo o querem os papas; ter as pessoas continuamente na dúvida da sua justificação para induzi-las a fazer obras após obras. E assim as almas permanecem escravas do papado.

Além disso, se a justificação se obtivesse pela fé mais as obras, como poderia alguém que se encontra a morrer obtê-la? Ela lhe estaria preclusa porque estaria impossibilitado de fazer boas obras [8]. Em substância, se um moribundo perguntasse o que tem de fazer para ser salvo porque quer ser salvo, teria que se lhe dizer que a fé só não basta, é preciso também as obras: não significaria isto fazê-lo cair no mais profundo desespero em vez de ser-lhe de consolação? E que notícia lhe anunciaremos? Certamente não a Boa Notícia da paz.

E ainda, se além da fé for preciso as obras para ser declarado justo por Deus isso significa que no momento em que alguém crê em Cristo não lhe é imputada toda a justiça de Deus que vem pela fé como diz a Escritura mas apenas uma parte porque restaria ao crente o ter de fazer alguma coisa para assegurar a parte em falta de justiça. Mas tudo isto não se concilia de nenhuma maneira com estas passagens da Escritura: “O fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rom. 10:4); “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção…” (1 Cor. 1:30). Portanto a interpretação que lhe dão os Católicos àquelas palavras de Tiago não pode senão ser falsa porque ela não atribui mais inteiramente à fé o poder de fazer justificar o homem, mas o divide entre a fé e as obras.

Mas vamos agora aos factos para ver se Tiago quis dizer aquilo que dizem os Católicos romanos. Os Católicos dizem que a fé mais as obras justifica e que só a fé não justifica; por conseguinte eles deveriam estar seguros de estar justificados porque têm a fé e as obras. Mas os factos demonstram que eles não estão de modo algum seguros de estar justificados. Como é possível isso? É possível porque eles na realidade não creram com o coração para obter o dom da justiça; se de facto tivessem verdadeiramente crido teriam obtido este dom e não estariam mais na dúvida. O facto portanto de eles não ousarem afirmar terem sido justificados uma vez para sempre, ainda que digam crer, porque estão ainda fazendo as obras necessárias para conseguir a justificação, significa que eles não creram de maneira nenhuma. E que é assim, isto é, que verdadeiramente não creram em Cristo Jesus, é confirmado pelo facto de não estarem seguros de terem sido perdoados, de terem a vida eterna e por aí fora. Não disse porventura Pedro que todo aquele que crê em Jesus recebe a remissão dos pecados pelo seu nome (cfr. Actos 10:43)? Como é que então eles que dizem crer não têm a certeza de ter todos os seus pecados perdoados, mas têm que continuamente ir ao padre e fazer obras de satisfação? Não disse porventura Jesus que “Aquele que crê tem a vida eterna” (João 6:47)? Como é que então eles dizem crer mas não têm a vida eterna?

Este facto então de dizer que além da fé é preciso as obras para ser justificado não é mais que um hábil sofisma para disfarçar a própria incerteza mas também o próprio orgulho porque quem fala assim considera que Cristo não fez o suficiente para justificá-lo. Ele demonstra a própria insolência porque desta maneira faz passar Deus por alguém que não pode justificar completamente um homem em virtude só da sua fé, fazendo assim passar Deus por mentiroso. Eis o que acontece na igreja católica romana, faz-se passar Deus por mentiroso. Ó homens e mulheres tende plena confiança nas palavras verazes de Deus em vez de nas falsas dos vossos teólogos e obtereis nesse instante a justificação. Crede que Cristo morrendo na cruz expiou todas as vossas dívidas e vos adquiriu o dom da justiça e que basta a fé para obter a expiação das vossas dívidas e receber o dom da sua justiça; e vereis como nesse instante vos sentireis lavados com o sangue de Cristo e justificados na sua presença pela vossa fé, e portanto pela graça de Deus. Fazei-o, antes que seja demasiado tarde, não deis ouvidos aos sofismas papistas, o Senhor está pronto a justificar-vos.

 

Fonte

 

 

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