Confutação da Igreja Católica Romana: a penitência (ou confissão)
A doutrina dos teólogos papistas
Mediante a penitência são perdoados pelo padre, que é o ministro dela, os pecados mortais cometidos depois do batismo porque o padre recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados. Este sacramento é absolutamente necessário para a salvação. Quem comete pecados mortais e não se confessa vai para o inferno. A confissão deve ser feita pelo menos uma vez por ano; e entre outras coisas devem ser especificados ao padre as espécies e as circunstâncias dos pecados mortais. O penitente porém depois de ter recebido a absolvição deve fazer obras de penitência para obter plena absolvição das suas transgressões. E além disso ele deve lucrar as indulgências para obter a remissão da pena temporal devida pelas suas transgressões.
‘A Penitência ou Confissão é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 518).
Pelo que concerne ao tempo no qual a penitência foi instituída por Cristo, Perardi, ainda no seu catecismo, afirma:
‘O Sacramento da Penitência foi instituído por Jesus Cristo quando disse aos Apóstolos, e neles aos seus sucessores: Recebei o Espírito Santo: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’ (ibid., pag. 518).
Além destas palavras de Jesus os teólogos papistas tomam outras passagens da Escritura para confirmar a penitência; a que diz que Deus tinha posto a palavra da reconciliação em Paulo e nos outros apóstolos que estavam com ele (cfr. 2 Cor. 5:19), a que diz que as multidões iam ter com João e eram batizadas no rio Jordão confessando os seus pecados (cfr. Mar. 1:5), a que diz que em Éfeso muitos dos que tinham crido vinham confessando e declarando as coisas que tinham feito (cfr. Actos 19:18), a que diz para confessar as culpas uns aos outros (cfr. Tiago 5:16), e as palavras que Jesus pronunciou depois de ter ressuscitado Lázaro: “Desligai-o e deixai-o ir” (João 11:44). A razão pela qual este sacramento é chamado penitência é
‘porque para obter o perdão dos pecados é necessário estar arrependido de os ter cometido e fazer a penitência que o confessor ordena’ (Giuseppe Perardi, op. cit. , pag. 518); é chamado confissão ‘porque é necessário confessar ao sacerdote todos os pecados mortais’ ( ibid., pag. 518).
É bom ter presente que, segundo a teologia romana, a penitência diz respeito sobretudo à confissão dos chamados pecados mortais, porque para os chamados veniais os Católicos podem ser absolvidos sem ela; e que a absolvição, ou seja
‘a sentença com a qual o sacerdote, em nome de Jesus Cristo, perdoa os pecados ao penitente (dizendo: Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Assim seja) é considerada um verdadeiro acto jurídico pronunciado por um juíz com o qual o pecador é absolvido. E para quem não a considera tal há este anátema tridentino: ‘Se alguém disser que a absolvição sacramental do sacerdote não é um acto judicial (…) seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. XIV, can. 9).
Segundo o que ensina o catecismo católico os Católicos devem ir ao padre fazer a confissão dos seus pecados para ter a absolvição deles pelo menos uma vez por ano. Isto o devem fazer com base no seguinte decreto do concílio Latrão IV de 1215:
‘Qualquer fiel de um ou de outro sexo, chegado à idade da razão, confesse fielmente, por si mesmo, todos os seus pecados, ao seu pároco pelo menos uma vez por ano…’ (Concílio Latrão IV, Cost. XXI).
E dado que mencionámos este concílio, recordamos que foi precisamente este concílio a introduzir o dogma da penitência obrigatória a fazer-se ao padre na igreja romana; antes daquele ano de facto, ela não era considerada obrigatória.
O catecismo romano afirma que:
‘ Para fazer uma boa confissão se exigem cinco coisas: 1) o exame de consciência; 2) a dor pelos pecados; 3) o propósito de não os cometer mais: 4) a confissão; 5) a satisfação ou penitência ’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 521). Quero agora deter-me brevemente sobre estes últimos dois aspectos deste sacramento. Segundo a teologia romana quem vai confessar-se ao padre deve manifestar ao sacerdote a espécie dos pecados, o seu número e as circunstâncias sobre todos os pecados cometidos, com efeito, o concílio de Trento a tal propósito decretou: ‘Pois é claro que os sacerdotes não poderiam exercer este juízo sem conhecer a causa nem impor as penitências com equidade, se os penitentes declarassem só genericamente, e não específica e detalhadamente os seus pecados. Daí segue que os penitentes devem dizer e declarar na confissão todos os pecados mortais de que se sentirem culpados, depois de feito um diligente exame de consciência, ainda que sejam os mais ocultos e cometidos somente contra os dois últimos mandamentos do decálogo (…) Deduz-se, além disso, que na confissão é necessário também explicar aquelas circunstâncias que mudam a espécie do pecado, porque sem elas os pecados não são cabalmente apresentados pelo penitente, nem suficientemente conhecidos aos juizes para fazerem uma apreciação justa sobre a gravidade das culpas, e para impor ao penitente uma pena proporcionada’ (Concílio de Trento, Sess. XIV, cap. V). Perardi no seu manual confirma isto dizendo: ‘ Devemos acusar os pecados mortais plenamente, sem nos deixarmos vencer por uma falsa vergonha calando algum pecado mortal, declarando a espécie deles, onúmero e também as circunstâncias que acrescentam uma nova grave malícia’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 535).
Por quanto respeita à espécie, os Católicos devem confessar de que género é o pecado; se é um furto, uma briga, uma mentira etc. Por quanto respeita ao número eles são obrigados a confessá-los todos, sem esconder nenhum deles; por exemplo se faltam à missa por três vezes devem dizer que não foram à missa por três vezes etc. Se ocultassem um só pecado eles cometeriam um sacrilégio e não fariam uma boa confissão! Por quanto respeita por fim às circunstâncias, segundo o que escreveu Tomás de Aquino (um doutor da igreja romana) são estas: Quem, o quê, Onde, Com que ajudas, Porquê, Como, Quando. Para explicá-las nos serviremos de um exemplo. Um homem que se fez culpado de um furto e vai confessá-lo ao padre deve especificar-lhe as seguintes coisas para que o padre saiba julgar bem e dar a sentença.
1) Quem cometeu o furto: se rico, ou pobre; se pai de família, ou filho; se secular ou padre.
2) O que roubou: se dinheiro, e quanto; ou objectos de vestir, ou víveres, ou objectos sacros, como cálices etc..
3) Onde cometeu o furto: se no campo, na cidade ou em outro lugar.
4) Com que ajudas: se teve companheiros, se escalou muros..
5) Por que roubou: se levado pela necessidade, ou por vingança, ou por outro qualquer motivo, como por exemplo, para se ir divertir.
6) Como: se fez violência, ou se se introduziu escondido, e não tenha sido visto por ninguém.
7) Quando cometeu o furto: se de dia ou de noite, etc.
Portanto os teólogos papistas ensinam aos Católicos romanos não só que o padre tem o poder de absolvê-los, mas também que para serem absolvidos devem confessar-lhe a espécie, o número e as circunstâncias dos pecados.
Depois de o Católico confessar ao padre todos estes particulares sobre os seus pecados mortais o catecismo romano diz que o padre primeiro lhe dá a absolvição dos pecados e depois lhe dá a satisfação ou penitência sacramental que
‘é a boa obra imposta pelo confessor para castigo e para correcção do pecado, e para pagamento da pena temporal merecida pecando’ (ibid., pag. 543).
Porquê? Porque
‘o Sacramento da Penitência, aplicando à alma os méritos de Jesus Cristo, perdoa a pena eterna, mas deixa ordinariamente uma pena temporal a pagar ou nesta vida ou na outra. Deus quer que demos também nós uma satisfação; não é justo que só Jesus Cristo deva expiar toda a pena dos pecados do cristão’ (ibid. , pag. 543).
Mas mesmo depois de ter feito a penitência sacramental, que Perardi diz que se o padre não fixou quando fazê-la, é preferível fazer
‘antes de sair da igreja ou ao menos o mais cedo que podeis’ (ibid. , pag. 544),
fica ainda uma coisa por fazer para expiar a pena, de facto Perardi diz:
‘A penitência sacramental não basta, de ordinário, para nos libertar de toda a pena temporal merecida com o pecado, e por isso convém suprir com outras obras de penitência e de piedade e comindulgências’ (ibid., pag. 544).
Na substância, segundo esta doutrina da satisfação, os pecados o homem os pode expiar em parte confiando-se aos méritos de Cristo e em parte fazendo precisamente estas obras. Portanto aos Católicos são ensinadas diversas coisas a respeito dos pecados que cometem; a primeira é que indo-se confessar ao padre este lhe os perdoa com a autoridade divina, a segunda é que como a penitência perdoa a pena eterna mas deixa uma temporal a ter que pagar – porque para obter logo a remissão de toda a pena merecida pelo pecado seria preciso uma contrição perfeitíssima – assim se deve dar a Deus a satisfação da pena temporal. Isto se faz primeiro com a penitência sacramental, e depois com as obras de penitência e de piedade, que segundo o Novo Manual do Catequista são:
‘Os jejuns, as mortificações, os actos de misericórdia espiritual e corporal, as orações, e o uso piedoso das coisas benzidas e das cerimónias sagradas que se chamam sacramentais, como a água santa e as várias bençãos’ (ibid. , pag. 544).
E também para quem rejeita as obras de penitência o concílio Tridentino lançou o enésimo anátema:
‘Se alguém disser que as satisfações com que os penitentes por Jesus Cristo procuram reparar os pecados, não são culto de Deus, mas tradições humanas, que obscurecem a doutrina da graça e o verdadeiro culto de Deus e o próprio benefício da morte do Senhor, seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. XIV, can. 14).
Mas às obras de penitência e de piedade, como vimos antes, a elas devem-se acrescentar também as indulgências. O que é a indulgência?
‘É uma remissão de pena temporal devida pelos pecados; que a Igreja concede sob certas condições a quem está em estado de graça, (aplicando-lhe os méritos e as satisfações superabundantes de Jesus Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos, que constituem o tesouro da Igreja)’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 546).
Ela pode ser plenária quando por meio dela é perdoada toda a pena temporal devida pelos pecados; parcial quando é apenas uma remissão parcial da referida pena. Mas por que motivo a cúria romana introduziu a prática das indulgências? A razão é esta: explicada nestes termos:
‘O fim intencionado pela autoridade eclesiástica na concessão das indulgências é não apenas ajudar os fiéis a pagarem as penas do pecado, mas também incitá-los ao exercício das obras de piedade, de penitência e de caridade e, particularmente, das obras que conduzem ao progresso da fé e ao bem geral’ (Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina de Paulo VI, 8).
E também para os que não aceitam as indulgências há o relativo anátema tridentino que é o seguinte:
‘O poder de conferir indulgências foi condedido à igreja por Cristo e ela usou deste poder, a ela divinamente concedido, desde os tempos mais antigos. Por isso ensina e ordena o santo sínodo que se deve manter na Igreja o uso das Indulgências, sumamente proveitoso ao povo cristão, e aprovado pela autoridade dos sagrados concílios e considera anátema os que afirmam ser inúteis ou neguem que a Igreja tenha o poder de concedê-las’ (Concílio de Trento, Sess. XXV, cap. XXI) [ 15].
Ora, as indulgências podem ser adquiridas pelos Católicos fazendo obras; vejamos agora quais são algumas destas obras de trabalho que fazem lucrar a indulgência plenária da igreja, tendo presente que segundo a norma seis da Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina a indulgência plenária só pode ser adquirida uma vez por dia.
Ÿ A adoração ao Santíssimo Sacramento por pelo menos meia hora;
Ÿ A leitura espiritual da Sagrada Escritura por pelo menos meia hora;
Ÿ O piedoso exercício da Via Crucis (Sessolo Giovanni, L’aggiornamento delle indulgenze [A actualização das indulgências ] , Milano 1968, pag. 61);
Ÿ A recitação do Rosário mariano na igreja ou no oratório público, ou em família, numa Comunidade religiosa, numa piedosa Associação (Sessolo Giovanni, op. cit., pag. 61).
Entre as indulgências plenárias está também a chamada Jubileu.
A indulgência parcial, ao contrário, a pode lucrar:
Ÿ quem recita a jaculatória ‘Jesus, José e Maria, vos dou etc..’;
Ÿ quem recita o Angelus Domini, as Litanias, a Salve, Rainha (ibid., pag. 18);
Ÿ o fiel que utiliza religiosamente um objecto de piedade (crucifixo, cruz, terço, escapulário, medalha), validamente abençoado por um qualquer sacerdote (Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina, norma 17).
Há outras obras ou cerimónias sacramentais pelas quais os Católicos podem adquirir tanto as indulgências plenárias como as indulgências parciais, mas me fico por aqui com as indulgências [16].
A este ponto perguntar-se-á: ‘Mas o Católico então depois de se ter confessado de maneira regular, e feito obras de penitência para expiar os seus pecados, e depois de ter adquirido a indulgência plenária, está seguro de ir para o paraíso?’ Em teoria sim, deveria estar perfeitamente seguro disso, mas na prática não está, e não pode está-lo de modo nenhum, porque diz Perardi:
‘Poderemos esperar nos encontrar, no momento da morte, tão puros, tão santos de forma a merecer logo o Paraíso?’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 175).
Aliás – dizem eles – ninguém é perfeito, imperfeições todos têm, qualquer pecado venial o se contrai também depois de ter adquirido a indulgência plenária, e por isso, quem pode dizer que vai logo para o paraíso! Portanto, antes de ir para o paraíso é necessário ir estacionar por algum tempo no purgatório para purgar o resíduo de culpa que permanece, mediante penas muito severas; então e só então se poderá ir para o paraíso, porque se estará santo e puro. Ninguém pois se permita a dizer que quando morrer irá logo para o céu porque isso é presunção que ofende a justiça de Deus!
Por quanto respeita à necessidade deste sacramento, segundo a teologia romana, ele é indispensável para obter a salvação, da mesma maneira em que é indispensável o batismo para ser regenerado:
‘O sacramento da Penitência é absolutamente necessário à salvação para todos os que pecaram gravemente depois do Batismo. – É de fé’ (Bernardo Bartmann, op. cit., pag. 311).
Isso significa que se por exemplo um Católico morre sem ter confessado os seus chamados pecados mortais ao padre, é declarado ter ido para o inferno.
Para a igreja romana portanto a confissão é um sacramento muito importante e para os que não o aceitam há o seguinte anátema do concílio de Trento:
‘Se alguém disser que a Penitência na Igreja Católica não é um verdadeiro e próprio sacramento instituído por Jesus Cristo Nosso Senhor para reconciliar os fiéis com Deus, todas as vezes que depois do Batismo caírem em pecados, seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. XIV, can. 1).
Confutação
A Escritura não confirma a confissão feita ao padre
Ora, os teólogos papistas afirmam que os padres receberam o poder de perdoar os pecados de Cristo porque está escrito que Jesus disse aos apóstolos: “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” (João 20:23)! Mas as coisas são mesmo assim? De maneira nenhuma. Antes de tudo devemos dizer que se Cristo com essas palavras tivesse instituído este sacramento da confissão assim como o possui a igreja católica romana deveria haver a tal propósito confirmações bem precisas tanto nos Actos dos apóstolos como nas epístolas dos apóstolos tendo presente também o facto de ele ser considerado indispensável para conseguir a salvação porque através dele são perdoados os pecados ‘mortais’ cometidos depois do batismo. Mas temos que dizer que em todos estes escritos do Novo Testamento não há nenhum rasto deste chamado sacramento administrado pelos apóstolos aos crentes. De facto nem uma vez, digo nem uma vez, se encontra que os apóstolos exigiram que os crentes se fossem confessar a eles para obter a remissão dos seus pecados. Uma clara confirmação de que os apóstolos não exigiam aos crentes que se fossem confessar a eles para obter a remissão dos seus pecados e portanto que eles não tinham a autoridade de reconciliar os crentes com Deus (que os padres, ao contrário, pretendem ter) a temos no caso de Simão, nos Actos dos apóstolos. Lucas diz que “creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe…” (Actos 8:13), portanto tinha se tornado também ele um crente. Mas quando os apóstolos Pedro e João foram a Samaria para orar pelos crentes para que recebessem o Espírito Santo aconteceu que ele “vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo” (Actos 8:18,19). Eis pois um crente que depois do batismo caiu num pecado (segundo a teologia romana um pecado ‘mortal’ pois é simonia [ 17] e portanto ele tinha a obrigação de confessar-se aos apóstolos para obter a remissão dele), portanto, dado que Pedro e João estavam ali, aquilo que se esperaria era que eles lhe dissessem para que se arrependesse e que viesse confessar-se a eles. Mas não aconteceu nada disso porque Pedro diz-lhe: “Arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração..” (Actos 8:22). Notai que Pedro neste caso disse a Simão (que tinha também ele crido) para se arrepender e orar a Deus para que lhe fosse perdoado o seu pecado. O apóstolo não lhe disse: ‘Arrepende-te e depois vem confessar-te a nós, porque temos o poder de perdoar os pecados da parte de Deus’, mas disse-lhe para arrepender-se e orar directamente a Deus para que ele lhe perdoasse o seu pecado. Como podeis ver, por este episódio citado por Lucas se aprende de maneira inequívoca que os crentes depois do batismo para obter a remissão das suas ofensas deviam confessá-las directamente a Deus sem a mediação de nenhum homem sobre a terra. Que a confissão dos pecados os crentes a deviam fazer directamente a Deus aos dias dos apóstolos quando eles estavam vivos o se deduz claramente também da epístola de João, um dos apóstolos a quem Jesus disse: “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados” (João 20:23). Na sua primeira epístola ele afirma: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a iniquidade” (1 João 1:9). Mas a quem deviam confessar esses pecados? A Deus certamente, porque ele diz que se eles – portanto ele se incluia – os confessassem a Deus ele na sua fidelidade e justiça lhes os perdoaria e os purificaria de toda a iniquidade. Não pode ser doutra forma porque João sabia que Jesus tinha-lhes dito que quando orassem deviam dizer: “Pai nosso, que estás nos céus… perdoa-nos as nossas dívidas” (Mat. 6:9,12) e portanto se deviam dirigir directamente a Deus. Mais à frente João afirma: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados…” (1 João 2:1,2): notai que ele não disse: ‘Se alguém pecar tendes os apóstolos do Senhor, ou os anciãos delegados por eles para perdoar os pecados’; não, mas “temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo”. Isto significa que João cria que quando um crente pecasse ele encontraria perdão junto de Deus Pai indo directamente a ele em nome do seu Filho.
Vejamos Tiago, o irmão do Senhor: ele escreveu uma carta às doze tribos da dispersão na qual disse as seguintes coisas: “Donde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais… Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus….” (Tiago 4:1,2,4). Ora, segundo a teologia romana aqueles crentes depois do batismo se tinham feito culpados de pecados ‘mortais’, matavam, invejavam, tinham-se tornado amigos do mundo e inimigos de Deus. Seria de esperar pois que Tiago lhes dissesse para se irem confessar aos apóstolos ou aos anciãos da Igreja. Mas ainda uma vez desta confissão não há o mínimo sinal, de facto o apóstolo escreveu logo depois: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tiago 4:8-10). Eis ainda uma vez uma exortação para dirigirmo-nos directamente a Deus, a ir confessar os próprios pecados a Deus directamente e não a um ministro de Deus.
Todos estes exemplos acabados de ver testificam de maneira clara que Cristo não deu aos apóstolos o poder de perdoar os pecados aos homens, com efeito, eles nunca exigiram que os crentes caídos em pecado se fossem confessar a eles. Também naquele tempo os crentes quando pecavam eram exortados a confessar os seus pecados a Deus para obter a remissão deles. Aliás haviam também as Escrituras do Antigo Pacto que lhes confirmavam que esta confissão eles a deviam fazer a Deus e não a homens, ainda que homens santos que tinham estado com Jesus. Citamos por exemplo estas eloquentes palavras de Davi: “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado” (Sal. 32:5). Não eram também para eles uma clara prova que eles deviam confessar-se só a Deus? Mas perguntemo-nos: ‘Mas não teriam sido confundidos os próprios apóstolos se tivessem ordenado aos crentes para irem declarar os seus pecados a eles e não directamente a Deus, quando as Escrituras do Antigo Pacto ordenavam para irem confessar-se a Deus directamente. Mas como teriam podido os apóstolos afirmar ter o poder de perdoar os pecados que os crentes cometiam contra Deus sem serem repreendidos pela sua arrogância?
Por fim, para confirmar ulteriormente que a confissão das iniquidades pessoais, segundo a Escritura, deve ser feita a Deus e não a presumidos intermediários como os padres católicos, citamos duas confissões transcritas no Antigo Testamento, a de Esdras e a de Daniel.
No livro de Esdras está escrito: “E perto do sacrifício da tarde me levantei da minha aflição, havendo já rasgado as minhas vestes e o meu manto, e me pus de joelhos, e estendi as minhas mãos para o Senhor meu Deus; e disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus; porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até ao céu. Desde os dias de nossos pais até ao dia de hoje estamos em grande culpa…” (Esd. 9:5-7).
No livro de Daniel está escrito: “E orei ao Senhor meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; pecamos, e cometemos iniqüidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra….” (Dan. 9:4-6).
Eis pois membros do povo de Deus sob o Antigo Pacto que se confessaram directamente a Deus para obter o seu perdão. Para resumir: na Escritura não há a mínima menção de uma confissão a fazer-se a um sacerdote para obter o perdão dos pecados; não há no Antigo Pacto e não há nem no Novo Pacto porque os apóstolos nas suas epístolas não falam dela.
Porventura alguém pensará que os apóstolos em virtude dessas palavras que Jesus lhes disse, a saber: “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” (João 20:23), exigissem que os pecadores fossem a eles declarar os seus pecados para obterem a remissão deles. Mas também aqui se deve dizer que de uma semelhante confissão não existe o mínimo rasto na Escritura. Porquê? Porque os apóstolos tinham recebido a ordem de pregar a remissão dos pecados conforme o que lhes tinha dito Jesus: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lucas 24:46,47) e não o poder de absolver os pecadores penitentes porque este só o possui Deus, o justo Juíz. Isto é confirmado pelos seguintes episódios transcritos no livro dos Actos dos apóstolos.
Ÿ Em Jerusalém no dia de Pentecostes, quando os Judeus que ouviram a pregação de Pedro, disseram a Pedro e aos outros apóstolos: “Que faremos, irmãos?” (Actos 2:37), Pedro respondeu-lhes dizendo: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados…” (Actos 2:38). Notai o que Pedro disse para aqueles Judeus fazerem para obterem a remissão dos seus pecados; ele disse-lhes para se arrependerem e se batizarem. Pedro juntamente com os outros apóstolos não lhes disse: ‘Vinde vos confessar a nós e nós vos perdoaremos os vossos pecados porque recebemos de Cristo o poder de fazê-lo’. Esta é uma clara demonstração de como os apóstolos não entenderam mal as palavras do Senhor Jesus como fizeram os teólogos católicos romanos.
Ÿ Em casa de Cornélio, Pedro pregou a remissão dos pecados em nome de Cristo, de facto disse: “A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome” (Actos 10:43). Também neste caso Pedro não pretendeu que Cornélio e os seus fossem a ele confessar-lhe os seus pecados precisamente porque o apóstolo não tinha o poder de perdoar a ninguém os pecados da parte de Deus mas sim o de pregar a remissão dos pecados o que é diferente.
Ÿ Ainda em casa de Cornélio, Pedro disse: “E ele nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos” (Actos 10:42); portanto é Cristo, sendo o Juiz de todos, a ter o poder de absolver e não homens constituídos por ele. Os pecadores portanto para obter misericórdia de Deus devem confessar as suas iniquidades a Cristo que é o Juiz que pode absolver ou condenar (e não a homens). O próprio Jesus confirmou que o pecador para ser absolvido é suficiente que se confesse directamente a Deus quando disse numa parábola que um publicano, subiu ao templo para orar, “nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13); este publicano não foi confessar-se aos sacerdotes que estavam no templo mas directamente a Deus, e obteve a remissão dos seus pecados conforme Jesus disse: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa” (Lucas 18:14).
Ÿ Quando os apóstolos compareceram diante do Sinédrio, Pedro e os outros disseram: “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro. Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados” (Actos 5:30,31). Também neste caso os apóstolos não atribuiram a si de modo nenhum o poder de perdoar os pecados aos homens pois fizeram compreender claramente com as suas palavras que é Deus aquele que dá a remissão dos pecados como também o arrependimento. Ora, nós sabemos que o arrependimento é Deus a dá-lo aos homens porque está escrito que os da circuncisão depois que Pedro lhes contou como Deus o tinha enviado aos Gentios pregar o Evangelho e como eles tinham recebido o Espírito Santo, disseram: “Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (Actos 11:18); portanto como os apóstolos não tinham o poder de dar o arrependimento a ninguém, mas somente a ordem de pregar o arrependimento a todos, assim eles não tinham também o poder de dar a remissão dos pecados a ninguém porque ela a dava directamente Deus ao pecador penitente; eles também neste caso tinham a ordem de pregar a remissão dos pecados (cfr. Lucas 24:47 para compreender que os apóstolos tinham recebido a ordem de pregar o arrependimento e a remissão dos pecados).
Como podeis ver os apóstolos não confessavam os pecadores mas os exortavam a se arrependerem e a crer em Jesus Cristo para obterem a remissão dos seus pecados; a Ele deviam confessar os seus pecados e não a eles. A penitência católica romana que o homem deve fazer ao sacerdote não tem portanto nenhuma passagem escritural que a sustente. E isso o reconheceu também Bartmann que disse que na Escritura ‘não se encontra alguma passagem em que se exija explicitamente que o pecador confesse os seus pecados graves a um sacerdote para obter o perdão deles’ (Bernardo Bartmann, op. cit., pag. 282). Mas então, alguém dirá, por que é que diante da evidência os teólogos defendem o dogma da penitência? A razão é porque devem agradar ao papa em todas as coisas e não podem permitir-se a discordar dele se não querem incorrer em alguma providência disciplinar. Na igreja romana funciona assim: o papa dita a lei e os teólogos devem obedecer-lhe mesmo se a sua lei contrasta a verdade e não pode portanto ser sustentada com a Palavra de Deus.
Para concluir, todas as referidas Escrituras por nós citadas confirmam que a confissão dos próprios pecados o homem, seja ele o pecador que quer ser salvo, como o crente que já está salvo, a deve fazer ao Senhor para que os seus pecados lhe sejam perdoados porque só Deus tem o poder de perdoar os pecados ao homem conforme está escrito nos Salmos: “Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades” (Sal. 103:3).
Explicação das passagens tomadas para sustentar o sacramento da penitência
Antes de tudo queremos explicar as palavras de Jesus: “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” (João 20:23). Nós temos o poder de perdoar os pecados a todos aqueles que pecam contra nós, com efeito, na oração que Jesus ensinou aos seus discípulos estão estas palavras: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mat. 6:12). Como podeis ver nós podemos perdoar as dívidas aos nossos devedores, isto é, àqueles que estão em dívida para connosco. Mas nós não temos o poder de perdoar as dívidas que um homem tem em relação a Deus, porque esse só Deus o tem [ 18]. Também os escribas sabiam isso, de facto, quando ouviram que Jesus disse àquele paralítico: “Filho, tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados” (Mat. 9:2), disseram: “Por que fala assim este homem? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão um só, que é Deus?” (Mar. 2:7). Eles porém não reconhecendo em Jesus Cristo o Deus de Israel, erraram ao afirmar que ele blasfemava. Mas Jesus demonstrou-lhes de ter o poder de perdoar os pecados, e por isso de ser Deus, dizendo ao paralítico para se levantar, tomar o seu leito e ir para sua casa (cfr. Mar. 2:9-12). Os seus discípulos porém, ainda que o tenham visto e ouvido perdoar os pecados aos homens, depois que ele foi elevado ao céu não andaram a confessar os pecados dos pecadores e a lhes perdoá-los, e nem a confessar os pecados dos crentes para lhes os perdoar, e isto porque não tinham entendido as palavras que Jesus lhes tinha dirigido da maneira errada em que entenderam a seguir alguns. Demonstrámos, de facto, pouco atrás como não há exemplos ou passagens no Novo Testamento que testifiquem um semelhante procedimento.
A confissão auricular feita ao padre é chamada o sacramento da reconciliação porque segundo o catecismo católico o padre mediante a sua absolvição reconcilia o homem com Deus. Mas esta afirmação é falsa porque o homem pode reconciliar-se com Deus directamente mediante Cristo Jesus sem a necessidade de nenhum mediador terreno. Os teólogos papistas para sustentar que os padres têm neles a palavra da reconciliação para reconciliar os homens com Deus como a tinham antes deles os apóstolos tomam as seguintes palavras de Paulo aos Coríntios: “Deus… pôs em nós a palavra da reconciliação” (2 Cor. 5:19); mas nós fazemos notar que esta palavra da reconciliação que tinham os apóstolos não se refere de modo nenhum à fórmula absolutória dos padres: ‘Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, que eles dirigem aos confessantes depois de terem ouvido a sua confissão, porque os apóstolos não confessavam e não absolviam nem os pecadores e nem os crentes quando eles se faziam culpados mas os exortavam a se arrependerem e a fazer paz com Deus. O apóstolo Paulo explica em que consistia esta palavra da reconciliação quando diz: “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós exortasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” (2 Cor. 5:20). Os apóstolos portanto não obrigavam os homens a se confessarem a eles, como fazem os padres, mas os exortavam a se reconciliarem com Deus, o que é totalmente outra coisa! Eles faziam a sua embaixada; enquanto Aquele que os tinha enviado absolvia os que aceitavam as suas palavras. Mas não é porventura esta uma ulterior prova que a confissão auricular ao padre não tem fundamento escritural e que para sustentá-la os teólogos católicos romanos fazem recurso a arbitrárias interpretações escriturais?
Vejamos agora as outras passagens do Novo Pacto que a dizer dos teólogos católicos romanos confirmam a confissão ao padre; a de Marcos que diz: “E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mar. 1:5); a escrita nos Actos dos apóstolos que diz: “E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos” (Actos 19:18); a de Tiago que diz: “Confessai as vossas culpas uns aos outros” (Tiago 5:16); e a que diz que depois que Lázaro saiu do sepulcro Jesus disse: “Desligai-o e deixai-o ir” (João 11:44). Ora, mas nós perguntamos aos teólogos papistas: ‘Mas onde está aqui a confissão feita ao homem para receber a absolvição? Nós não a vemos. Mas não a vemos não porque tenhamos os olhos fechados, mas porque ela não existe. Vamos portanto agora demonstrar como as referidas passagens não têm nada a ver com a confissão ao padre.
No caso do batismo de João os homens se arrependiam dos seus pecados e os confessavam a Deus e não a João. E depois, para responder como convém aos teólogos papistas, dizemos também que João não era um apóstolo, e a confissão aqueles Judeus a fizeram antes de serem batizados (enquanto a confissão católica deve-se fazer depois do batismo), e ainda antes de Jesus dizer aos seus discípulos: “Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados” (João 20:23), e a fizeram publicamente e não privadamente como ao contrário é feita a confissão ao padre; tudo coisas estas que anulam da maneira mais evidente a sua própria interpretação dada a esta passagem.
No caso daqueles crentes que em Éfeso confessaram as coisas que eles tinham feito não as foram confessar aos apóstolos para obter a remissão dos seus pecados, porque dado que já tinham crido já tinham obtido a remissão de todos os seus pecados pelo nome de Jesus Cristo conforme está escrito: “A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome” (Actos 10:43). Eles foram para contar as maldades que tinham feito antes de crer no Senhor, para fazer compreender quanta misericórdia Deus tinha usado para com eles perdoando-lhes todos aqueles seus pecados. Isto é o que ainda hoje é feito no nosso meio por aqueles que creram. Como podeis ver nestas referidas passagens não há a mínima prova em favor da confissão privada feita ao padre e da sua obrigatoriedade.
Pelo que concerne às palavras de Tiago: “Confessai as vossas culpas uns aos outros” (Tiago 5:16), elas estão em perfeita harmonia com os ensinamentos do nosso Senhor, e de modo algum são a favor da confissão ao padre como antes sustentam muitos teólogos católicos romanos (nem todos porque há alguém que percebeu que as palavras de Tiago não se referem à confissão ao padre), porque Tiago não disse aos fiéis para se irem confessar a uma casta sacerdotal para obterem a absolvição divina; mas disse-lhes para confessarem mutuamente os seus próprios pecados, de facto, diz “uns aos outros”. As palavras de Tiago estão em harmonia com as seguintes palavras de Jesus: “Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe” (Lucas 17:3,4); portanto é justo que um irmão que peca contra um outro irmão vá confessar o seu erro ao irmão a quem fez agravo pedindo-lhe perdão porque isso tem fundamento escritural. É justo também, segundo as palavras de Tiago, na presença de outros fiéis reconhecer as próprias culpas para humilhar-se na presença de Deus e diante dos próprios fiéis. Por fim é necessário dizer que por vezes um crente que quer receber uma palavra de consolação ou de encorajamento do seu pastor pode lhe ir confessar um seu pecado; mas isto, o reiteramos, ele não o faz porque pensa que o pastor tem o poder de absolvê-lo da parte de Deus, mas somente para abrir o seu coração na presença de um irmão maduro do ponto de vista espiritual que pode dar-lhe rectos conselhos e orar junto com ele.
E por fim vejamos as palavras que Jesus dirigiu aos Judeus depois que Lázaro saiu do sepulcro tendo as mãos e os pés ligados com faixas e o seu rosto envolto num lenço. Segundo os teólogos papistas depois que os homens ressurgem da morte espiritual pelo batismo necessitam ser soltos e desligados dos pecados que cometem. E este poder de desligar os seus pecados a possui o padre em virtude das palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos: “Tudo o que desligardes na terra será desligado no céu..” (Mat. 18:18)! Nos limitamos a dizer que nessas palavras de Jesus nós não vemos de modo nenhum o poder que têm os sacerdotes católicos de absolver os pecadores dos seus pecados. Ver ali a sua confissão seria como ver o papado nas palavras de Jesus a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja..” (Mat. 16:18). A interpretação que os teólogos papistas dão a essa passagem para sustentar o poder de perdoar os pecados que os sacerdotes têm é falsa porque Aquele que tem o poder de perdoar os pecados aos que ressuscitaram com Cristo é somente Deus.
A confissão da espécie, do número e das circunstâncias dos pecados é inútil
Segundo a Escritura para obter a remissão dos pecados da parte de Deus não é de maneira nenhuma necessário especificar a Deus a espécie, o número e as circunstâncias dos pecados e disso temos uma confirmação na invocação que o publicano fez no templo a Deus; ele disse somente: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13); e Deus o perdoou porque ele desceu para sua casa justificado.
Também a parábola do filho pródigo confirma que a confissão a Deus não necessita da especificação da espécie, do número exacto ou aproximado deles, e das circunstâncias dos pecados: o filho pródigo quando voltou ao pai disse-lhe: “Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lucas 15:21), e o pai o perdoou porque disse aos seus servos para o vestirem com a melhor roupa, porem-lhe um anel no dedo, calçá-lo e trazer um bezerro cevado e matá-lo para comê-lo. Nenhuma confissão da espécie e do número e das circunstâncias dos seus pecados foi exigida pelo pai; no entanto aquele jovem tinha vivido por muito tempo dissolutamente, tinha gasto a sua fazenda com as meretrizes, e tinha pecados e particulares a contar. Não houve necessidade de manifestá-los; assim também o pecador que se chega a Deus não tem necessidade de confessar a Deus todas as circunstâncias de todos os seus pecados, porque Deus não lhe o exige. Que ele deixe os seus iníquos pensamentos, que ele creia com o seu coração no Evangelho; e então ele obterá misericórdia da parte de Deus o qual lhe cancelará todos os seus pecados e não se lembrará mais deles!
No Evangelho encontramos também que Jesus perdoou os pecados a pecadores sem que eles lhe tivessem feito a lista de todos os pecados que tinham cometido e as circunstâncias que lhes diziam respeito, ou melhor, sem sequer que eles os lhe tivessem confessado. À mulher apanhada em adultério que os Fariseus lhe tinham levado Jesus disse: “Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” (João 8:11); à mulher pecadora que estava em casa do Fariseu de nome Simão ele disse: “Os teus pecados te são perdoados” (Lucas 7:48), porque esta se humilhou diante do Senhor chorando; ao homem paralítico que lhe trouxeram disse-lhe: “Homem, os teus pecados te são perdoados” (Lucas 5:20) sem que este lhe enumerasse todos os seus pecados e todas as circunstâncias que os acompanhavam.
Por fim Jesus nos disse, a nós seus discípulos, para dizer ao Pai: “Perdoa-nos as nossas dívidas” (Mat. 6:12), sem especificar detalhadamente e um por um os pecados e todas as coisas que dizem respeito aos nossos pecados, porque o que Deus exige de nós é que nós nos arrependamos sinceramente diante dele e lhe peçamos perdão.
Nós nos confessamos a Deus obtendo o perdão dos pecados
Davi, quando o profeta Natã foi a ele para repreendê-lo e anunciar-lhe a punição de Deus contra ele, disse a Natã: “Pequei contra o Senhor” (2 Sam. 12:13), mas não lhe confessou ter pecado para ser por ele perdoado, mas porque reconheceu ter feito o que é mau aos olhos de Deus. Davi fez a confissão das suas iniquidades a Deus, de facto, lemos no quinquagésimo primeiro salmo que ele invocou Deus dizendo-lhe: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mau aos teus olhos, para que sejas justificado quando falares, e irreprensível quando julgares” (Sal. 51:1-4). Davi foi atendido por Deus, de facto, Natã lhe disse: “Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás” (2 Sam. 12:13), mas cuidai que não foi Natã o profeta a perdoar-lhe o seu pecado usando alguma fórmula mas foi Deus. O profeta disse a Davi a palavra que ele tinha recebido de Deus. Também nós um dia, como Davi, confessámos as nossas iniquidades a Deus, e ele, na sua fidelidade, nos perdoou purificando-nos a nossa consciência de todas as obras mortas de que ela estava contaminada. Isto o dizemos por experiência directa; não houve necessidade de algum mediador terreno para obtermos a remissão dos nossos pecados, porque a obtivemos directamente de Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo que está assentado à sua direita.
Os que, pelo contrário, vão confessar os seus pecados ao padre, considerado por eles aquele que faz o trâmite entre Deus e eles, recebem sim a absolvição que, segundo o catecismo católico ‘ é a sentença com a qual o sacerdote, em nome de Jesus Cristo, perdoa os pecados ao penitente (dizendo: Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Assim seja)’ (Giuseppe Perardi, op. cit. , pag. 541), mas o certo é que os seus pecados nunca desaparecem da sua consciência; porquê? Porque eles não os confessam a Deus mas a um homem que não pode fazer nada para os lhes tirar. Se muitos Católicos romanos que observam estas práticas religiosas na sua ignorância mas também com sinceridade de ânimo mostrassem a Deus a mesma confiança que mostram nos padres então sim obteriam a remissão dos seus pecados e nova vida pelo Senhor, e sairiam desta organização para se unirem aos resgatados, mas infelizmente eles, cegados por esta religião, vão confessar-se a quem não pode fazer nada por eles.
Ó homens e mulheres que jazeis nas trevas e que sois guiados por gente que anda nas trevas, caí em vós mesmos, chegai-vos ao Senhor confessado-lhe os vossos pecados e ele se aproximará de vós e vos purificará a vossa consciência das obras mortas pelo sangue do Cordeiro. Então sim sereis justificados das vossas iniquidades, e obtereis paz com Deus; então sim não vos sentireis mais empurrados a ir vos confessar ao padre!
O caminho para obter o perdão dos pecados de Deus tanto para os incrédulos como para os crentes
Como pudemos ver ainda que seja dito que o sacramento da penitência é de instituição divina, o homem que o recebe nunca poderá estar seguro de estar perdoado, lavado plenamente dos seus pecados, e por isso jamais poderá estar seguro de ir para o paraíso na sua morte. Que religião vã é a católica; diz aos seus seguidores, crede estas verdades reveladas por Deus e fazei todas estas coisas que te são ordenadas porque elas são prescritas por Deus para o perdão dos teus pecados, e depois lança o anátema contra quem, depois de lhe ter obedecido, ostentar certeza de remissão dos seus pecados, e ousar dizer estar seguro de estar salvo!! Não deveria tudo isto ó Católicos romanos vos fazer reflectir seriamente sobre a oportunidade de continuar a vos irdes confessar ao padre e de vos apoiardes nas obras de penitência e nas indulgências? Mas quando é que caireis em vós mesmos e percebereis que este caminho vos prescrito pelos vossos padres para vos fazer reconciliar com Deus é vão porque não vos assegura a certeza absoluta do perdão de todos os vossos pecados com a relativa certeza de ir para o paraíso logo depois de mortos, mas vos continua a deixar na escuridão mais sombria?
O caminho para obter o perdão prescrito por Deus em Cristo Jesus é este. Para os pecadores é suficiente que se arrependam e creiam no nome de Cristo. Jesus antes de morrer disse: “Está consumado” (João 19:30); portanto o preço do resgate foi por ele pago plenamente; ao pecador não resta portanto nenhuma obra de penitência a fazer para obter a remissão dos seus pecados. Resta-lhe só arrepender-se e crer no sacrifício de Cristo; isto é o que lhe resta fazer. Ele não tem que fazer a Via Crucis, ou visitas a basílicas em dias estabelecidos, ele não tem que recitar o rosário, ele não tem que subir de joelhos a chamada escada santa de Roma, ou fazer alguma outra chamada obra de penitência porque estas coisas para nada aproveitam; só servem para fazer-lhe perder tempo e dinheiro! A pena pelos nossos pecados a pagou Cristo Jesus na cruz do Calvário quando morreu carregado das nossas iniquidades por isso o homem se quer receber o perdão dos seus pecados tem de somente pedi-lo a Deus com um coração quebrantado e o obterá. Como fez aquele publicano no templo que batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13) e desceu para sua casa justificado. Portanto o perdão dos pecados é gratuito, totalmente gratuito em razão da superabundante graça de Deus conforme está escrito: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus..” (Rom. 3:23-25). Não há nada a pagar porque não há nada a se ganhar; não há nada que se possa merecer porque doutra forma “a graça já não é graça” (Rom. 11:6). Mas a igreja romana com a questão das penitências e das indulgências conseguiu fazer crer às pessoas que os seus pecados podem ser expiados fazendo obras; isto é grave porque assim as pessoas crêem que o sacrifício expiatório de Cristo não seja suficiente para obterem a remissão dos seus pecados. Ah! Anularam a graça de Deus, pisaram os méritos de Cristo; e por isso o Evangelho não é mais a boa notícia da paz em que basta crer para ser reconciliado com Deus, mas uma mensagem privada do seu poder salvífico, porque para obter a remissão dos pecados já não é suficiente crer nele, mas é necessário fazer muitas e muitas coisas; é preciso seguir em suma o caminho das obras e não o da fé.
Também para os que, pelo contrário, já foram perdoados, se caírem em alguma culpa, é suficiente que a confessem directamente a Deus. Isto porque Cristo mediante a sua morte já expiou todos os nossos pecados. O preço já ele plenamente o pagou.
Agora queremos citar algumas Escrituras que testificam que o sacrifício de Cristo é perfeito e que não resta nada por expiar, nada por satisfazer para os que creram n`Ele.
Ÿ Paulo diz aos Colossenses: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todas as ofensas..” (Col. 2:13); e aos Coríntios: “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo” (2 Cor. 5:18).
Ÿ O escritor aos Hebreus diz: “Fomos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre” (Heb. 10:10), e também: “Com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Heb. 10:14).
Alguém dirá: Mas estas palavras se referem aos pecados cometidos antes de crer em Cristo que nos foram perdoados só pela fé nele!’. É verdade, mas permanece o facto de que é ainda em virtude do perdão nos adquirido por Cristo na cruz que os pecados cometidos depois da nossa conversão nos são perdoados sem cumprir nenhuma satisfação sacramental, mas somente confessando-os a Deus conforme está escrito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a iniquidade” (1 João 1:9). Seja pois posta de lado a penitência da igreja católica romana; seja pois posta de lado esta sua diabrura, habilmente transfigurada de sacramento de Cristo, que não faz mais que fazer passar o sacrifício de Cristo por inútil, por insuficiente. E depois falam de fé, e depois falam de graça; mas nós dizemos: Mas onde está a fé e a graça nesta religião do fazer, nesta religião que diz na substância faz por ti todos os possíveis para te salvares e verás que Deus te virá ao encontro porque será constrangido e obrigado a perdoar-te? Haveis compreendido então por que é que quando os teólogos católicos falam de fé e de graça, falam sempre disso de maneira muito complicada, ambígua, e distorcida, fazendo perceber que resta sempre e repito sempre por fazer alguma coisa ao homem? Porque eles ao fim e ao cabo têm sempre que fazer sair de alguma parte as obras de penitência, as idulgências, e o tesouro da Igreja do qual sai precisamente estas infames indulgências. A propósito deste tesouro: notastes que ele é formado além de pelos méritos de Cristo também pelos méritos de Maria e dos santos? Mas dizei-me: não é porventura esta mais uma prova que para eles os méritos adquiridos por Cristo por elevado preço na cruz não são suficientes para nos salvar? Não é bastante claro que para eles os sofrimentos de Cristo sozinhos não são de modo algum suficientes para perdoar os pecados aos homens com toda a sua pena eterna? Desconfiai pois de todos os discursos sobre a fé e sobre a graça e sobre os méritos de Cristo feitos pelos teólogos papistas; porque por detrás deles se esconde um outro Evangelho, não o da graça. Eles pregam um outro Evangelho impotente para salvar; eles pregam uma remissão dos pecados vã e ilusória. Por isso o anátema lançado pelo santo apóstolo Paulo: “Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gal. 1:9) é dirigido também contra eles.
O Jubileu e a Via Crucis (ou Via Sacra) são invenções humanas
Quando falei das indulgências acenei ao Jubileu e à Via Crucis. E dado que delas se ouve frequentemente falar (sobretudo do Jubileu nestes tempos) quero brevemente explicar no que consistem e confutá-las.
O Jubileu católico romano, chamado também Ano Santo, é uma solene indulgência plenária que é concedida pelo papa. Ele foi inventado por Bonifácio VIII (1294-1303) em 1300. Com uma bula sua decretou que a cada cem anos quem tivesse visitado ‘a basílica de São Pedro e a de São Paulo em Roma’, e estivesse em estado de graça, isto é, absolvido dos pecados, ganharia a remissão de toda a pena que teria que sofrer no purgatório pelos pecados cometidos. (Durante aquele primeiro jubileu convocado por Bonifácio VIII os cronistas dizem que o dinheiro era recolhido com ancinhos de tão abundante que era). Clemente VI (1342-1352) reduziu o Jubileu a cada cinquenta anos, e assim o segundo Jubileu foi celebrado em 1350. Urbano VI (1378-1389) o reduziu posteriormente a trinta e três anos em memória dos anos que Jesus viveu na terra. Por fim Paulo II (1464-1471) ordenou que o Jubileu se celebrasse a cada vinte e cinco anos e tal permaneceu desde esse tempo o intervalo de tempo entre um Jubileu e outro. Segundo o que diz a Enciclopédia Católica as condições habituais a pôr-se para a aquisição do Jubileu ordinário são a confissão, a comunhão, a visita a determinados lugares de culto da igreja católica e a recitação de algumas orações. Desde 1950 não é mais indispensável vir a Roma para lucrar esta indulgência. No Dicionário histórico do papado lê-se, de facto, que nesse ano a constituição apostólica Par annum sacrum proclamou o carácter universal da indulgência jubilar pelo que ‘não foi mais indispensável fazer a viagem a Roma, sendo os ordinários autorizados a designar em cada uma cidade episcopal, para as visitas prescritas, a catedral e duas igrejas ou oratórios em que o culto se celebrava regularmente’ (Dizionario storico del papato [Dicionário histórico do papado], Milano 1996, pag. 66). Por quanto respeita ao Jubileu é necessário dizer que embora na lei de Moisés se fale de um jubileu ordenado por Deus, o católico não tem nada a ver com ele. Recordemos no que consistia o jubileu judaico. Deus disse a Moisés: “Santificareis o ano qüinquagésimo, e apregoareis liberdade na terra a todos os seus habitantes; ano de jubileu será para vós; pois tornareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua família. Esse ano qüinquagésimo será para vós jubileu; não semeareis, nem segareis o que nele nascer de si mesmo, nem nele vindimareis as uvas das vides não tratadas” (Lev. 25:10,11). Naquele ano portanto, segundo a lei, quem por causa da sua pobreza tinha nos anos anteriores vendido uma sua propriedade, regressava à possessão da sua propriedade; e semelhantemente também quem por causa da pobreza se tinha vendido como escravo a um dos seus irmãos naquele ano tornava a ser livre. Este jubileu era a sombra do que devia acontecer quando viesse Cristo; porque como no jubileu o escravo tornava em liberdade assim com a vinda de Cristo os que estavam vendidos escravos ao pecado seriam libertados do pecado pelo Evangelho da paz. Mas os papas que sabiam como explorar as sombras da lei para enriquecerem, eis que pegaram no jubileu judaico e fizeram dele um jubileu que por um lado liberta o Católico de toda a pretensa pena que deve pagar no purgatório e por outro faz afluir às caixas do papado enormes somas de dinheiro. Que engano!
A devoção da Via Crucis foi inventada pelos frades Franciscanos no século quinze, e tornou-se de uso geral no século dezoito quando os papas a permitiram em todas as igrejas. A devoção consiste em se parar sozinho ou em procissão diante de catorze quadros (chamados estações e que estão pendurados nas paredes) um após outro recitando certas orações estabelecidas. As catorze estações evocam os eventos acontecidos a Jesus ao longo do caminho para o Calvário e a sua morte e estão assim divididas: 1) Processo e condenação à morte; 2) Jesus toma a cruz; 3) Primeira queda; 4) Encontro com a Mãe; 5) Simão de Cirene; 6) Encontro com Verónica; 7) Segunda queda; 8) Encontro com as piedosas mulheres; 9) Terceira queda; 10) Jesus é despido; 11) Crucificação; 12) Morte de Jesus; 13) Deposição da Cruz; 14) No sepulcro. A respeito deste ‘piedoso’ exercício lê-se no livro A Actualização das indulgências: ‘Permanece portanto válido e vivamente recomendado o piedoso exercício da Via Crucis. Bem feito, produz copiosos frutos de fervor e de santidade. Ele renova a memória dos sofrimentos que Cristo Senhor suportou, levando a Cruz, ao longo do caminho do pretório de Pilatos até ao monte Calvário, onde ele ofereceu a sua vida pela nossa redenção. (…) Apenas duas coisas são obrigatórias para o piedoso exercício: 1) passar de uma ‘estação’ para outra; 2) meditar ou considerar a Paixão do Senhor. Tudo o resto é deixado à piedade e devoção de cada um (…) O acréscimo de alguma oração vocal, embora não seja prescrita, é quase espontânea e é muito útil para preparar e para acompanhar a meditação, de modo semelhante a quanto se faz no S. Rosário. Quem faz o piedoso exercício da Via Crucis pode adquirir a indulgência plenária. Entende-se que, como para todas as outras indulgências plenárias, deve também cumprir as três condições: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração segundo as intenções do Sumo Pontífice’ (Sessolo Giovanni, op. cit. , pag. 49,50). É escritural esta devoção? De modo nenhum, porque na Escritura não encontramos em nenhum lugar que os discípulos eram dados a uma semelhante prática. E depois é preciso dizer que alguns dos episódios evocados nestas ‘estações’ que dizem respeito à paixão de Jesus e que os Católicos portanto gravaram na sua mente não estão escritos na Palavra de Deus e nos referimos aos números 3, 4, 6, 7, 9.
A confissão feita ao padre é uma escola de perversão
Todos os que depois de terem sido padres na igreja católica romana saíram dela porque Deus lhes deu o arrependimento e a remissão dos pecados, testificam de várias maneiras que a confissão é um charco de lodo no qual os padres se recreiam sem poder sair dele; mas também que ela fomenta toda sorte de maldade e de impureza tanto na vida dos padres como na vida dos que vão confessar-se a eles, em especial modo nas penitentes sejam elas solteiras ou casadas. Vamos examinar as razões pela qual a confissão ao padre é prejudicial tanto para o padre como para os que vão confessar-se a ele.
O padre é celibatário e fez voto de castidade antes de entrar na ordem sacerdotal; foi-lhe dito que deve manter-se puro e imaculado e que não pode casar-se porque a relação carnal com uma mulher, ainda que seja a sua mulher, não se adequa a uma pessoa santa como é o sacerdote que faz de intermediário entre Deus e os homens que estão na terra! Mas o que sucede ao padre quando ele se mete no confessionário? Sucede que ele segundo o que lhe é ordenado pela teologia romana deve perguntar às mulheres coisas de que não se deve falar conforme está escrito: “Mas a fornicação, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos….” (Ef. 5:3), e para ele torna-se impossível manter-se puro porque começa a ouvir muitas coisas torpes que suscitam nele as mais violentas paixões. Mas por que motivo ele lhes deve fazer todas as perguntas impertinentes? Porque foi-lhe dito que para dar a absolvição ele deve conhecer a espécie, o número e as circunstâncias dos pecados cometidos pela penitente! E quais são por isso as funestas consequências de tudo isto? Que os padres se abandonam à fornicação e ao adultério; fomentando escândalos nas suas paróquias. O tempo não chegaria se tivéssemos que falar de todos os escândalos que os padres, sob o impulso da confissão, fomentam! Nos limitamos a dizer que muitas jovens e muitas mulheres casadas que iam confessar-se aos padres já sofreram violências carnais precisamente a seguir às perguntas perversas que lhes fazia o padre e a que elas tinham que responder para fazer, como prescreve o catecismo romano, uma boa e completa confissão. Mas aqui é bom precisar que o que sucede aos padres sucederia também a qualquer ministro do Evangelho casado se começasse a ouvir mulheres dizer as mesmas coisas que ouvem os padres das suas penitentes. Porquê? Porque a carne é fraca, e ao ouvir certas coisas é excitada a pecar. Sim, é verdade que aos padres é ordenado para serem prudentes e para vir ao encontro das penitentes quando devem perguntar-lhes certas coisas; mas nestes casos a prudência, não importa quão grande seja, não serve para nada. Podemos dizer que estas recomendações eclesiásticas dadas a estes escravos da igreja romana podem ser comparadas às recomendações que uma pessoa faz a outra para não se sujar depois de tê-la lançado num charco de lodo! Além disso que dizer do grande embaraço em que ficam as mulheres ao ter que responder a certas perguntas do padre? É natural que assim seja porque o homem ou a mulher não gosta de modo algum que lhe sejam feitas certas perguntas. Mas elas se encontram numa encruzilhada: ou responder e revelar impurezas a um homem celibatário, ou recusar-se a responder e ficar assim privada da absolvição sacerdotal com a certeza de ir para o inferno em caso de morte! Habitualmente elas optam pela primeira decisão e abrem o seu coração a estes homens corruptos que não esperam outra coisa senão entrar no confessionário para se apascentarem destas torpezas que as suas penitentes lhes vão dizer! E delas também eles depois colhem os frutos amargos; porque a sua confissão se revela um fardo pesado e uma grande vergonha para eles. Uma coisa verdadeiramente deprimente! Contaminam-se a eles próprios, e contaminam a mente e o corpo do seu interlocutor, que não sendo casado começa a abrasar-se ainda mais ao ouvi-lo falar e cai em tentação.
Mas a confissão feita ao padre é também uma forma de espionagem que a igreja romana exerce sobre os seus membros. Desta maneira o padre vem a conhecer os segredos das famílias, porque com as suas perguntas consegue saber o que muitos nunca viriam a saber sobre Fulano ou sobre Sicrano. É como se o padre estivesse continuamente atrás da porta de casa a espreitar pelo buraco da fechadura; como se ouvisse tudo o que os seus penitentes dizem em casa deles por meio de microfones espia, ou como se visse tudo o que fazem em privado por meio de uma câmera de filmar acesa dia e noite!
Mas o padre no confessionário além a ter que ser espia por conta do Vaticano, deve também dar sugestões às pessoas que vão a ele confessar-se para fazer que elas sigam os preceitos da igreja romana sem se desviarem deles nem para a direita e nem para a esquerda. E assim sugerirá às jovens ou aos jovens, de uma maneira muita astuta e hábil, de entrar para as ordens religiosas ou para algum instituto religioso da igreja romana; a outros sugerirá de se casarem com Fulano no lugar de Sicrano; a outros ainda dirá de votar naquele político em vez de no outro. Sim porque o confessionário é também um lugar onde os padres fazem política, isto é, a política do papa; a política que convém ao papado para continuar a governar incontestado sobre centenas de milhões de pessoas.
E por fim o confessionário serve à cúria romana para manter as pessoas longe da verdade; é sabido na realidade que os padres, nos confessionários, põem de sobreaviso os seus penitentes daqueles que conheceram a verdade, ou seja, de nós. ‘São uma seita’, dizem eles; ‘Guardai-vos de frequentá-los para não vos achardes no inferno pela eternidade com eles’, prosseguem. E assim os Católicos romanos são mantidos longe da verdade!
Eis o que é a confissão ao padre; não um sacramento mas um engano camuflado de sacramento! Ó Católicos romanos saí dos cárceres; saí do meio desta meretriz que se prostitui com os povos da terra; ide aos pés do Senhor e pedi-lhe com um coração quebrantado que vos perdoe e ele o fará porque ele é pronto a perdoar. Sabei que nunca podereis encontrar a paz indo-vos confessar ao padre; o repouso da alma está longe daqueles que vão ao padre confessar-se. Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mat. 11:28); portanto é a ele que deveis vir se quereis encontrar o verdadeiro repouso para as vossas almas e a nenhum outro. Quem tem ouvidos para ouvir ouça.
fonte: http://portoghese.lanuovavia.org/portoghese_conf_1_ccr_02_sacramenti.htm