Confutação da Igreja Católica Romana: A extrema unção
A doutrina dos teólogos papistas
A extrema unção é o sacramento para os doentes graves, com ele o doente recebe plena remissão de todos os seus pecados e é curado se essa for a vontade de Deus. O administra o sacerdote com o santo óleo. ‘A Extrema Unção é um verdadeiro e próprio sacramento instituído por Cristo. – É de fé’ (Bernardo Bartmann, op. cit., pag. 328). Por que motivo foi instituído por Cristo? Os teólogos papistas afirmam que ‘a Extrema Unção, chamada também Santo Óleo, é o Sacramento instituído para alívio espiritual e também corporal dos cristãos gravemente enfermos’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 551). Segundo eles na realidade mediante este sacramento o doente que está em graves condições de saúde recebe as graças necessárias ao seu estado, de modo particular alívio e conforto, a força para vencer as ciladas e os assaltos do diabo, remissão completa de todos os seus pecados, a graça de morrer santamente e algumas vezes, se está nos desígnios de Deus, também a saúde do corpo. Citemos as palavras de Perardi a propósito dos efeitos deste seu sacramento: ‘A Extrema Unção aumenta a graça santificante; cancela os pecados veniais e também os mortais que o enfermo, atrito , não possa confessar; dá força para suportar pacientemente o mal, resistir à tentação e morrer santamente e ajuda também a recuperar a saúde, se for bom para a alma’ (ibid., pag. 553). E para sustentar este sacramento e os seus efeitos os teólogos papistas apoiam-se nas seguintes palavras de Marcos: “E, saindo eles, pregavam que se arrependessem. E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam” (Mar. 6:12,13) e nas de Tiago: “Está alguém entre vós doente? Chame os anciãos da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com óleo (ou azeite) em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tiago 5:14,15).
Aquele que administra este seu sacramento é o sacerdote o qual unge em forma de cruz, com o óleo benzido pelo bispo (e portanto o óleo tem um certo poder), os orgãos dos sentidos do enfermo e diz: Por esta santa unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor te perdoe todas as culpas cometidas com a vista, com os ouvidos, etc. Assim seja’. Este sacramento pode ser ministrado apenas a pessoas gravemente doentes e em certos casos também a pessoas sem sentidos.
E para defender este sacramento o concílio de Trento lançou o seguinte anátema contra quem não o aceita:
‘Se alguém disser que o rito e o uso da Extrema Unção, assim como o pratica a igreja católica, está em contraste com o quanto afirma o apóstolo S. Tiago e que, por isso, deve ser mudado e que pode ser tranquilamente desprezado pelos cristãos, seja anátema’ (Concílio de Trento, Sess. XIV, can. 3).
Confutação
A extrema unção não corresponde à unção com óleo de que fala o Novo Testamento
Começamos por dizer que nós não podemos afirmar que a unção com óleo seja uma ordenança instituída por Cristo Jesus a par do batismo e da santa ceia. Certo, os apóstolos quando Cristo os enviou a pregar o reino “ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam” (Mar. 6:13), mas isso não nos leva a considerar a unção com óleo que faziam os apóstolos sobre os enfermos uma ordenança instituída por Cristo durante a sua vida porque não temos provas dela. Queremos dizer com isto que não está escrito que Jesus mandou aos seus apóstolos curar os enfermos ungindo-os com óleo. Ele próprio nunca ungiu com óleo nenhum enfermo para curá-lo, mas somente impunha as mãos conforme está escrito: “Pondo as mãos sobre cada um deles, os curava” (Lucas 4:40). E algumas vezes nem sequer impôs as mãos sobre os enfermos para curá-los, como no caso dos dez leprosos, e de outros doentes. Mas mesmo que os apóstolos tenham ungido os doentes por ordem de Jesus, o que não podemos excluir, a unção com óleo feita pelos apóstolos sobre os enfermos era feita exclusivamente para a sua cura física e não para levar-lhes algum alívio espiritual ou para a remissão dos seus pecados, ou para suportar pacientemente o mal, resistir à tentação e morrer santamente, enquanto para o catecismo católico a unção é dada principalmente por estas últimas razões, na realidade a cura física está relegada para o último lugar nos efeitos deste seu sacramento; e não só isso, os apóstolos não ungiam com óleo só os doentes muito graves que estavam em perigo de morte mas todos os enfermos não importa que doença tivessem, enquanto ‘a extrema unção’ da igreja católica romana é dada só aos doentes graves, porque os outros são excluídos dela. Portanto não se pode de modo algum dizer que este seu sacramento tenha sido instituído por Cristo Jesus naquela ocasião em que enviou os seus apóstolos a pregar e a curar os enfermos. E Bartmann nisto se mostra de acordo e explica que naquelas palavras de Marcos supracitadas onde se diz que os apóstolos ungiam com óleo muitos enfermos e os curavam ‘o Concílio de Trento (….) reconhece uma insinuação, não a instituição do sacramento’; mas logo depois diz ‘Sem dúvida Cristo o instituiu pelo menos durante os quarenta dias anteriores à Ascensão’ (Bernardo Bartmann, op. cit. pag. 329). Nós, pelo contrário, dizemos que não se pode fazer remontar a instituição deste sacramento católico nem sequer àqueles quarenta dias, porque ele não está em harmonia com a doutrina de Cristo e por isso não pode ter procedido de Cristo. As palavras deste teólogo mostram o embaraço perante a evidência de Mateus, Marcos, Lucas e João, não falarem da instituição da extrema unção por parte de Cristo; mas demonstram também que ele, pela enésima vez, não se rendeu perante a evidência mas quis recorrer a um expediente para fazer remontar a todo o custo este sacramento a Cristo; trata-se do expediente dos quarenta dias antes da ascensão de Cristo. Expediente a que muitos no curso do tempo recorreram para fazer remontar a Cristo práticas e palavras contrárias às suas mesmas palavras.
Mas vejamos agora as palavras de Tiago antes citadas porque é sobre elas que os teólogos mais se apoiam. Pelo que concerne às palavras de Tiago importa dizer que é mandado ao doente chamar os anciãos da Igreja de que ele é membro, e por isso dado que os sacerdotes católicos não são anciãos constituídos pelo Espírito Santo sobre o rebanho de Deus, mas homens mortos nas suas ofensas que conduzem outros mortos para a perdição, estas palavras de Tiago não se referem de modo nenhum a eles. Bartmann no seu livro Teologia Dogmática procura, ao contrário, demonstrar que os anciãos de que fala Tiago são os sacerdotes da igreja católica romana; mas não consegue porque o texto grego fala de presbíteros e não de sacerdotes . Em outras palavras aqui Tiago não faz referência a pessoas de uma casta sacerdotal mas somente aos anciãos da Igreja que são, comparados aos sacerdotes Católicos, leigos. Mas examinando cuidadosamente estas palavras de Tiago e confrontando-as com outras Escrituras emerge que é inconcebível que um homem pecador que caminha para o fim da vida possa obter a remissão dos seus pecados mediante a unção com óleo e a oração de um padre, isto porque a remissão dos pecados o pecador, mesmo se está para morrer, a pode obter somente crendo com o seu coração no Filho de Deus conforme está escrito: “Todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome” (Actos 10:43), e de nenhuma outra maneira. É necessário reconhecer que os Católicos romanos tomando esta passagem para sustentar esta sua doutrina conseguem fazer dizer à Escritura o que eles querem. Vos dizemos, ó homens, que se do fundo do lugar dos mortos pudessem voltar à terra todos aqueles Católicos romanos que antes de morrer receberam a extrema unção, eles testemunhariam com grande franqueza que as palavras de Tiago não têm de modo algum o significado que lhes dá a igreja romana. E depois, o repito isto, é bom que se saiba que segundo os teólogos católicos romanos este sacramento não pode recebê-lo qualquer doente, na realidade Perardi no seu Manual diz: ‘O Sacramento está instituído só para os doentes graves; e que por isso alguém saudável, mesmo se condenado à morte, ou um doente que não está em estado grave, não pode receber este Sacramento’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 551); o que está em contraste com as mesmas palavras de Tiago (que eles tomam para sustentar este sacramento) porque Tiago não disse: ‘Está entre vós alguém gravemente doente? Chame os anciãos…’, mas: “Está alguém entre vós doente? Chame os anciãos da igreja…” (Tiago 5:14). Por isso, pode chamar os anciãos da Igreja, para que eles orem sobre ele ungindo-o com óleo em nome do Senhor, também quem tem febre, um mal de garganta, um mal de dentes, para citar apenas algumas enfermidades não graves. Como podeis ver os Católicos para sustentar pela Escritura o seu errado dogma da extrema unção caem em aberta contradição com a própria Escritura que não menciona nenhuma extrema unção mas apenas a unção com óleo para todos os doentes.
Ora, para vos fazer compreender como ao impenitente pecador doente que caminha para o fim da vida a extrema unção não lhe pode conferir nenhum alívio e não pode perdoar-lhe os seus pecados, recordo-vos estas palavras de Eliú: “Se os homens estão presos em grilhões, e amarrados com cordas de aflição, então Deus lhes faz saber a obra deles, e as suas transgressões, porquanto se têm portado com soberba. E abre-lhes o ouvido para a instrução, e ordena que se convertam da iniqüidade. Se o ouvirem, e o servirem, acabarão seus dias em prosperidade, e os seus anos em delícias. Mas se não o ouvirem, perecerão traspassados pelos seus dardos, e morrem por falta de entendimento …assim morrem na flor dos anos, e a sua vida acaba como a dos dissolutos” (Jó 36:8-12,14). Portanto, o pecador que se encontra gravemente doente e está próximo da cova pode ser curado por Deus e obter a remissão dos seus pecados, ou somente a remissão dos pecados, só se ele se arrepender dos seus pecados e se humilhar diante de Deus; em caso contrário, isto é, se ele não se submeter a Deus, não pode obter nem cura e nem remissão dos seus pecados, mas perecerá traspassado pelos dardos de Deus. Sim, porque nós cremos que Deus pune os pecadores impenitentes fazendo-os morrer também na mocidade, na flor dos seus anos. Se eles não implorarem Deus na sua angústia, nem a extrema unção e nem algum outro rito poderá salvá-los da cova, e mais ainda das chamas eternas: se fosse assim como dizem os teólogos católicos romanos que o pecador obtém a remissão dos seus pecados antes de morrer então a Escritura seria anulada, porque ao pecador não seria imposto nem arrepender-se e nem crer para ser perdoado, mas só ser ungido com óleo ‘santo’ em nome de Jesus. E depois, nós dizemos, por que é que apesar da extrema unção pretender perdoar tanto os pecados veniais como os mortais, quem morre recebendo-a tem de contudo ainda ir para o purgatório expiar as suas culpas? Porventura não é esta a prova que ela não tem o poder que lhe atribuem os papistas? Ah!.. quantos enganos a igreja romana perpetrou e continua a perpetrar para dano dos homens que ignoram a verdade. Na verdade, hoje, como naquele tempo, há uma classe de guias cegos à frente desta organização mundial (papa, cardeais, bispos, padres, etc.) que se pode comparar à que se sentava na cadeira de Moisés aos dias de Jesus, isto é, aos escribas e aos Fariseus. Sim, a comparação é apropriada porque como os escribas e os Fariseus fechavam o reino dos céus aos homens, assim também estes impedem aos seus seguidores de entrar no Reino de Deus. E depois estes dizem que Jesus deu as chaves do reino dos céus a Pedro, querendo dar a entender, que se entra no reino dos céus passando por eles porque eles têm o sucessor de Pedro com as chaves do reino dos céus! Mas nós vos dizemos que nem este e nem os que estão debaixo da sua esteira têm as chaves do reino dos céus nas suas mãos; eles têm o nome de guias, mas na realidade em vez de guiar as pessoas as extraviam porque destroem a vereda pela qual as pessoas devem passar para serem salvas dos seus pecados. São guias cegos como o eram os escribas e os Fariseus do tempo de Jesus, guias cegos que conduzem outros cegos para a perdição. Hoje ainda, para nós que conhecemos a verdade é dito pela Escritura: “Salvai-os, arrebatando-os do fogo” (Judas 23). Sim, irmãos, advirtamos os Católicos romanos anunciando-lhes o arrependimento e a remissão dos pecados em nome do Senhor Jesus, orando a Deus para que lhes deia o arrependimento para obterem a vida e escaparem assim às chamas do fogo eterno.
Nós aceitamos a unção com óleo assim como nos é ensinada pela Escritura
Nós cremos na unção com óleo administrada aos doentes que façam o pedido dela, e cremos que ungindo-os com óleo em nome de Cristo Jesus e orando sobre eles em seu nome, eles são curados da sua enfermidade. Antes de tudo esta unção deve ser administrada por parte dos anciãos a todos os doentes que a peçam; isto significa que não é só o doente em graves condições ou em fim de vida a ter o dever de chamar os anciãos da Igreja, mas qualquer doente, mesmo quem tem uma simples dor de cabeça, para dar um exemplo. Pelo que respeita ao óleo que se usa ao administrar a unção aos enfermos ele é simples óleo de oliveira (azeite), que nós não chamamos santo porque a Escritura não nos autoriza a chamá-lo desta maneira, e não foi levado para ser abençoado por nenhum ministro de Deus porque de tal benção a dar ao óleo da unção dos doentes a Escritura não fala dela. O óleo representa o Espírito Santo e nele não há nenhum poder de curar o enfermo, na realidade não é o óleo que cura o enfermo mas o Senhor (como não há na água em que é imerso o crente no batismo o poder de cancelar os pecados).
Para confirmação disto recordamos que está escrito que é a oração da fé que salvará o doente, ou seja, a oração feita com fé pelos anciãos a Deus; e que é o Senhor que o levantará. Recordamos a tal propósito que para que a cura possa verificar-se é necessária também a fé do doente; o doente não deve duvidar para receber a cura divina. Dizemos isto porque por vezes se esquece que não devem crer só os anciãos que oram sobre o enfermo, mas também o próprio enfermo. Por isso deve-se esperar que seja o enfermo a chamar os anciãos, e não vice-versa; porque é só quando o enfermo de sua espontânea vontade pede aos anciãos que se ore sobre ele que se vê uma segura manifestação de fé da sua parte. Também as palavras: “E, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tiago 5:15), são verdadeiras porque além da doença o Senhor faz desaparecer do enfermo também aqueles pecados que possam ser a causa da doença; mas elas, o repito, são dirigidas a crentes e não a incrédulos.
E depois é preciso dizer que não é a unção que perdoa os pecados, mas o Senhor; e que esta remissão dos pecados está ainda ligada ao arrependimento e à confissão dos pecados do doente porque está escrito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a iniquidade” (1 João 1:9). Queremos dizer com isto que o crente doente que pede aos anciãos para o ungirem com óleo, se cometeu pecados, deve chegar-se a Deus com um coração arrependido pelos seus pecados para obter a remissão deles, doutra forma aqueles pecados lhe serão retidos em vez de perdoados.
Fizemos este discurso para fazer compreender que a unção dos enfermos não é um acto que possui em si o poder de curar e de perdoar os pecados, e está ligada, para que dê os frutos explicados por Tiago, à fé do doente, dos anciãos, e a um sincero arrependimento do doente se este pecou. No caso depois de um crente se encontrar no leito da enfermidade e Deus decidiu levá-lo consigo para a glória porque chegou a sua hora, ele por certo será consolado pelo Senhor porque Ele é “o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação” (2 Cor. 1:3,4); será ainda o Senhor que lhe dará a força para suportar os sofrimentos e o guardará do maligno conforme está escrito: “Mas fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno” (2 Tess. 3:3). Por certo um crente não se apoia na unção com óleo para enfrentar as últimas horas da sua vida e resistir ao diabo, mas ele se apoiará na sua fé sabendo que é só pelo escudo da fé que ele poderá apagar todos os dardos inflamados do diabo (cfr. Ef. 6:16).
Para concluir; nós aceitamos a unção com óleo ordenada pelo apóstolo Tiago, mas não como ordenança instituída por Cristo porque a Escritura não nos confirma que Cristo tenha dito para fazê-la para recordar ou para significar alguma coisa já ocorrida (à diferença do batismo e da santa ceia); se devêssemos aceitá-la como ordenança instituída por Cristo só porque Tiago fala dela, deveríamos igualmente aceitar como sacramentos também o orar e o cantar louvores porque pouco antes o mesmo Tiago diz: “Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores” (Tiago 5:13).